__________ Itapema, suas histórias... __________

domingo, 1 de setembro de 2013

A SÉTIMA ARTE EM ITAPEMA

COMO EM TODO O BRASIL, ITAPEMA/SP ASSISTIU O FECHAMENTO DE SUAS SALAS DE CINEMA.

Houve tempo que apesar do reduzido número de habitantes, ITAPEMA/SP tinha certa diversidade de entretenimento. Não era incomum danceteria, casa de show e bares com música ao vivo no centro.
Já tivemos ao longo de décadas alguns cinemas. Ainda remotamente no bairro da Bocaina, havia o Cine '15 de Abril', com endereço à Av. Beira-mar.
Nota [à esquerda] do jornal 'A Tribuna' (final dos anos de 1910) informa o programa deste antigo cinema. Num determinado dia apresentaria o Drama 'Sacrifício e Honra'. Estrelado por Irene Riche, Pauline Garon, Willard Louis e Albert Roscoe. E na próxima quinta-feira exibição do filme em séries 'O Mysterio do Diamante Esperança'. Outro registro de cinema nesta localidade, é do Cine 'Bocaina' pela década de 1930.
Em 1951, inaugurou-se o Cine-Teatro 'Itapema', o chamado "Cinema Grande", pertencente ao Sr. José Nunes, na Av. Thiago Ferreira, 21. Ali próximo ao Terminal de ônibus 'Nelly Peyres Sobral'. Praticamente o prédio ficava na esquina da Rua Leonilópolis (atual Av. Presidente Castelo Branco). Construído em Art Decor, tinha o piso quadriculado preto e branco, além de mezanino acomodando uma platéia suspensa, conforme se recordam antigos frequentadores. Conta Luís Miguel Rubido Casás, "a porta da direita do prédio era do bar e da bomboniere do Emílio. Também tinha dois acessos: para os clientes da rua e para os espectadores que já tinham adentrado o hall e se preparam para assistir algum filme."
  CINE 'ITAPEMA', O CHAMADO "CINEMA GRANDE". INAUGURADO EM 1951.

O filme de estréia do Cine-Teatro 'Itapema' foi 'A Princesa da Selva', 1936, EUA, (Jungle Princess), Aventura, com Dorothy Lamour, Ray Milland e Akim Tamiroff.
Filmes clássicos do cinema mundial, fitas de Mazzaropi, desenhos animados foram exibidos em sua tela grande. Era costume as famílias irem aos finais de semana assistir as matinês e sessões noturnas... Antonio Bastos lembra-se de ter visto acompanhado dos pais e irmãos, a primeira versão de 1933 para o filme 'King Kong'.
Há quem aproveitasse a ocasião com o intuito de também ganhar alguma grana. Como o garoto Elias Costa Costa, que vendia cocada e tapioca em frente ao "Cinema Grande".
Dados dos anos 60, extraídos do 'Blog Cine Mafalda' mostram os seguintes números sobre o Cine 'Itapema':
Lugares: 1.116 Média Anual de Sessões: 394 Espectadores: 29.084 Projetor: 35 m/m. Arnaldo Nascimento e Guilherme trabalharam como projecionistas à época.
Sendo uma das poucas diversões no Distrito, para ver o filme do 'Zorro', o menino Maurício Ferreira Carmelo Ferreira como o pai tinha dinheiro mas não lhe deu, contrariado foi à Praça da "Fonte Luminosa" engraxar sapatos e assim comprar o bilhete de entrada. O que custou-lhe uns safanões pela desobediência.
Inclusive, o Cine 'Itapema' não se prestava somente a condição de cinema. Em suas dependências foram realizadas diversos bailes de carnaval, festas e shows.
Seria demolido em meados dos anos 70 para assentamento da linha férrea da RFFSA cruzando Itapema/sp.
  O CINE 'ITAPEMA', NO DISTRITO DE VICENTE DE CARVALHO, FOI DEMOLIDO EM MEADOS DOS ANOS DE 1970.

Outra sala de cinema existente foi o Cine 'Avenida', localizado na Av. Thiago Ferreira Nº 136. Que funcionou à partir de 1950. Proprietária a Srª Rosa Dias. Nesse período aconteceram também apresentações de peças infantis. Vejamos dados dos anos de 1960, obtidos do 'Blog Cine Mafalda' referentes a expressiva movimentação do Cine 'Avenida':
Lugares: 306 Média Anual de Sessões: 416 Espectadores: 17.623 Projetor: 35 m/m.
Depois seria vendido e rebatizado com o nome de Cine 'Estér', endereço atualizado: Av. Thiago Ferreira, 696. Administrado pelo Sr. Michel Hulli (o popular, "Careca"). Muito frequentado pelos casais itapemenses pra namorar no escuro.
FOTO TIRADA EM FRENTE AO CINE 'AVENIDA' (CINE 'ESTÉR') - ITAPEMA/SP [1959].

