__________ Itapema, suas histórias... __________

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A NEGRITUDE DA ILHA

BUSTO ZUMBI DOS PALMARES, PRAIA DA ENSEADA DE SANTO AMARO/SP [DEC. 1960].

A presença negra na Ilha de Santo Amaro, segundo evidências remonta ao século XVIII. Como em todo o Brasil foram trazidos da África para o trabalho pesado das lavouras, extração em jazidas de ouro e pedras preciosas, dentre outras atividades extenuantes. Contudo, contribuíram primordialmente para a formação do povo e da cultura nacional brasileira. Através da miscigenação, culinária, música, esporte, dança, religião etc.
Ainda no século XVII, camaristas da Vila de S. Vicente escrevem em documento, de Junho de 1621, dirigindo-se a Martin Corrêa de Sá sobre a necessidade de mão-de-obra escrava para as sesmarias da região:
"(...)Juntamente mandamos a V. S. o auto da posse traslado, foral e aviso sobre o regimento de Ouvidor; advertindo demais a V. S. o bem que se poderá alcançar de El- rei, em uma provisão para os negros que de Angola vierem em esta Capitania, a fim de se pagarem os direitos deles em açúcar e fazendas da terra, como passou na Vila do Espírito Santo; para que vá em mais aumento da terra, e acudam a ela escravos, pela muita mortandade que houve do gentio; pois se impede agora o ir buscá-los ao sertão, e não havendo gentio, totalmente se acabará de perder esta terra..."
MAPA DE 1719 - ILHA (CAPITANIA) DE SANTO AMARO AO CENTRO, ASSINALANDO ALGUMAS POSSES E CONSTRUÇÕES.

Foi a Ilha santo-amarense ativo entreposto de escravos, entre os séculos XVIII e XIX. Consta que neste período o número de escravos negros seria maior do que o de colonos livres. Valêncio Teixeira Leomil, proprietário de terras na região norte da Ilha, era traficante de escravos e mantinha grande número de negros cativos na Fazenda Perequê, conhecida pela Capela dos Escravos erguida no século XVIII.
A FAZENDA PEREQUÊ  UTILIZAVA ESCRAVOS EM SUA PRODUÇÃO AGRÍCOLA - ILHA DE SANTO AMARO/SP.
A CAPELA DOS ESCRAVOS NA SEDE DA FAZENDA PEREQUÊ - ILHA DE SANTO AMARO/SP [DÉCADA DE 1960].

Outro que também valia-se da mão-de-obra escrava foi João Teixeira Chaves, contando com 63 cativos para a produção do Engenho dos Chaves, enorme latifúndio estendendo-se do Rio Bertioga até o Morro Santo Amaro, além das várzeas da Praia da Enseada e grande parte de Pitangueiras.
O Censo da Capitania de S. Paulo no ano de de 1772 identifica ainda prosperarem na Ilha de Santo Amaro, Engenhos de açúcar em que começavam a trabalhar pretos africanos chegados para substituir os índios, raros já, os quais não podiam ser escravos.
A mão-de-obra negreira explorada diversamente. As instalações da Armação de Baleias, existente no "rabo do dragão" da Ilha santo-amarense, consistiam numa casa de sobrado, armazém, tanques de azeite, casa do engenho, três casas para amarras e barcos, casas dos feitores, casa dos baleeiros, trinta senzalas para escravos negros e cais de pedra.






Devido a proibição ao tráfico, os navios negreiros burlavam a fiscalização Alfandegária do Porto de Santos desembarcando as "peças da África", na Praia da Enseada de Santo Amaro. Os negros ficavam alojados em barracões, vendidos, dali  eram enviados ao interior do Estado de São Paulo clandestinamente. Também provendo as necessidades dos Engenhos locais. Por décadas, ruínas e vestígios subsistentes destes depósitos do tráfico negreiro permaneceram nas imediações das areias da Praia da Enseada - conforme anotações da pesquisadora Baronesa Esther Sant'Anna de Almeida Karwinsky.
DETALHE MAPA ONDE SE VISUALIZA REGIÃO DE ANTIGOS LATIFÚNDIOS NA ILHA (CAPITANIA) DE SANTO AMARO/SP.

Aviso Régio de 21 de Outubro de 1817, republicado 60 anos depois na Revista Nacional de Sciências, Artes e Letras (1877) descreve denominações, extensões, senhorios, títulos de terras da região da Ilha de Santo Amaro. Bem como, um apanhado do contingente negro por estas bandas:
"Morrinho - Cinquenta braças de testada e trezentos de fundo, até o cume mais alto, parte de um lado com terras do Estaleiro e de outro com terras de Manoel Rodrigues; pertencente ao Capitão-mor João Baptista da Silva Ramos por título de compra; estão arrendadas para a Feitoria da Casca de Mangue para curtume, e são cultivadas por dois escravos.
LABUTA NO CANAVIAL, COTIDIANO SIMILAR AS LAVOURAS DA ILHA SANTO- AMARENSE.

