domingo, 4 de julho de 2010

JORGE FERREIRA, Senhor de Itapema






jorge Ferreira, português de Antre Douro e Minho [detalhe de vitral à esquerda], filho de Gaspar Ferreira, nasceu em 1504 ou antes. Cavalheiro Fidalgo da Casa Real de Portugal, aportou por estas bandas no começo da década de 1530 com a Esquadra Expedicionária de Martim Afonso, participando ativamente da ocupação de terras da nossa região. Consideravam-no um nobre distinto, "homem de sangue, coração e mãos limpas". Casou-se com Joana Ramalho (filha de João Ramalho e Bartira, neta de Tibiriçá, portanto Marabá (brasilíndia) e não propriamente índia.
Transcrições dos textos de Frei Gaspar da Madre de Deus revelam que em fins de 1532, teria voltado a Portugal e retornou com mulher e filhos europeus. Daí presumir-se ter duas famílias. Uma vez que, a mestiçagem era uma das táticas de dominação do povo brasilis, ligação por parentesco. Reclamo dos jesuítas que aqui chegaram ao depararem-se com o alto grau de promiscuidade entre lusitanos e indígenas.
Registra assim o historiador Frei Gaspar:
"Este sujeito era dos primeiros da terra e dos mais nobres povoadores de S. Vicente. Estava casado com Joana Ramalho, filha de João Ramalho e neta de Martim Affonso Tibiriça, príncipe dos Guaianases, senhores da terra; era muito amigo de Christovam Monteiro, homem nobre, que depois casou com uma filha sua, e também de José Adorno, fidalgo genovês, muito rico e poderoso que veio a ser marido de uma neta sua. Todos os respeitavam muito por suas qualidades e alianças. Martim Afonso de Souza, quando cá esteve, e depois seus Loco-tenentes, haviam concedido sesmarias de terras em Guaibe a João Ramalho, Jorge Ferreira, Christovam Monteiro, José Adorno e Antonio Macedo, filho de João Ramalho, e a outros irmãos seus, cunhados do dito Ferreira; de sorte que eles, seus parentes e amigos - possuíam quase toda a Ilha, e por isso fez - com a sua autoridade - que os principais habitantes de Guaibe obedecessem ao filho de Pero Lopes."
Esteve presente, conforme Ata, à primeira reunião na Casa do Conselho (Câmara Municipal), ocasião da fundação da Vila de São Vicente (10 de Maio de 1532).
Era também conhecido como "Senhor de Itapema", onde estabeleceu sesmaria com plantações e criações por volta de 1533, motivado certamente segundo menção feita por Pero Lopes de Souza (Donatário da Capitania de Santo Amaro) em seu Diário da expedição afonsina:
"(...)A todos nos pareceu tam bem esta terra que o Capitam I. determinou de a povoar, e deu a todos los homes terra para fazerem fazendas..." - Inserindo Itapema (pertencente a Capitania Santo-amarense) na economia agrícola quinhentista, tanto mais uma década depois pela proximidade com o Porto da Vila de Santos.
DETALHE MAPA REGIÃO DE ITAPEMA NA ILHA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [JOÃO TEIXEIRA ALBERNAZ] 1631.

Jorge Ferreira também intentou uma Vila que seria sede da Capitania de Santo Amaro, do outro lado da Ilha, no ano de 1559. Onde o genovês José Adorno e sua mulher Catarina Monteiro fundaram a capela dedicada a Santo Amaro, título que passou a distinguir antes de 1557, a Ilha e a Capitania. O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen documenta a localização da Vila:
"Nesta ilha, da banda de fora, e a umas três léguas ao norte de São Vicente onde se faz uma enseada fronteira à ilha do (Pombeva), se fundou a primeira povoação com o nome de Vila de Santo Amaro." - Todavia, o povoado não prosperou, a capela ruiu e as alfaias foram entregues a Cristovão Diniz, almoxarife, em 24 de Setembro de 1576.
Levantamentos feitos por Frei Gaspar e Frei Vicente do Salvador, confirmam que teria ele iniciado "uma promoção na Ilha de Santo Amaro, a qual se extinguiu antes de ter pelourinho" (Memórias, 281, História do Brasil).
Registra o historiador Frei Gaspar:
"O mencionado Jorge Ferreira e mais habitantes principais de Guaibe, intentarão criar nela uma Vila e, com efeito, derão princípio a uma povoação, e nesta edificarão uma Capela dedicada a Santo Amaro. O título da Capela não só se comunicou à povoação, mas também à Ilha, como fica dito, e o nome desta passou às 50 léguas de Pero Lopes, as quais entrarão a chamar-se Capitania de Santo Amaro, depois que erradamente supuserão incluída nelas a Ilha do mesmo nome." - Essa povoação ou Vila de Santo [Mauro] teve duração efêmera. Na obra de Frei Gaspar há ainda este apontamento:
"Em Santo Amaro e Guaibe nunca houve Vila alguma; até a povoação de Jorge Ferreira se extingiu antes de ter Pelourinho, e subir a maior predicamento, igual foi o sucesso da primeira capela do santo abade, a qual também se arruinou totalmente e por esta razão os almoxarifados da Fazenda Real guardaram as suas alfaias, segundo consta de um Livro da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo onde vem a carga, que dela se ao almoxarife Christovão Diniz, aos 24 de Setembro de 1576."
DETALHE MAPA ASSINALA A ILHA E VILA DE SANTO AMARO, BEM COMO O FORTE DE ITAPEMA - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVI].

