NO CÉU AZUL DE ITAPEMA, UMA GRACIOSA PIPA - 2010.
As temporadas de ventos conforme as estações, desde muito fazem surgir nos céus de ITAPEMA/SP inúmeras pipas multicores evoluindo pelos ares. Usadas para recreação atraindo crianças, jovens e marmanjos, mobilizados pelas tantas ruas do Distrito.
A pipa ou papagaio, também chamada pandorga ou raia (dentre outros nomes), voa baseada na oposição ao vento subindo nos ares, dotada de cabresto triangular, preso a linha segurada por um empinador, dispõe de uma rabiola que proporciona estabilidade, aerodinâmica e equilíbrio.
Tal prática milenar tem nomenclatura científica: eolismo (arte de fazer e empinar pipas). Cada modelo possui forma e tamanho específico que influencia seu desempenho durante o voo. Implicando conceitos da geometria, matemática, física e condições climáticas.
As pipas foram criadas na China por volta do ano 1.200 a. C., historiadores mencionam a invenção antes desse período, sendo 200 a. C. Nessa época, a pipa não era somente um mero brinquedo infantil, mas utilizada na guerra. Os chineses a usavam militarmente para transmitir sinais diversos às tropas no campo de batalha, com suas cores, desenhos e movimentos no ar.
Os filósofos chineses Lu Ban e Mozi documentaram o uso da pipa na China antiga, no século V a. C.
O Imperador chinês Wudi (464 a 549 a. C.), da Dinastia Liang, estando cercado pelos guerreiros rebeldes de Hou Jing, usou pipas para pedir ajuda contra os inimigos, em (Taicheng) Nanjing.
Teorias, suposições e lendas tendem a demonstrar que o primeiro voo de uma pipa ocorreu em tempos e em várias civilizações diferentes. No Egito, hierógliflos antigos citam objetos que voavam controlados por fios. Os Fenícios idem conheciam seus segredos, assim como os asiáticos, africanos, árabes, eslavos, gregos, hindus e polinésios.
Os formatos originários mais comuns das pipas eram as figuras de pássaros, peixes ou dragões. Geralmente representavam algum animal mitológico, tanto como seres lendários. Seu material básico: varetas de bambu, papel ou seda.
O Ocidente reputa ao grego Arquitas de Tarento (século V a. C.) o primeiro experimento com pipa.
Pelo século XII, já há relatos da prática de empinar pipa, no continente europeu.
Marco Polo, veneziano, numa ocasião (séc. XIII) quando se viu encurralado por inimigos alçou aos ares uma pipa com fogos de artifícios voltados para baixo, atacando surpreendentemente seus adversários, os quais debandaram.
Introduzida de maneira efetiva na Europa por intermédio dos navegantes italianos, portugueses, ingleses e holandeses a partir do séc. XIV.
Nos campos de batalhas os cavaleiros medievais traziam grandes pipas, emblemáticas de suas tropas impondo-se ao inimigo.
As pipas chegaram no Brasil com os colonizadores portugueses, em 1596.
No Quilombo dos Palmares (Alagoas - 1624), estas serviam para informar a todos os quilombolas caso algum perigo se aproximasse.
Acontece também em morros das cidades brasileiras, localidades periféricas, as pipas prestarem-se a sinalizar o movimento das forças policiais dentro da comunidade, possibilitando a evasão dos meliantes.
Nos idos de 1250, o filósofo e cientista inglês Roger Bacon, que esboçava protótipos de máquinas voadoras, escreveu um estudo sobre asas acionadas por pedais baseado em experiências com pipas.
Leonardo da Vinci (gênio italiano renascentista) no vislumbre dos desenhos de suas engenhocas voadoras inspirou-se em princípios da pipa.
No ano de 1749, o escocês Alexandre Wilson usou termômetros presos em pipas a fim de medir a temperatura nas alturas.
Benjamin Franklin, político e inventor norte-americano, utilizou uma pipa (1752), cuja linha caregava uma chave metálica durante perigosa tempestade, para investigar em suas experiências com a eletricidade, o fenômeno dos relâmpagos e inventou o para-raios.
George Cayley, engenheiro inglês, realizou por modelo das pipas (1809) experiência testando fundamentos aeronáuticos, que mais tarde seriam aproveitados pela NASA com as espaçonaves Apolo.
O inglês Edmund Douglas Archibald, inventor aeronáutico (1884), prendeu um anemômetro à linha duma pipa para mensurar a velocidade do vento a 360 metros de altura.
B. F. S. Baden-Powell (britânico), no ano de 1894, construiu experimento baseado em voo levando ele como piloto, onde usou quatro pipas hexagonais, com 11 metros de envergadura cada, que subiram no ar puxadas por um trem.
Guglielmo Marconi, inventor italiano, em 1901, valeu-se da pipa para erguer uma antena e fez a primeira transmissão de rádio.
O 14-Bis, do aviador Santos=Dumont (inventor do avião - 1906) teve seus estudos aerodinâmicos baseados em pipas.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a pipa serviu como meio de comunicação pelas Forças Armadas. As pipas eram equipadas com antenas e receptores de rádio, permitindo a informação entre os destacamentos militares.
As pipas povoam o imaginário humano. Muitos grandes nomes da Pintura, tanto como de outras Artes (cinema, literatura) registraram em suas obras o ato de empinar pipa.
