__________ Itapema, suas histórias... __________

sexta-feira, 18 de maio de 2012

OLINDA SALES: UM SOPRO DE ARTE EM ITAPEMA

OLINDA SALES E SUAS ESCULTURAS [2009].

A história de Olinda Sales de Abreu seria igual à de muitas outras mulheres, se ela não fosse uma Artista nata e altamente intuitiva. Contrariando os comuns destinos mitigados à existência simplória.
Diz matéria do jornal 'A TRIBUNA', de Santos em Junho de 1984:





"(...)Aquele que não se reveste de uma dose de Fé em sua obra e em si próprio, acaba renunciando ao mundo da Arte verdadeira. E a Arte de Olinda representa a sua própria vida: amarga, angustiada, mas autêntica." - A título de resumo sobre a grandeza desta Escultora, então radicada em Itapema/SP, na Ilha de Santo Amaro, desde 1968.
Sua obra é espontânea. As figuras são carregadas de emoção, com pedintes, mulheres desamparadas, crianças chorando, negros acorrentados, que refletem de maneira comovente os sofrimentos humanos.
"O semblante sofrido de seu povo transposto no barro." - Comenta a jornalista Soraya Liguori.
NEGROS ESCRAVOS E MÃES SOFRIDAS POVOAM A OBRA DE OLINDA SALES.

As dificuldades e agruras do mundo sempre fizeram parte da vida da Escultora Olinda Sales.
Aos 10 anos, saiu descalça e com poucas roupas, de Taiaçu (cidade do interior de São Paulo) acompanhada da mãe e cinco irmãos, vindo em busca de um destino melhor na capital paulista.
Ainda naquele momento precário a menina Olinda sequer imaginava ser escultora. Entretanto apesar de todas os reveses, sempre sonhou em ser alguém, mas devido sua condição social só era conhecida como a menina pobre da escola. Embora se achasse muito criativa.
Contudo, nem mesmo Olinda Sales sabia precisar como a Escultura surgiu em sua vida, pois definia seu trabalho como, "um dom natural".
OLINDA SALES ESCULPE UMA DE SUAS OBRAS EM PRAÇA PÚBLICA.

"(...)o barro tem muito a ver com a minha vida. Nasci e morei até os 10 anos em casa de barro (taipa de pilão). Adoro o barro. Ele é minha terapia. E através dele faço figuras sempre miseráveis, pobres. com traços dos negros..." - Explicava ela em entrevista ao jornal santista 'A TRIBUNA'.
Numa tentativa de sondar a origem de tão singular talento, perguntavam os repórteres a resposta:
"Quando cheguei na cidade grande fui trabalhar como pajem e utilizava massas de modelar para criar casinhas e bonecas. Não tenho estudo, só estudei a primeira série do primário, duas vezes, aí desisti de vez..." - Dizia ela ao jornal '1ª HORA', de Guarujá.
Em 1969, viúva e com três filhos para sustentar Olinda desperta sua emblemática vocação artística: esculpir, moldar no barro a alma das pessoas sofridas feito ela. Quando decide participar da 28ª Exposição Coletiva, promovida pela Associação Paulista de Belas Artes, no mês de Agosto daquele ano, ao criar sua primeira obra em argila. Sendo agraciada com Menção Honrosa pela escultura, "Cristo coroado com arame farpado".
Nunca havia trabalhado artisticamente o barro, mas sentia ser capaz de lidar com ele, achando que seria o material ideal para se expressar. Com a argila nas mãos percebeu que tinha facilidade em criar figuras humanas e moldá-las rapidamente.
  OLINDA SALES AO RECEBER MENÇÃO HONROSA PELA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE BELAS ARTES [1969].
DIPLOMA OFERECIDO PELA APBA À OLINDA SALES.