Recebeu Carta de Sesmaria da Ilha, passada a seu favor pelo Capitão-mor da Capitania Santo-amarense, Antonio Rodrigues de Almeida, datada em 10 de Maio de 1566. Possuía muitas terras na Ilha, e segundo menciona ainda Frei Gaspar, "opinava conforme os empregos que tinha" tendo arrogado a causa de D. Isabel de Gambôa, posteriormente da Condessa D. Mariana [Pero] de Souza Guerra, instigando a célebre questão de terras entre a Condessa de Vimieiro e o Conde de Monsanto pelas Capitanias de São Vicente e Santo Amaro.
Ata do RIHGSP, XLIV, pg 224, registra possuir casas e terras agrícolas nos arredores da região, situadas para os lados de um ribeiro que corria entre os primeiros manguezais.
Foi em propriedade pertencente a ele que construiu-se o Forte Vera Cruz de Itapema.
FORTE VERA CRUZ DE ITAPEMA - ERGUIDO EM TERRAS DE JORGE FERREIRA [LITORAL PAULISTA] 1557.

Pelos seus préstimos seria nomeado Capitão-mor e Ouvidor da Capitania de Santo Amaro (1545 a 1556, com provisão da viúva de Pero Lopes de Souza, Isabel de Gamboa e nomeado por D. Duarte da Costa) e mais tarde Capitão-mor Locotenente, Governador da Capitania de São Vicente entre 1556 e 1558 pela  primeira vez, e de 1567 a 1572 uma segunda vez.
Contribuiu com atos administrativos de concessão de sesmarias para o progresso de São Paulo de Piratininga. Em questões políticas, como a que envolveu a Câmara de Santo André conduzia a seu gosto. Todavia, resguardava direitos. Quando a Casa Foral reclamou através de Requerimento pela demora da apuração do pleito de 08 de Janeiro de 1557, este "apressou-se em reconhecê-los, alimpando a pauta, apurando a eleição feita pelos homens bons".
MAPA DE JOÃO TEIXEIRA DE ALBERNAZ [SÉCULO XVII] ILUSTRA EXTENSÃO DA CAPITANIA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA.

Resistiu ao embate com Tupinambás no Litoral Paulista unido à Diogo Braga (vivente da terra), guarneceu a Ilha de Santo Amaro ao lado de Hans Staden, capturado depois pelos indígenas. Representante das autoridades portuguesas, em 1557 reconstruiu o Forte de São Filipe (rebatizado São Luís), ordenou a construção de uma fortificação definitiva (Forte São João) em Bertioga, localidade então pertencente à Capitania de Santo Amaro. E abriu o primeiro caminho ligando São Vicente à Itanhaém.
GRAVURA REPRESENTANDO AS LUTAS ENTRE TUPINAMBÁS E TUPINIQUINS ALIADOS DOS PORTUGUESES (DENTRE ELES, JORGE FERREIRA) NA REGIÃO DA CAPITANIA DE SANTO AMARO [SÉCULO XVI].
A ILHA DE SANTO AMARO E LOCALIDADES DO LITORAL PAULISTA COMO PALCO DE BATALHAS ENVOLVENDO TUPINIQUINS MAIS TUPINAMBÁS E COLONIZADORES LUSITANOS [HANS STADEN] SÉCULO XVI.