Crumahú - Mil braças de testada e quatrocentos e cinquenta de fundo até o pico do morro, parte de um lado com terras do Emboaba, e de outro com terras do Capitão Manoel Alvarenga Braga, é patrimônio da Capela de Nossa Senhora da Apresentação, ereta no mesmo sítio do qual é administrador o Tenente-Coronel José Vicente de Oliveira, parente dos intuitores, cultivada por Pedro Francisco da Costa, com seis escravos, por concessão do Administrador
S. João do Crumahú - Quinhentas braças de testada, e trezentos de fundo até o pico do morro, parte de um lado com terras de Nossa Senhora da Apresentação, e de outro com terras de João Antonio de Souza, pertencente ao Capitão Manoel Alvarenga Braga, por título de compra, e cultiva com dezoito escravos.
ENGENHO DE AÇÚCAR SIMILAR AOS HAVIDOS EM ITAPEMA/SP E OUTRAS REGIÕES DA ILHA DE SANTO AMARO.

Caxueira de Santo Amaro - Quatrocentas braças de testada e trezentos de fundo, parte de um lado com terras de José da Silva Santos, e de outro com terras de D. Maria Barboza da Silva, pertencente a D. Maria Rosa de Oliveira, por título de herança, e cultiva com onze escravos.
Porto de Santo Amaro - Trezentas braças de testada, e duzentas de fundo, parte de um lado com terras de D. Maria Rosa de Oliveira, e de outro com terras da Glória; pertencente a D. Maria Barboza da Silva por título de compra, e cultiva com nove escravos.
Porto de Guaibê - Quarenta braças de testada, e trezentas de fundo, até o pico do morro, parte de um lado com terras da Olaria, e de outro com terras de Theodoro de Menezes Forjaz, pertencente a D. Rosa Maria Leite, por título de compra, e cultiva com nove escravos.
MOENDA RÚSTICA MOVIDA POR TRAÇÃO ANIMAL, SIMILAR AS USADAS NOS ENGENHOS DA ILHA DE SANTO AMARO/SP.
RANCHO DO ENGENHO DE AÇÚCAR SIMILAR AOS CONSTRUÍDOS EM REGIÕES DA ILHA DE SANTO AMARO.

Conceição - Duas mil e duzentas braças de testada e duas mil de fundo, parte de um lado com o Rio chamado Santo Amaro e terras de D. Maria Rosa de Oliveira, e de outro com terras do Itapema; pertencente ao Dr. Médico Joaquim José Freire, por título de arrematação de bens dos extintos Jesuítas, cultiva com cinco escravos e cinco moradores com suas famílias que trabalham gratuitamente.
Itapema - Oitocentas braças de testada, e mil de fundo, parte de um lado com terras da Conceição e de outro com o Rio Acarahy e terra do Convento do Carmo; pertencente uma parte a Alexandre Dias, por título de herança, cultiva com oito escravos.
Acarahy - Três mil braças de testada, e outro tanto de fundo, parte de um lado com o Rio Acarahy, e D. Maria Rosa de Oliveira, e com terras de Itapema, e de outro com terras do Sítio Maratão-há; pertencente ao Convento do Carmo por título de doação e cultiva com cinco escravos.
PREPARO RUDIMENTAR DE AÇÚCAR E RAPADURA, SIMILAR AO PROCESSO UTILIZADO NOS ENGENHOS DA ILHA DE SANTO AMARO.

Maratão-há - Trezentas braças de testada e quinhentas de fundo, parte de um lado com o Rio chamado Maratão-há, e de outro com outro rio que vai para o Sítio do Sacco, os fundos parte com terras do Convento do Carmo, e do dito Saco; pertencente ao Capitão Manoel Alvarenga Braga por título de compra e cultiva com cinco escravos."
Nestas anotações contabilizamos o número de 79 escravos.
Como vimos acima, fato é que as Ordens religiosas utilizavam-se do trabalho escravo empregando negros em suas Fazendas e Sítios do Itapema e no restante da Ilha de Santo Amaro. Sejam Jesuítas ou padres Carmelitas da Ordem Terceira do Carmo (Fazenda Conceição e Sítios do Convento da Paciência). Mesmo os Jesuítas da Companhia de Jesus que defendiam a Liberdade dos nativos indígenas, admitiam a escravidão do africano. Pedindo à Coroa Portuguesa, negros da Guiné para seus serviços tal qual fez Manuel da Nóbrega em carta.
Os escravizados das Fazendas de Cana-de-Açúcar, da Ilha Santo-amarense, onde também produzia-se água-ardente, estavam sujeitos à rigorosa disciplina a fim de não se acostumarem com o vício pela pinga.
SERRAR MADEIRA UMA DA MUITAS TAREFAS DESTINADAS AOS ESCRAVOS NEGROS.

