__________ Itapema, suas histórias... __________

terça-feira, 9 de julho de 2013

SANTOS AMORIM - Constitucionalista ITAPEMENSE



Em novembro de 1932, Antonio Santos Amorim [imagem à direita], ex-combatente, dois meses e meio após o término da Guerra Civil-Militar Constitucionalista de 32, publicou seu livro intitulado 'Santistas nas Barrancas do Paranapanema - A Revolução Paulista'. Com 206 páginas, editado pela 'Impressora Santista' (Rua Brás Cubas, 120 - Stos).
Escrito sob os céus de Itapema/sp, narra a participação de parte dos soldados voluntários da região da Baixada Paulista, pelo 7º B.C.R. (7º Batalhão de Caçadores da Reserva, de Stos) formado pelas 1ª, 2ª e 3ª Cias, envolvidos no Front do Paranapanema, Frente Sul do Estado de São Paulo durante a Revolução Constitucionalista de 1932, que perdurou 73 dias de Campanha contra as Tropas Federais do Ditador Getúlio Vargas.

[ exemplar do acervo do Historiador Waldir Rueda - Capa: Newtom - site Novo Milênio]


Constituindo-se num dos primeiríssimos relatos diários impresso sobre a Guerra Cívica Paulista. É uma narrativa detalhada o quanto possível. Absolutamente fiel, reprodução exatíssima dos episódios que assistiu. Dos quais fez parte inúmeras vezes. Sem exageros, isenta de Fantasia. Cenas da memória recolhidas no transcorrer do Conflito Armado. Como o ex-combatente reforça ser, uma Reportagem.
Santos Amorim (vicentino, calunga de origem), nascido em 8 Setembro de 1894. Morador de Itapema/sp à época e com 38 anos de idade. Já trabalhava há 20 anos na Imprensa. Foi Repórter do jornal santense 'Gazeta Popular', cobria a Página Policial. O Voluntário (então itapemense) começou a Guerra como Padioleiro do Serviço de Saúde, quatro dias depois passou para as fileiras de combate, integrando a 1ª Cia do 7º B.C.R.
"(...)É este um despretensioso trabalho de repórter. Que eu sou. Mas de repórter que não visa conquistar foros de celebridade literária. Que se contenta, depois de vinte anos de porfiosas lutas na Imprensa, em continuar sendo simples e apagado operário do jornalismo. Vivo tão bem na penumbra..."
1932 - SÃO PAULO CONVULSIONA EM MANIFESTAÇÕES PELAS RUAS.

Tendo sido vitoriosa a Revolução Tenentista de 1930, liderados por Getúlio Vargas, suplantada a Velha República, os Líderes do Partido Democrático e as Elites Paulistas esperavam que o Brasil voltasse a normalidade democrática. Contudo, Vargas negava-se a estabelecer uma nova Constituinte. Bem como mantinha a Intervenção Administrativa nos Estados Brasileiros, cautelosamente São Paulo.
Às 23:40 h., do dia 9 de Julho, o Coronel Euclides Figueiredo entrou no Comando da Região Militar de São Paulo, de dentro do Comando o Coronel Euclides passou à noite telegrafando aos Comandantes dos Quartéis Paulistas, comunicando o início da Revolução Constitucionalista de 1932.
Bastou a deflagração do Movimento Revolucionário naquele turbulento 9 de Julho, na Capital São Paulo, a qual convulsionava em manifestações à semanas pelas ruas, acrescida pela morte de quatro Estudantes Paulistas (M.M.D.C.), em confronto com partidários Getulistas, para que todo Estado Bandeirante se mobilizasse pela Causa Constitucionalista. De uma Constituição para o Brasil. Contra as intervenções de Vargas na Administração do Estado. Sendo um Movimento de Integridade Nacional. Portanto, Federalista e Civilista. Diante de um Governo dito Provisório caracterizado por ser centralizador, autoritário e dominado por Militares.
Na cidade de Santos/sp, consignada Sede Administrativa naqueles tempos, fez-se a centralização do recrutamento de voluntários. Formou-se os primeiros contingentes de batalha. Atraindo combatentes das cidades vizinhas da região da Baixada Paulista, alguns de Itapema/sp ou ligado a este.
Criou-se o 1º Batalhão de Voluntários, que teve em Alberto Lage (Sargento reservista do Exército Brasileiro) um dos seus mais ardorosos organizadores, ajudado por outros da sociedade. Poucos dias depois de 9 de Julho, é colocado de prontidão os voluntários de Santos e do litoral de São Paulo. O Coronel Favilla seria o Comandante do Batalhão.
A mocidade paulista, impelida por um entusiasmo intraduzível, correu a alistar-se, decidida, corajosamente a seguir para as trincheiras. Unida e forte.
Tudo por São Paulo! - Era o lema palpitante. E a juventude tudo queria dar, por e para a Terra Bandeirante. E tudo lhe deu realmente. Até o seu sangue generoso. Com uma bravura admirável. Dignificando-se a si mesma. - Comenta Santos Amorim, a revelar os ânimos naqueles dias. 
Foi assim que, em 13 de Julho, já trezentos e tantos rapazes estavam alistados no Batalhão recém organizado. Houve mesmo, alguns que não o esperaram. Foram antes, para a Capital Piratininga. E ali se incorporaram aos contingentes que seguiram para o Setor Norte.
SANTOS AMORIM, COMBATENTE-REPÓRTER DEIXA ITAPEMA/SP (À ESQUERDA) PARA ENGAJAR-SE AS FILEIRAS DA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA.
   