Olinda Sales enfrentava muitas limitações para poder realizar seu trabalho artístico. Sem meios para sustentar a sua própria Arte, continuou a trabalhar como empregada doméstica.
"Trabalhava como cozinheira e lembro que muitos patrões brigavam comigo porque eu fazia esculturas. Eu acabava fazendo escondido." - Ela relata noutra entrevista.
No ano de 1975 frequenta o atelier de escultura do Profº Emanuel Leon, na cidade de Santos, sem contudo se prender à normas técnicas, mas desenvolvendo a sua tendência natural. Mantém contato com outros artistas enriquecendo-lhe o processo criativo. Diz ela numa entrevista ao jornal 'A TRIBUNA', de 7 de Junho de 1977:
"Sempre tive idéias maravilhosas em relação à Arte, mas poucas condições para exercê-la."
O CONTATO COM OUTROS ARTISTAS DEU VISIBILIDADE A OBRA DE OLINDA SALES.

Não há exagero ao avaliar que a Arte de Olinda Sales é influenciada também pela sua própria condição social. Autodidata, sempre se inspirou no sofrimento humano para criar suas esculturas, retratando a simplicidade, a fé, a opressão, crenças e a penúria do povo.

"Minha avó era escrava e o sofrimento mexe comigo. Lembro-me da minha infância." - Ela conta ao repórter do jornal santista 'EXPRESSO POPULAR', na edição do dia 3/12/2004.
Esculpe anjos, santos (especialmente São Francisco), Cristos, escravos, mães, vendedores, malandros, trabalhadores, retirantes, crianças de rua, mulheres por parir, negros no açoite, este é o universo representado na Arte da Escultora.

SUA OBRA É UM QUESTIONAMENTO DAS DESIGULDADES SOCIAIS.
A CRUEZA DA VIDA NAS ESCULTURAS DE OLINDA SALES.

"(...)Como um grito de revolta que se desprende da garganta, a obra de Olinda é marcada por uma profunda pobreza. Suas peças mostram corpos angustiados, retorcidos, mulheres abandonadas, crianças deformadas e indefesas no colo das mães. Mas todas as obras possuem a força e a beleza dentro da harmonia e do equilíbrio, dentro do próprio conceito de Arte, do belo, sobretudo da reflexão sobre o meio social e sua desigualdade no Brasil." - Festeja a crítica publicada no jornal 'A TRIBUNA', em 9 de Junho de 1984.
Dor, pobreza, escravidão, marcam as esculturas de Olinda Sales, as quais a Artista manuseava apenas com as mãos e a ajuda de uma espátula, transformando a argila em obras valiosas que denotam através da sensibilidade da criação, os sentimentos mais profundos do Ser Humano.
 OUTRA DAS INÚMERAS MÃES CARENTES DE OLINDA SALES [2009].

Seu estilo rústico, expressionista impregnado nas suas esculturas, seja pela carga emocional aparente das figuras, quanto pelo exagero das formas e feições, a Escultora consegue representar em suas peças a Cultura brasileira, as mazelas sociais e também a condição histórica do negro no Brasil. Sua elaboração criativa remonta ao ceramismo popular de Mestre Vitalino, retratando quadros da vida cotidiana, porém Olinda Sales reflete em suas cenas as agruras do cotidiano da gente desfavorecida.
ATRAVÉS DE SUAS ESCULTURAS, OLINDA SALES NOS FAZ ENXERGAR O ABSURDO DA ESCRAVIDÃO HUMANA.

Seus depoimentos trazem o sopro intuitivo do seu processo de criação.
"Eu visualizo. Não adianta as pessoas me encomendarem, só sei esculpir o que visualizo. Se alguém me pede Mãe e na minha cabeça está um Escravo, só consigo esculpir o Escravo." - Explica Olinda numa entrevista.
"As minhas peças são todas diferentes. Nunca uma fica igual à outra. Tenho uma tendência muito grande em fazer mães negras." - Geralmente retratando o sofrimento e a raça negra, conforme a Artista mesmo enfatizava.
"Para mim, a inspiração vem nos sonhos e só faço Arte quando estou sozinha." - Comentou noutra ocasião.
Arte que Olinda encarou com alguma predestinação, nos fazer enxergar a verdadeira face duma sociedade desigual.
"Um sonho que me acompanha há muito tempo. Sonho com uma rua de barro... (...)Vejo mães, mendigos. crianças chorando e implorando minha ajuda. É tudo tão real."