Censo de 1822, ano inaugural do Império Brasileiro de D. Pedro I, em Lista Geral dos habitantes existentes, suas ocupações, condições, empregos, abrangendo Itapema até as cercanias da Praia de Guarujá, registra a presença de negros escravos e possivelmente alforriados. Vivendo da lavoura, pesca, da faina marítima, dos serviços domésticos. Nomina dentre brancos e miscigenados, os habitantes negros circunscritos a esta região da Ilha de Santo Amaro:
Anota 4 escravos (não identificados) em propriedade de Senhor branco, casado, 42 anos - Embarcadiço. Outros 2 escravos (sem identificação), trabalhando numa lavoura de Senhor branco. viúvo, 76 anos...
"Agregados:
Rosa (mulher do dito), parda, casada, 30 anos.
Polyxena, parda, solteira, 20 anos.
Francisco, pardo. solteiro, 4 anos." - Vívido retrato da formação do Povo Brasileiro.
"(...)4) Joaquim Mexêdo, negro, casado, 52 anos - Vive da lavoura.
Rita (sua mulher), parda, casada, 32 anos.
Tem 1 escravo agregado.
5) Maria Francisca, parda, solteira, 42 anos - Rendeira.
Rita Maria (sua irmã), parda, solteira, 45 anos.
Ignacio (irmão), pardo, solteiro, 30 anos.
Maria (filha deste), parda, solteira, 1 ano.
Agregados:
Seraphim, negro, solteiro, 48 anos.
Ivo, pardo, solteiro, 30 anos.
NEGROS DESEMBARCAM TELHAS, FAINA COMUM DOS AFRICANOS ESCRAVIZADOS NO BRASIL [MEADOS SEC. XIX].

6) Raphael da Motta, pardo, casado, 80 anos - Pescador.
Anastácia (sua mulher), parda, casada, 58 anos.
7) Gaspar Martins, negro, casado, 45 anos - Vive de lavoura.
Catharina (sua mulher), negra, casada, 32 anos." - Na família de um pescador branco, casado, 52 anos, identifica...
"(...)Gertudres (sua mulher), parda, casada, 30 anos.
Filha: Felibina, parda, solteira, 8 anos."
Fornecendo informações das estruturas familiares, suas interações profissionais e sociais no modesto arrabalde santo-amarense.
"(...)9) José Ignacio, negro, casado, 50 anos - Vive da lavoura.
Monica (sua mulher), parda, casada, 30 anos.
Filhos:
Generosa, parda, solteira, 8 anos.
Antonio, pardo, solteiro, 7 anos.
Adilindes, pardo, solteiro, 5 anos.
José, pardo, solteiro, 3 anos.
Agregado:
Cláudio de Oliveira, pardo, solteiro, 50 anos.
Tem 2 escravos."
Os levantamentos no Distrito apontam 9 escravos, 5 negros e 19 consignados como pardos.

Relato sui generis acontecido num dos Sítios da Ilha de Santo Amaro revela a condição vivida por um desses escravos:
Em 1833 no Sítio denominado Porto, pertencente então ao espólio de D. Rosa Maria Leite, estava uma escrava de nome Luzia a plantar ramas de mandioca em uma roça, quando viu aproximar-se dali um cavalo tentou desde logo enxotá-lo. Mas aconteceu dar-lhe o animal um coice na barriga e ficar enferma a referida escrava.
Contra a introdução desmedida, sem controle, de gado vacum e cavalar no aludido Sítio, os quais só serviam para destruir as plantações, os arvoredos, e para causar prejuízos como esse do ferimento da escrava, protestou judicialmente Joaquim José Lopes, sendo testamenteiro e inventariante de D. Rosa Maria, contra o herdeiro depositário do imóvel - José Marques Leite.
Tendo designado Médico de sua confiança, o Sr. José Maria da Costa e Paiva, para avaliar. Procurou este mostrar que a doença da Escrava não resultara do coice recebido, mas que já sofria ela de uma moléstia crônica, que se agravara por outros motivos. Disso, a prova mais concludente que o depositário pode oferecer está no seguinte Atestado:
"Eu abaixo assinado atesto que, no dia 24 de Outubro do presente ano, fui chamado para ver na qualidade de Professor, a preta Luzia, de nação Conga, a qual encontrei com uma inflamação no estômago, intestino, duodeno e fígado; tendo feito a análise médica necessária, conheci com evidência que esta inflamação existia no estado crônico desde longo tempo, e que no estado atual não fez mais do que exacerbar-se, por infração do regime que devia conservar, atendendo sempre ao seu estado. Eu lhe apliquei os socorros que a arte aconselha em semelhantes casos, os quais aproveitaram, e se acha restabelecida,
Contudo, não assevero que deixará de ser de novo insultada do mesmo ataque se for excessiva em tabaco ou gula. Passo o referido na verdade, e o juro aos santos Evangelhos.