Silvio Santos (Apresentador de Tv) lançaria em 1974, a marchinha de carnaval "A Pipa do Vovô":
" A pipa do vovô não sobe mais {Bis}
Apesar de fazer muita força
O vovô foi passado pra trás (repete)
Ele tentou mais uma empinadinha
A pipa não deu nenhuma subidinha." {Bis}
Sucesso no ano de 1979, a música "Tá Com Medo Tabaréu" (Melô da Pipa) - do Grupo Super Bacana, ganhou as rádios do Brasil:
"Tá com medo tabaréu?
É de linha de carretel. {Bis}
Você encosta, ela estica
Tira a mão da minha pipa
Que eu quero soltar, chega pra lá
Assim não dá, minha pipa é voadora
Minha pipa tá no ar..."
A pipa também serve como esporte em diversas partes do mundo. O kiteboarding, por exemplo, é uma modalidade esportiva que utiliza uma pipa especial para puxar o praticante numa prancha de surf.
O recorde mundial assinalado pelo Guiness Book da maior altitude de uma pipa, é de 4.900 metros, batido na Austrália, em 2014.
ALÇADA AO VENTO A PIPA GANHA AS ALTURAS [ITAPEMA/SP] - 2010.
Basta um vento favorável para as turmas reunirem-se pelas esquinas, praças, descampados do Distrito, munidas de pipas a combater nos céus de Itapema.
Não é tão incomum ver o pai entusiasmado ensinando ao filho as destrezas de alçar este objeto voador no ar...
- Vai, vai... Descarrega. Cuidado que vai embolotar.
O vento soprava fácil numa brisa refrescante, a pipa ganhava altura. Raias, bacalhaus, dentre outras pipas bailavam naquele vasto espaço anil.
- Aquele mané tá querendo entrá com o bagaçinho dele. - Atreveu-se o garoto.
- Ele tá baixo... Fica esperto.
Além das nuvens ia-se um avião...
- Na manha... Isso desbica pra lá... Pra lá caramba!
As mãos inábeis do garoto tentavam as manobras indiscutíveis.
- Assim... Desbica agora.
A pipa evoluía contra o azul celeste, graciosa e aguerrida. Com sua estampa no peito, bem ao tipo dos cavaleiros da idade-média.
- Joga por cima... Desbica, ele vai te mandar na mão.
Ao comando da mão, as manobras feitas tendo a linha tensa no dedo indicador a pipa intentava sobre o adversário.
- Puxa, puxa!
Mais confiante o filho soltava os movimentos dos braços e meneios das mãos, enquanto aos pés o restante da linha espalha-se pelo chão.
- Enrola linha...
Num movimento insinuante serpenteando a pipa atacou.
- Dá pra pegar linha e rabiola.
De repente, ao romper da linha a pipa adversária se desestabilizou, voando à deriva no céu.
- Arrá!... Eu falei. Cortou, malandro! - Partia aos bandos a molecada, vara de bambu na mão atrás do prêmio da disputa. Correndo quarteirões, trepando muros e se estrepando em lajes.
Voltava o pai aos gloriosos dias da infância... Desde quando fazia as improvisadas "cartolinhas" (folha de caderno ou sulfite com dobras nas abas), a linha presa ao cabresto transversal, de voo baixo, errático. Depois, as "pipinhas" (folha de caderno ou sulfite recortada em formato oval, as bordas levemente dobradas), dispondo de cabresto triangular e pequena rabiola, voando até uns 10 metros de altura. Assim aprendeu os macetes de empinar, ele mesmo preparava seus "piões" (pipas maiores, imponentes, vistosas - encapadas de cores, desenhos caprichados, bico com velame e majestosa rabiola), que impunham respeito no céu.
Nunca estava disposto a perder a pipa. Embora soubesse dos riscos aplicava cerol (mistura cortante) em sua linha 10 (Corrente), quase sempre enrolada numa lata de óleo, senão lata de leite.
Aqui e acolá o linguajar típico das disputas envolvendo pipas e empinadores. Outras pipas no ar estavam prontas para a cruza, acima do perigo dos fios de alta tensão.
- Descarrega... Calma. Devagar. - Orientou o pariceiro.
- Tá fora do cerol... Olha a linha dele lá... Puxa. - Disse alguém da turma.
- Ele tá por baixo... Vai suspender. - Mostrava-se atento o outro.
- Sai, sai, sai... Tá bom, valeu. Desbica pra lá.
- Tô ligado...
- Segura assim...
Por vezes, as pipas pareciam coreografar harmoniosas as mesmas artimanhas.
- Eh, moleque... Vai deixá o cara te redobrá? - Instigou um gaiato tirando sarro.
- Pra cima de mim, não...
- Desbica de lado...
Numa dança para o duelo fatal.
- Isso... Corta e apara! - E lá vinha a pipa derrotada presa a linha pela rabiola, como troféu da peleja. Sem direito à entrega.
A PIPA VENCEDORA CARREGA O TROFÉU DO EMBATE [ITAPEMA/SP] 2010.
TRISTE FIM DE ALGUMAS PIPAS [ITAPEMA/SP] 2010.
Bem mais do que apenas um passatempo tradicional ao ar livre, agradando crianças, adolescentes e adultos. Ou simples forma de lazer, empinar pipa é também um modo de expressão artística e cultural.
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