A primeira Exposição individual de Olinda Sales aconteceu em 1976, na Galeria de Arte do Caiçara Clube, na cidade de Santos/SP, sendo muito bem recebida pela crítica.
Logo após, mostra na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), 30 obras e mais 13 peças que compõe um presépio.
Participou ainda de Mostras Coletivas, no Ilha Porchat Clube (São Vicente/SP) e Aliança Francesa, em 1977. Cades e Associação dos Engenheiros no ano seguinte, 1978.
Em Guarujá/SP a primeira Exposição individual ocorreu em 1984, na Galeria 'Wega Nery', do então Centro Municipal de Cultura (Teatro Procópio Ferreira), com apresentação de 23 esculturas.
Outro local que recebeu Exposição de Olinda Sales, na cidade foi o Espaço Cultural 'Alberto Marques', da Câmara Municipal de Guarujá.
Coisa que demais fascinava a Artista era esculpir ao vivo, para uma grande platéia. Fato que ocorreu na I Semana da Consciência Negra, em Ourinhos/SP, no ano de 1990. Num encontro com outro ceramista, "Zé do Pote". Trocaram idéias referentes a Arte de manusear argila, falaram sobre as suas experiências de vida e até produziram juntos.
 ENCONTRO DE "ZÉ DO POTE" E OLINDA SALES A MANUSEAR O BARRO [1990].

Além de Salões, a Escultora expunha comumente suas obras na Orla da Praia da Enseada (Guarujá/SP) e Ferias de Artesanato: Feira Hippie do Boqueirão (Santos-Fevereiro de 1977). Feira de Antiguidades da Praça da República, na capital paulista (1984). Rua das Artes, na rua Santo Amaro (Guarujá).
Seus trabalhos despertavam admiração, atraindo compradores e colecionadores de Arte no Brasil e do Exterior.
Recebeu o Troféu 'Ruth de Souza', pela Casa de Cultura da Mulher Negra, por trabalho destacado na área cultural e profissional.
No mês de Novembro, entre os dias 17 e 21 de 2005 foi convidada pelo Minc - Ministério da Cultura para expôr sua obra, em comemoração à Semana da Consciência Negra, no Senado Federal brasileiro, onde apresentou 15 peças. Oportunidade na qual pode outra vez modelar em público.
"JÁ GANHEI VÁRIOS PRÊMIOS, MAS MEU MAIOR ORGULHO É VER MEU TRABALHO RECONHECIDO." - OLINDA SALES.
OLINDA SALES SE REPRESENTA NUMA AUTO-ESCULTURA.
ENQUANTO VIVEU OLINDA SALES DEDICOU-SE À SUA ARTE.

Olinda Sales produziu cerca de 800 obras exclusivas, distribuídas pelo mundo afora. As esculturas eram feitas em casa, moldadas, esculpidas e queimadas num forno instalado no quintal de sua residência em Vicente de Carvalho (Itapema/SP) ou depois pintadas como toque final às peças.
OLINDA SALES IMPREGNA SUAS ESCULTURAS DE EMOÇÃO.
A QUEIMA DAS PEÇAS NUM FORNO, NO QUINTAL DA CASA DE OLINDA SALES (BAIRRO JARDIM PROGRESSO - ITAPEMA/SP).

Embora já idosa, não deixou morrer a alma de cada criatura escravizada e sofrida no barro frio, que ganhava forma e cor nas mãos desta Artista que nunca esquecera o seu passado. Continuou criando até pouco antes de sua morte em 2011.

Apesar da crueza da realidade, de toda carga dramática, de corpos deformados, contorcidos, angustiados que povoam a obra de Olinda Sales de Abreu, esta pretendia de alguma forma tocar o coração das pessoas.
"(...)Eu quero que minha Arte seja uma mensagem de amor..."


sábado, 5 de maio de 2012

MEMÓRIAS DO FORTE DE ITAPEMA

NA MARGEM ESQUERDA, O FORTE DE ITAPEMA/SP FRONTEIRIÇO A VILA DE SANTOS [SÉCULO XVIII].