                                                  José Maria da Costa e Paiva."

A escrava Luzia era casada, contava 50 anos de idade, e tinha sido avaliada no inventário por 100$000. Os honorários médicos cobrados pelo seu tratamento andaram em 16$000, conforme nos mostra este Recibo:
"Recebi do Sr. José Marques Leite a quantia  de Dezesseis Mil Réis, pelo curativo que fiz, na qualidade do Professor, à preta Luzia, Conga.

                                     Santos, 12 de Dezembro de 1833.

                                                  José Maria da Costa e Paiva."

PROPRIETÁRIA DE TERRAS NA ILHA DE SANTO AMARO E UM SEU FUNCIONÁRIO NEGRO - INÍCIO DO SÉC. XX.

Vejamos algumas Estrelas que brilham na Constelação Negra desta nossa Ilha de Santo Amaro:

Representante ilustre da negritude Benedito Martins das Neves [imagem à esquerda], santista de origem, mas santo-amarense por adoção, nascido em 02 de Agosto de 1944, filho de Geraldina Aparecida de Jesus e João Martins das Neves, logo cedo começou a trabalhar ajudando a família no sustento. Serviu o Exército Brasileiro, período da juventude em que iniciou sua dedicação ao Samba.
Benê da Rosalina, como era conhecido, começou a sua trajetória no Carnaval participando do Bloco 'Batutas da Voturuá', em São Vicente/SP, desfilou pelo tradicional Rancho Carnavalesco 'Chineses do Mercado' (Santos/SP) e o saudoso Rancho 'Sonhadores do Itapema'.
Em 1972, passou a frequentar a recém-formada Escola de Samba 'Mocidade Amazonense', sediada no Distrito. Dois anos depois (1974), fez seu primeiro desfile pela querida "Verde e Branco" da Ilha. Integrou a Ala de Compositores da G.R.C.E.S. 'Mocidade Amazonense', parceiro requisitado de muitos Bambas que fizeram história.
ENTRE OS COMPOSITORES DA 'MOCIDADE AMAZONENSE', BENÊ DA ROSALINA.

Benê foi um dos compositores do Samba-Enredo de maior sucesso da Agremiação Carnavalesca, "Viagem Encantada ao Paraíso das Flores", concorrente do Carnaval de 1981. Em um desfile memorável, a 'Mocidade Amazonense' entrou de vez na Elite do Samba. Este Samba-Enredo ainda ganhou outros prêmios como o melhor Samba da Baixada Paulista, em Festival do gênero no Ilha Porchat Clube. Cantado numas tantas Quadras das Escolas de Samba do Brasil.
BENÊ DA ROSALINA NA AVENIDA DO SAMBA - ITAPEMA/SP.

No ano de 1986, o Sambista assumiu a Presidência da Escola, que acumulava muitas dívidas com os proprietários do terreno, onde ficava a sua Sede e junto ao comércio que fornecera material para as obras de construção e cobertura da Quadra de ensaios. Diante do problema. e com o desfile da 'Mocidade Amazonense' comprometido, num misto de determinação e loucura, Benê da Rosalina penhorou sua própria residência para saldar as contas da Escola de Samba e garantir o Carnaval.
Benê teria ainda outros feitos no mundo do Samba como a composição do Samba-Enredo, que deu o primeiro Campeonato do Carnaval Metropolitano à 'Mocidade Amazonense' ("Feitiço da Ilha"), com o Enredo "Dias Gomes: A Epopéia do Teatro Nacional".
BENÊ DA ROSALINA NUM PROGRAMA DE TV, RECONHECIMENTO DE SUA ARTE.

Em 2004, fundou e foi Presidente da Liga das Entidades Carnavalescas da Ilha de Santo Amaro (Liecisa), que resgatou o Carnaval no município. Retomando os Desfiles das Escolas de Samba, interrompido pela Prefeitura.
No ano de 2009, seria escolhido Cidadão-Samba do Carnaval santo-amarense. Uma honraria pela significativa contribuição à Cultura.
Em uma de suas entrevistas, o Sambista reafirmou:
"Depois da minha família, o samba é minha maior paixão."
Benê da Rosalina faleceu num sábado, dia 22/06/2012, aos 67 anos.
PASSISTAS DA ESCOLA DE SAMBA EVOLUEM NA AVENIDA [MOCIDADE AMAZONENSE] - DÉCADA DE 1970 ITAPEMA/SP.
O SAMBA NO PÉ DOS PASSISTAS AGREMIAÇÃO CARNAVALESCA -  CARNAVAL DA ILHA DE SANTO AMARO MEADOS DE 1970 [ITAPEMA/SP].
TRADIÇÃO DO CARNAVAL DA ILHA DE SANTO AMARO/SP - ESCOLA DE SAMBA 'MOCIDADE SÃO MIGUEL' (2013).
ESCOLA DE SAMBA 'VEM QUE É DEZ' ENALTECE A CULTURA (2013) - ITAPEMA/SP.
TÍPICA RODA DE SAMBA EM ITAPEMA/SP.