Era Lanterninha o "Negão Veludo", ele sempre surgia das sombras pra botar na rua os penetras, que pulavam o muro do Centro Espírita 'Santa Emília' (ao lado) e entravam pela Porta de Emergência, querendo assistir as sessões.
Quando a projeção falhava, mudança de rolo, instabilidade horizontal, fora de foco, a platéia tirava o sarro do "Careca" e seus profissionais dentro da cabine de operação. "Charuto" era um deles. Trabalhou como Zelador o Seo Alfredo.
O cinema serviu de referência ao universo dos garotos do Itapema. Antes do início das matinês a molecada trocava e fazia venda de gibis.
INTERIOR DO ANTIGO CINE 'ESTÉR' - ITAPEMA SP.

Também no Cine 'Estér' tive meus contatos iniciais com a Sétima Arte. Ainda que a maioria das produções em cartaz fizesse parte do circuito comercial (exibidos com defasagem) e Filmes "B". Era o auge das películas de Artes Marciais. Na saída das matinês as latas de lixo e postes sofriam, tomados que estávamos pelas proezas de Bruce Lee e Cia. Naquelas duplas sessões vi pistoleiros incríveis, monstros magníficos, fuscas extraordinários. Eis alguns títulos dos quais me recordo dentre tantos:
'King Kong', 1976, EUA, Aventura, Direção John Guillermin, com Jeff Bridges e Jessica Lange. 'As Novas Aventuras do Fusca', 1974, EUA, (Herbie Rides Again), Infantil, Direção Robert Stevenson, com Stefanie Powers. 'Comboio', 1978, EUA, (Convoy), Aventura, Direção Sam Peckinpah, com Ernest Borgnine e Kris Kristofferson. 'Resgate Suicida', 1979, Inglaterra, (Folkes), Aventura, Direção Andrew Maclaglen, com Roger Moore, James Mason e Anthony Perkins.
Que coisa fantástica eram as ovações extasiadas, quando o herói recobrava-se de um golpe fatídico e partia para a vitória. Puro furor foi assistir a Ursula Andress ser "devorada" por olhares juvenis em 'A Montanha dos Canibais', 1978, Itália, (La Montagna del Dio Cannibali), Aventura, Direção Sérgio Martino, com Stacy Keach.
Uma única vez deparei-me com algo diferente. Creio que foi mero acaso, nem o exibidor se deu conta. Colocara apenas para completar a Sessão. Depois vim a reconhecer como "Filme de Arte".
Era a produção italiana 'Una Giornatta Particolare', 1977, (Um Dia Muito Especial), Drama, de Ettore Scola, com Sophia Loren e Marcello Mastroianni.
Nunca esqueço também das trilhas sonoras que tocavam antes da Sessão, dos pôsteres espalhados pelas paredes. Logo em seguida ao apagar das luminárias projetavam-se trailers, documentários. Sempre que lembro do Cine 'Estér' me vem a mente um desses sobre rinhas de galo ou ainda, os jogos do 'Canal 100'.
Já crescido e com a sensação de ser adulto estreei no universo proibido dos filmes eróticos nacionais: 'Mulher Objeto'. 1981, Bra, Direção Silvio de Abreu, com Helena Ramos e Nuno Leal Maia. 'Aluga-se Moças', 1982, Bra, Direção Deni Cavalcanti, com Gretchen e Rita Cadillac. 'Erótica, a fêmea sensual', 1984, Bra, Direção Ody Fraga, com Matilde Mastrangi. E o sofisticado 'Rio Babilônia', 1983, Bra, Direção Neville D'Almeida, com Jardel Filho e Christiane Torloni.
Seguido do "boom" das produções pornográficas brasileiras. Foram tantas, cujos títulos embaralham-se na minha memória.
O Cine 'Estér' resistiu bravamente às novelas e vídeo-cassetes até a metade da década de 1980.
Bons anos mais tarde  em que esta sala foi extinta surgiu o Cine-Teatro 'Milenium', no entrocamento da Av. São João com a Santos Dumont Nº 1016, exibindo fitas de sexo explícito e strip-tease ao vivo. Uma proeza para uma cidade sem zona de meretrício, e que bem a pouco conheceu in loco comércio sexual, com os pioneiros travestis atendendo solitários caminhoneiros que aqui chegam de todas as regiões do país... Mas o cine pornô não durou, foi uma ejaculação precoce. Raras não foram as vezes, que donas-de-casa enciumadas foram buscar seus maridos aos tapas, sobrando até para a stripper.
Efêmero foi também o Cine 'Guarujá', na Av. Santos Dumont Nº 957. Trouxe muitos lançamentos se que o itapemense necessitasse mais migrar para a vizinha Santos, nem deslocar-se ao centro da Sede atrás de estréias do ano. Todavia, desligou o projetor. Seu proprietário alegava prejuízos.
Confirmando uma tendência, que se disseminou por todo o Brasil, do fechamento dos "cinemas de rua" passando a se instalarem nas reduzidas salas de shoppings.

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