O pai lhe falara da importância do Forte de Itapema quando em 1830 esteve por aqui o Marechal Daniel Pedro Muller. Seu avô, soldado da infantaria foi ficando, tornou-se caseiro e a prole então, filhos deste solo. Gostava de ouvir os causos contados pelo velho, que passaram de um soldado a outro...
Algum tempo depois dos portugueses chegarem ao Brasil, o Fortim  já existia. Protegia a Vila de Santos contra corsários e piratas, cruzando fogo com o Forte da Vila do outro lado entre o "Rio de São Vicente" ou como chamavam, nosso estuário, os indígenas: "Guarapiçumã" . Isso sob o comando de Francisco Nunes Cubas, sobrinho de Brás Cubas, designado por El Rey D. João V.
PLANTA DO FORTE DE ITAPEMA SÉCULO XVIII.

Ficou abandonado uma certa época até que em 1670 seu novo comandante Pedro Taques de Almeida promoveu a reconstrução da muralha de pedras e argamassa, mais os paióis...
Tinha também o pai suas estórias preferidas... Como esquecer os lances da disputa amorosa entre o filho homônimo do Sargento-mor da Fortaleza do Itapema Domingos da Silva Monteiro e um certo Capitão de Infantaria Manuel Vieira Calassa pela mão de Margarida Carvalho, naqueles remotos anos de 1667? Quando Domingos da Silva Monteiro Filho pedira a moça em casamento, esta já havia sido cortejada pelo Capitão Calassa e recusado oferta de matrimônio. Despótico e metido a valentão ele intimidara o pai da jovem a fim de tê-la na marra. Ainda assim, este permitiu que a filha obedecesse a vontade do coração. Não se deu por vencido o Capitão e buscou no arquivo da Câmara da Vila de São Vicente, coberto nas trevas da noite, documentos que comprometessem ou difamassem a família e a descendência do pretendente rival. Mas enlouquecido e contrariado de amor, num descuido com o candieiro de latão ateou fogo nos livros e papéis antigos da Capitania.
   O FORTE DE ITAPEMA [SÉCULO XIX], NESTA REPRODUÇÃO DA PINTURA A ÓLEO DE BENEDITO CALIXTO.

Por estas paragens, no ano de 1777, as notícias que chegavam do sul eram aterradoras. Em disputas territoriais com Portugal, os castelhanos depois de dominarem Rio Grande de São Pedro avançavam para o norte do território brasileiro. O Comandante chefe dos espanhóis era o Vice-Rei do Rio da Prata, o temido Dom Pedro de Cevallos. Houve quem largasse a agricultura para se alistar na Companhia do Forte. Entretanto, a invasão espanhola não passou de rumores.
A MOVIMENTAÇÃO EM TORNO DO FORTE DE ITAPEMA [1903].

Os anos passavam e por vezes o valente Forte ficava desguarnecido, quase em ruínas.
"- Bravos, Senhores!... Este posto que esteve sob a guarda de meus parentes, o Sargento-mor Torquato Teixeira de Carvalho, o Capitão-mor João Teixeira de Carvalho, Capitão Francisco Olinto de Carvalho, Capitão João Olinto de Carvalho e por hora, sob minhas ordens haverá de honrar condignamente a história de minha família. Pois, desde 1724 mantêm o comando vitalício do Fortim do Pinhão de Vera Cruz..." - Foi assim que o Coronel José Antonio Vieira de Carvalho dirigiu-se aos seus subordinados quando assumiu em 1810, e o comandou soberbamente até 1833.
O avô era jovem ainda e jamais esquecera a altivez do Coronel, homem influente na Vila de Santos. Comerciante de fortuna, fora ainda juiz e vereador. O homem de tão obstinado por se tornar Coronel de Milícias e comandar uma fortificação, ofereceu-se em construir, por sua conta, sem soldo algum, um Forte na Ilha Barnabé, proposta rejeitada pelas autoridades. Todavia, antes teve oportunidade de comandar o Forte de São Felipe ao norte da Ilha de Santo Amaro.
O FORTE DE ITAPEMA/SP [1902].