Destacamos agora neste Panteão de personalidades, Marlene Maria dos Reis Rodrigues [imagem ao lado]. Filha de mãe brasileira e pai inglês, sua vida foi repleta de mudanças. Rio de Janeiro até os 13 anos de idade, Estados Unidos da América (USA) até os seus 18 anos.
Num período difícil da Humanidade, Dona Marlene (como a chamavam) prestou Serviço como Enfermeira em um Navio-Hospital Aliado no decorrer da 2ª Guerra Mundial.
Durante onze anos foi Enfermeira e Intérprete, mas de retorno ao Brasil seria presa em Recife ao desembarcar, acusada de espionagem. Não recebendo tratamento de Brasileira por ser filha de estrangeiro. Chegou a ser torturada, entretanto libertada por falta de provas.
Morou no Bairro Vila Zilda. Constituiu família, fez muitos amigos, que lhe valeu receber a doação da casa onde morava de benfeitores ingleses. Num dos cômodos da residência mantinha, cadeiras e uma pequena lousa, na qual ministrava aulas de Língua Inglesa para as crianças da comunidade.
MARLENE MARIA DOS REIS RODRIGUES NUM DOS SEUS MUITOS MOMENTOS DE ENCANTAMENTO.

Participante ativa de várias Entidades, integrou a Associação de Mulheres 'Carolina Maria de Jesus', quando num dos eventos protagonizou a Peça Teatral 'Retrato em Preto e Branco', adaptação para o livro 'Diário de Bitita', de Carolina Maria de Jesus. Dirigida por Urbain G. (1990). Cuja apresentação contou com a presença da filha desta batalhadora escritora negra. 
Participou de número musical, cantando um Blues, no Espetáculo Teatral do Grupo TECUISA - Teatro e Cultura da Ilha de Santo Amaro, direção de Ferreira Sampaio.
A partir de 2005, a Câmara Municipal com o Decreto Legislativo nº 905, homenageia as Mulheres da Sociedade, instituindo o Prêmio  de reconhecimento que leva o seu nome.
O ESPLENDOR DA NEGRITUDE FEMININA NO CARNAVAL.
A GRACIOSIDADE MALEMOLENTE DA MULHER NEGRA.
A BELEZA AFRO-BRASILEIRA DO HOMEM NEGRO.


Na vertente religiosa da cultura afro-brasileira, evidencia-se a figura de Pai Bobó de Iansã (Babalorixá do Candomblé "Ilê Olóya"), seu verdadeiro nome era José Bispo dos Santos [imagem ao lado], filho de africanos da Nação Ketu, nascido em Salvador/Ba. Há divergências quanto a data do seu nascimento. Alguns apontam que foi em 1914. Outros, em 6 de Outubro de 1915.
Foi inserido na Religião ainda menino, aos 4 anos de idade. Sua mãe inclusive decidiu por se iniciar também neste período. E como Pai Bobó ainda era amamentado no peito, seria iniciado como "feito de santo", ou seja, um iniciante na Religião independente da idade.
Nesta época devido ao conservadorismo, no Estado baiano, os homens do Candomblé não podiam usar saias ou enfeites, pois havia o preconceito de homens dançarem em "Rodas" (Gira), somente quando um Orixá incorpora. Daí eles apenas observavam.
Já rapaz, Pai Bobó conheceu uma grande Yalorixá, a Dona (Mãe) Cotinha de Ewa. Um dia, ele foi chamado a participar de uma festa a convite desta Yalorixá. Assim, Pai Bobó tomou obrigação com ela. Eis que Iansã incorporou nele, consagrado-o. Na Casa de Oxumaré fez fiéis amigas, Mãe Simplícia de Ogum e a filha dela, Mãe Nilzete de Iemanjá.
PAI BOBÓ FUNDADOR DO PRIMEIRO CANDOMBLÉ EM ITAPEMA/SP.