Consta ser pai do mameluco (de mesmo nome seu) canibalizado pelos Tupinambás, conforme relato de Hans Staden, prisioneiro por oito meses dos Tamoios, no ano de 1554, sobre a batalha ocorrida próximo de Boissucanga envolvendo Tupiniquins, Tupinambás e mamelucos do Litoral Paulista:
GRAVURA ESTAMPA A BATALHA DE BOISSUCANGA NA QUAL O FILHO DE JORGE FERREIRA FOI CAPTURADO PELOS TAMOIOS, NOS LIMITES DA CAPITANIA DE SANTO AMARO [HANS STADEN] SÉCULO XVI.

Vinham os guerreiros Tamoios, depois de pernoitar em São Sebastião (Maembipe), rumo à Buriquióca (Bertioga) quando deram com os Tupiniquins e mamelucos...  
"(...)Quiseram ainda assim [os Tupinambás] esconder-se com as suas canôas por detráz de um rochedo, para que os outros passassem sem os ver, mais foi debalde, viram-nos e fugiram para a sua terra. Remámos com toda força atráz delles, talvez umas quatro horas, e os alcançamos. Eram cinco canôas cheias... (...)Conhecí-os todos. Vinham seis mamelucos em uma dessas canôas... (...)Resistiram na sua canôa, durante duas horas, a trinta e tantas canôas nossas. Acabadas as suas flechas, os Tupin Inba os atacaram e os aprisionaram..." - De retorno a Maembipe. "(...)Levaram então os prisioneiros, cada um, para sua cabana; mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortaram-nos em pedaços e assaram a carne..." - Entre os que foram devorados de noite, "um era portuguez, filho de um capitão e se chamava George Ferrero (Jorge Ferreira)", feito cativo pelo índio Tatamiri. Hans Staden em conversas com prisioneiros revelou, "tinha visto já comerem um pedaço do filho de Ferrero". Como era de costume deles reuniam-se muitos para beber, cantar e folgar. A festa durava noites inteiras. Na manhã seguinte, depois de muito beberem, aqueciam a carne defumada e a comiam.
GRAVURA REPRESENTA A CAPTURA DE GEORGE FERRERO E O BANQUETE CANIBAL PREPARADO PELOS TAMOIOS EM MAEMBIPE [HANS STADEN] SÉCULO XVI.

[o monstro marinho Ipupiara morto por Baltasar Ferreira.]

Outro filho seu foi o Capitão e Lugar-tenente Baltazar Ferreira que matou um suposto "monstro marinho", o Hipupiara em águas vicentinas. Frei Vicente do Salvador, capítulo décimo, do livro I, 'História do Brasil', relata que no ano de 1564, em São Vicente o mancebo herói Baltasar Ferreira, filho dum militar, matou na praia a golpes de espada, uma temível criatura marinha de 15 palmos de comprimento.
Pai também de Belchior Ferreira, teve quatro filhas mais: Catharina Ramalho Ferreira, Joanna Ferreira, Vitória de Sá Ferreira e a Marquesa Ramalho Ferreira.
De acordo com as anotações de Ricardo Costa de Oliveira, Jorge Ferreira destacou-se nos conflitos contra os Tamoios (Tupinambás) na região. Em 1565 foi um dos chefes das canoas de guerra que partiram de Bertioga com destino ao Rio de Janeiro para participar do esforço de guerra contra os Tamoios, com a vitória é considerado um dos fundadores de São Sebastião do Rio de Janeiro (1567). Tomou parte ainda na última ofensiva contra os Tupinambás remanescentes em Cabo Frio, no ano de 1575.
JORGE FERREIRA PARTE DE BURIQUIÓCA COM ESTÁCIO DE SÁ, LEVANDO COMBATENTES RUMO A GUANABARA PARA LUTAR CONTRA OS INDÍGENAS TAMOIOS [BENEDITO CALIXTO].

Em 1573 recebera sesmaria no Rio de Janeiro para onde mudou-se com a família. Faleceu em idade avançada em 1591.

[à esquerda escudo da Família Ferreira.]

No ano de 1617, através de Escritura, o Capitão Manoel Antunes vendeu as terras que lhe pertenciam na Ilha de Santo Amaro à Francisco Nunes Cubas.

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