Um acontecido dito à boca pequena, mas que ninguém atrevia-se a conversar com o Coronel Vieira de Carvalho, era o atribulado casamento da filha, Maria Zeferina... Deu num fuzuê! Enamorou-se a rapariga de Manoel Joaquim Soares, Cirurgião-mor do Hospital Militar da Vila de Santos, porém a mãe, espôsa do Coronel, opunha-se intransigente ao casório. O casal resolveu unir-se matrimonialmente a qualquer custo, e na noite de 16 de Julho de 1824, fugidos numa embarcação navegaram para Jurubatuba, onde havia a Capela de São José, sendo casados pelo Padre Francisco Luís da Cunha Peixoto. Inconformada com aquele disparate de Maria Zeferina, a mãe incumbiu o cadete Carlos Augusto Nogueira da Gama e mais três escravos, que renderam o noivo com pistolas ao peito e fizeram o casal retornar à força. Como o documento do casamento na confusão extraviou-se o caso for parar no foro, onde o processo se arrastou durante 15 anos...
PANORÂMICA DA VILA DE SANTOS A PARTIR DE ITAPEMA/SP, NA MARGEM ESQUERDA.

Nem por isso o Coronel Vieira de Carvalho descuidava do Forte de Itapema. Com que esmero cuidava-se das 4 peças de artilharia calibre 12 e das outras 4 calibre 8. Lembrava bem o avô da prontidão no Forte quando da Independência do Brasil, mobilizando uma guarnição formada por 1 oficial, 2 inferiores, 8 artilheiros, 24 serventes-artilheiros e 20 soldados de infantaria à espera de uma invasão da Coroa Portuguesa. A cadeia subterrânea fora reformada a fim de trancafiar sodados insurgentes e invasores. O orgulho por fazer romper a salva de tiros de canhão no momento que o navio de D. Pedro I adentrou o Porto para uma inspeção às Fortalezas.
À ESQUERDA O FORTE DE ITAPEMA, DETALHE DA PINTURA DE BENEDITO CALIXTO.

Quando alguns soldados do Regimento dos Fortes revoltaram-se em 1821 devido ao constante atraso nos soldos, o clima esquentou entre soldados brasileiros da terra e militares portugueses já que estes eram beneficiados pela Coroa Portuguesa. Houve assassinatos e saques na Vila de Santos. Foram mobilizadas tropas de São Paulo, a Corveta Real fundeada no Largo de Santa Rita disparou tiros de advertência aos revoltosos antes da invasão da vila fronteiriça ao Forte. Dias após o Conselho de Guerra, lá adiante, junto a Bocaina podia se ver balançarem os corpos de líderes dos rebeldes enforcados nas vergas do navio e outros que abarrotavam a cadeia do Forte. O avô falava disto com certa emoção, pois eram soldados da terra como ele... Seu pai mesmo presenciara a tristeza do velho ao retirarem em 1850 o último canhão.

Lá se iam tantos anos, desde os primeiros galeões e cargueiros. Com muito custo a Companhia Docas [detalhe da imagem acima] entregara o primeiro trecho de cais moderno naquele ano de 1893... Anos antes, devido ao mal armazenamento de pólvora no paiol, um incêndio consumira a instalações do Forte itapemense.



[ ao lado, o vapor inglês Nasmith.]
 O FORTE DE ITAPEMA, BANHADO PELAS ÁGUAS DE "GUARAPIÇUMÃ", NOME INDÍGENA DO ESTUÁRIO DO PORTO [DÉCADA DE 1910].

Acostumara-se, abandonavam o Forte mas este sempre resistia e ressurgia sobre as rochas do pinhão. E nesta grande ocasião em que o vapor inglês Nasmith singrava rumo ao Valongo, o Forte de Itapema não poderia se fazer ausente. Postado solenemente sobre o barbete junto às ameias, vestido no antigo uniforme de infantaria, ele saudou o navio com salvas de mosquete do avô.
Permaneceu a espiar emocionado até que os lampiões de gás ao sopé do  Monte Serrate ponteassem a noite do lado de lá .