Seus primeiros Iaôs - palavra de origem Yorubá, que é denominação dos Filhos-de-Santo já iniciados na Feitura de Santo, os quais não completaram o período de 7 anos, aconteceram em Salvador, num "Terreiro" chamado Beru, que era casa de seu amigo, o Senhor Rufino quando tirou os "Filhos", Ogan Maurício de Xangô e duas Filhas-de-Santo chamadas Mãe Tidinha de Iansã e Mãe Filhinha D'Oxóssi.
No ano de 1950 o Babalorixá veio sozinho da Bahia, inicialmente para a cidade do Rio de Janeiro, onde estabeleceu-se alguns anos. Então depois para a Baixada Paulista. A principal responsável pela vinda de Pai Bobó para Itapema/SP, foi a amiga Francisca Maria de Jesus, a Yalorixá Menakenãn. No "Terreiro" desta Yalorixá, em Santos/SP, Pai Bobó de Iansã tirou alguns Iaôs.
Quando chegou ao Itapema, Pai Bobó tinha pouco mais de 40 anos de idade. Em 1957 fundou o primeiro Centro de Candomblé do Distrito itapemense, na Rua Capitão Lessa, esquina com a Rua Barão do Rio Branco (antiga Rua Oito) com o título de 'Centro Espírita de Umbanda Ogum das Matas'. Por conta de problemas políticos e discriminatórios da época, o local acabou sendo registrado desta forma. Um dos iniciais "Terreiros" de Candomblé do Estado de São Paulo. Os primeiros atabaques que bateram o Candomblé inaugural em Itapema, foram presentes do Pai baiano Waldemiro de Xangô, o qual fundou um importante "Terreiro" no Rio de Janeiro, na década de 1940.
 ATUAL "TERREIRO" DE PAI BOBÓ DE IANSÃ [ITAPEMA/SP].

No ano de 1959, o "Terreiro" passou à Rua Júlio Inácio de Freitas Nº 5, local em que mais tarde fundou-se o Santuário "Fazendinha"
Em 1977, mudaria para a Rua Projetada Caic 63, casa 4. Atualmente esta via tem o nome de Rua Argemiro Genuíno da Silva, 60 - Bairro Pae Cará, onde o Centro ainda funciona. Ali são celebradas as seguintes festas: de Oxalá, de Ogum, Festa do Olubagé, de Mãe Iansã e das Iabás (Santas Mulheres).
Pai Bobó de Iansã é considerado um ícone do Candomblé do Estado de São Paulo, pelo seu pioneirismo, por difundir a Religião afro-brasileira na Região Sudeste do país. Mil e tantos "Filhos feitos" por ele durante sua trajetória estão hoje espalhados por várias cidades de São Paulo e de outros Estados. Era um homem bom, que ajudava muito seus filhos. Bastante simples e humilde, sendo bem generoso.
O Babalorixá morreu em Itapema/SP, no dia 1º de Julho de 1993. Compareceram para o seu sepultamento (Cemitério Distrital da Consolação) diversos Filhos-de-Santo seus de todo o país.
PRATICANTES DE UMBANDA CULTO AFRO-BRASILEIRO [ITAPEMA/SP].
ANTIGO "TERREIRO" DE CULTO AFRO-BRASILEIRO EM ITAPEMA/SP.


Alberto José de Freitas [imagem à direita], tido e havido nas Rodas de Capoeira como Mestre Sombrinha, nasceu em 24 de Agosto de 1947, no município baiano de Itajuípe. Aos 12 anos de idade chegou com os pais à Baixada Paulista, num primeiro momento para a cidade de Cubatão/SP. Em 1965, mudou-se para a Ilha de Santo Amaro, completados os seus 18 anos.
Ainda na juventude tomou gosto pela Arte Marcial da Capoeira. Acompanhada musicalmente de Berimbau, atabaques, pandeiro, palmas, entremeada por cantigas populares ditando o ritmo da luta...
"Que navio é esse
que chegou agora
é o navio negreiro
com os escravos de Angola
vem gente de Cambinda
Benguela e Luanda
que vinham acorrentados
pra trabalhar nessas bandas..."
(...)
"Vento balançou a palha do coqueiro
Vento balançou a palha do coqueiro
Coco que tava maduro
Despencou caiu primeiro
Coco que tava maduro
Despencou caiu primeiro
Lá na praia tem coqueiro
Quem plantou foi Iemanjá
Se o coco tiver maduro
O vento vai derrubar..." - Mistura de dança, ginga e combate, que os negros escravos usavam pra se defender na vida, os ditames do Senhor.
AO CENTRO MESTRE SOMBRINHA TOCANDO BERIMBAU NA RODA DE CAPOEIRA.

O capoeirista Mestre Sombrinha sempre foi uma voz ativa das reivindicações da comunidade negra. Preservando através do esporte o conhecimento da cultura afro-brasileira. Ao realizar trabalho de grande relevância em nosso município difundindo a arte da Capoeira.
A Associação de Capoeira 'Grupo Senzala', com Sede na Rua Antonio Monteiro da Cruz, 508 - Bairro Monteiro da Cruz, no Itapema/SP, fundada por ele em 29/06/1980, é responsável pela formação de muitos praticantes da Capoeira (crianças, jovens e adultos) na Ilha de Santo Amaro e Baixada Paulista. Bem como iniciação de outros Mestres deste esporte, ministrando aulas em suas próprias Academias.
SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA 'GRUPO SENZALA' EM ITAPEMA/SP.
EMBLEMA DA ASSOCIAÇÃO DE CAPOEIRA 'GRUPO SENZALA' - ITAPEMA/SP.

Anualmente, Mestre Sombrinha promove o Batismo de Capoeira do 'Grupo Senzala' (graduação, entrega de cordões) formando atletas, sobretudo cidadãos disciplinados e conscientes. Confraternizado-se com diversas Academias co-irmãs, Mestres convidados e praticantes do esporte de outras cidades do Litoral Paulista e do Estado de São Paulo, jogando Capoeira na Roda horas a fio.
"A importância do trabalho é conscientizar o aluno sobre a cultura brasileira, dando destaque como nossos antepassados chegaram ao Brasil, como sobreviveram e chegamos aos dias atuais. O Movimento de Capoeira é uma tradição social brasileira." - Pondera o Capoeirista em entrevista do dia 23/08/2011.
BATISMO DE CAPOEIRA DO 'GRUPO SENZALA'.

Durante o 46º Jogos Regionais de São Paulo (2002), acontecido no município de Caieiras/SP, os Atletas liderados por Mestre Sombrinha (Grupo Senzala) conseguiram o 2º Lugar na colocação por equipes. Ao conquistar Medalha de Ouro, com o Capoeirista Elissandro Antonio da Silva (Neco). Enquanto Jorge Luís Pereira dos Santos ganhou a Medalha de Bronze, ajudando a cidade a garantir a Vice colocação geral da modalidade. O que reforça a tradição presente da Capoeira na Ilha santo-amarense.
Já sexagenário, casado, pai de três filhos, Mestre Sombrinha nada diz sobre aposentadoria, segue ensinando Capoeira até as pernas aguentarem.
NEGROS JOGAM CAPOEIRA INÍCIO DÉCADA DE 1820.


A história de Olinda Sales de Abreu seria igual à de muitas outras mulheres, se ela não fosse uma Artista nata e altamente intuitiva. Contrariando os comuns destinos mitigados à existência. As dificuldades e agruras do mundo sempre fizeram parte da vida da Escultora Olinda Sales [imagem à esquerda].
Aos 10 anos, saiu descalça e com poucas roupas, de Taiaçu (cidade do interior de São Paulo) acompanhada da mãe e cinco irmãos. Vindo em busca de um destino melhor na Capital Paulista. Ainda naquele momento precário, a menina Olinda sequer imaginava ser Escultora. Entretanto, apesar de todos os revezes, sempre sonhou em ser alguém, mas devido sua condição social só era conhecida como a menina pobre da escola. Embora se achasse muito criativa.
Contudo, nem mesmo Olinda Sales sabia precisar como a Escultura surgiu em sua vida, pois definia seu trabalho como "um dom natural".
"(...)o barro tem muito a ver com a minha vida. Nasci e morei até os 10 anos em casa de barro (taipa de pilão). Adoro o barro. Ele é minha terapia. E através dele faço figuras sempre miseráveis, pobres, , com traços de negros..." - Explicava ela  em entrevista ao jornal santista 'A Tribuna'.
Numa tentativa de sondar a origem de tão singular talento, indagavam os repórteres uma possível resposta:
"(...)Quando cheguei na cidade grande fui trabalhar como pajem e utilizava massas de modelar para criar casinhas e bonecas. Não tenho estudo, só estudei a primeira série do primário, duas vezes, aí desisti de vez..." - Dizia ela ao jornal '1ª Hora', de Guarujá.
NEGROS ESCRAVOS, SANTOS, POVOAM A OBRA DE OLINDA SALES.

No final da década de 1960 erradica-se em Itapema/SP, na Ilha de Santo Amaro. Em 1969, viúva e com três filhos para sustentar Olinda Sales desperta sua emblemática vocação artística: esculpir, moldar no barro a alma das pessoas sofridas feito ela. Quando decide participar da 28ª Exposição Coletiva, promovida pela Associação Paulista de Belas Artes ao criar sua primeira obra em argila. Sendo agraciada com Menção Honrosa pela escultura, "Cristo coroado com arame farpado", causando excelente impressão.
Olinda Sales enfrentava muitas dificuldades para poder realizar seu trabalho artístico. Sem meios para sustentar a sua própria Arte, continuou a trabalhar como empregada doméstica.
No ano de 1975 frequenta o Atelier de Escultura do Profº Emanuel Leon, na cidade de Santos, sem contudo se prender à normas técnicas, mas desenvolvendo a sua tendência natural. Mantém contato com outros Artistas enriquecendo-lhe o processo criativo.
Não há simplismo ao avaliar que a Arte de Olinda Sales é influenciada sobretudo pela sua condição social. Autodidata, sempre se inspirou no sofrimento humano para criar esculturas, retratando a simplicidade, a fé, a opressão, crenças e a penúria do povo. Molda anjos, santos (notadamente São Francisco), Cristos, escravos, mães, vendedores, malandros, trabalhadores, retirantes, crianças de rua, mulheres por parir, negros no açoite, este é o universo representado na arte da Escultora.
A CRUEZA DA VIDA NAS ESCULTURAS DE OLINDA SALES.

Seu estilo rústico, expressionista, impregnado nas suas Esculturas, seja pela carga emocional aparente das figuras, quanto pelo exagero das formas e feições, a Escultora consegue representar em suas peças a Cultura Brasileira, as mazelas sociais e também a condição histórica do negro no Brasil.
A primeira Exposição Individual de Olinda Sales aconteceu em 1976, na Galeria de Arte do Caiçara Clube, na cidade de Santos/SP, sendo muito bem recebida pela crítica. Logo após, Mostra na Associação Banco do Brasil (AABB), 30 obras e mais 13 peças que compõe um Presépio.
Participou ainda de Mostras Coletivas no Ilha Porchat Clube (São Vicente/SP) e Aliança Francesa, em 1977. Cades e Associação dos Engenheiros no ano seguinte (1978).
Em Guarujá/SP a primeira Exposição Individual ocorreu no ano de 1984, na Galeria 'Wega Nery', do então Centro Municipal de Cultura (Teatro Procópio Ferreira), com apresentação de 23 Esculturas.
Outro local que recebeu Exposição de Olinda Sales na cidade foi o Espaço Cultural 'Alberto Marques', da Câmara Municipal de Guarujá.
OLINDA SALES SE REPRESENTA NUMA AUTO-ESCULTURA.

Esteve presente no ano de 1990, na I Semana da Consciência Negra, em Ourinhos/SP, palestrando com o ceramista "Zé do Pote", suscitando grande enlevo à platéia.
Além de Salões, a Escultora expunha comumente suas obras na orla da Praia da Enseada (Guarujá/SP) e Feiras de Artesanato das cidades da região da Baixada Paulista e Capital. Seus trabalhos despertavam admiração, atraindo compradores e colecionadores de Arte no Brasil e do Exterior.
Recebeu o Troféu 'Ruth de Souza', pela Casa de Cultura da Mulher Negra, por trabalho destacado na área cultural e profissional.
No mês de Novembro, entre os dias 17 e 21, de 2005 foi convidado pelo Minc - Ministério da Cultura para expôr sua obra, em comemoração à Semana da Consciência Negra, no Senado Federal Brasileiro, onde apresentou 15 peças.
OLINDA SALES PRESTIGIADA PELOS REPRESENTANTES DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA.

Olinda Sales produziu cerca de 800 obras exclusivas, distribuídas pelo mundo afora. As Esculturas eram feitas em casa, moldadas, esculpidas e queimadas num forno instalado no quintal de sua residência em Itapema/SP, ou depois pintadas como toque final às peças.
Embora já idosa, não deixou morrer a alma de cada criatura escravizada e sofrida no barro frio, que ganhava forma e cor nas mãos desta Artista que nunca esquecera o seu passado. Continuou criando até pouco antes de sua morte em 2011.
GRUPO DE DANÇA 'AFROKETU' EXPRESSÃO DA CULTURA ANCESTRAL.

Todavia, mesmo com a Abolição Institucional da Escravatura, tardiamente assinada pela Princesa Isabel em 13 de Maio de 1888, muito pressionada pelos Abolicionistas do Parlamento Imperial Brasileiro, este documento proporcionou apenas a Liberdade por ela mesma. Os negros não receberam direito social algum. Foram relegados a própria sorte, sem moradia, emprego, qualquer indenização social. Alguns até permaneceram agregados as Fazendas, trabalhando por morada e comida, desta feita reféns de patrões inescrupulosos.
FAC-SÍMILE DA CHAMADA LEI ÁUREA, QUE ABOLIU INSTITUCIONALMENTE A ESCRAVIDÃO NO BRASIL.

Essa grande massa negra compondo as camadas mais pobres da Sociedade. Empregado de serviços braçais e domésticos. Vivendo em bairros decadentes, nos subúrbios, nas regiões insalubres das cidades. A sofrer inúmeras discriminações raciais.
Daí provendo as atuais medidas de reparação histórica, tais como Cotas Sócio-Raciais, para Concursos Públicos e acesso a Educação Superior. E auto-afirmação da raça matriz miscigenada. No intuito de amenizar os efeitos históricos da Escravidão  contra os negros no Brasil.
OS NEGROS HISTORICAMENTE À MARGEM DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

Tanto mais, quando parte da Sociedade Brasileira hipocritamente se coloca contrariada, a repetir um erro histórico. Como descreveu Silva Jardim, visionário do Quilombo urbano das Favelas. Refúgio atual da resistência Quilombola:
"Deste lado a planície, que olha a terra, deixando à margem o mar, que murmura ao longe; nesta planície estão as terras aforadas onde os pretos trabalham; deste lado a montanha, enorme, que defende o Quilombo contra a cidade..."