Nesse ambiente eletrizante de inabalável civismo, que empolgava a cidade santista e outras cidades da Baixada, assim como todas as regiões do Estado, formou-se inicialmente no Litoral um contingente de quase 500 moços e homens de meia-idade. Queriam ser a linha de frente a repelir o adversário ditatorial. Empunhando um fuzil. Manejando uma metralhadora. Ou trocando golpes de baioneta. Sem se preocuparem com as consequências da luta. Como morrem os Heróis autênticos. Tombada a matéria. De pé o indestrutível Ideal.
Às 9 horas, de 18 de Julho, uma segunda-feira. Defronte a 'Galeria Odeon'. Era o encontro marcado dos Voluntários do 1º Batalhão (Stos), para seguirem viagem até a Capital São Paulo.
E no dia e hora marcada estavam a postos, naquele movimentado trecho da Rua do Comércio, todos os voluntários inscritos. Manhã esplêndida de sol. Uma vibração intensa nas ruas da cidade. As pessoas dos arrabaldes e região chegando-se cada vez mais volumosa. Compartilhavam esperançosas, do entusiasmo irreprimível dos bravos voluntários. Vinham trazer-lhes a homenagem confortadora da sua presença. No instante quase sempre doloroso da partida.
(SANTOS/SP) -  POR TREZE SEMANAS A CAUSA CONSTITUCIONALISTA DE 1932 MOBILIZOU DIVERSAS CIDADES DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Entraram em forma à paisana, colocando-se em coluna mas sem disciplina militar. Todos falavam a um só tempo. Trocavam abraços. Riam. Faziam trejeitos cômicos. Diziam palavras alegres. Despediam-se repetidas vezes de mão semi-curva na aba do chapéu, à guisa de continência. Já eram Soldados. Exerciam um direito...
"(...)Um ambiente festivo, de bom humor contagiante. E havia ali, sem dúvida, muitos corações amargurados pela dor imensa da separação. De saudade. Noivos que deixavam a eleita da sua alma. Com eles, filhos que iam partir levando gravada no espírito a imagem suavíssima de suas mães. Que choravam no lar contristado. Pais e esposos que também se iam, conservando ainda nos lábios o ressaibo dulçuroso dos beijos inocentes dos pequenitos que eram o seu maior encanto. E da companheira dedicada que era a razão de ser da sua vida. Irmãos e amigos que ficavam. Que não podiam ir. E que desejavam, sinceramente, acompanhá-los..." - Formados em frente à 'Galeria Odeon'. Essa era a Ordem. Tinham de cumpri-la. Dentro de uma hora partiriam para a Glória ou para o Abismo. Irredutível na defesa do seu Ideal, combater por São Paulo. Enquanto restasse, de pé, um Paulista!... Mas passada meia-hora, sempre de pé, naquele local, certo voluntário, depois outro dava a sair de forma. Sob diversos pretextos. Um ia comprar cigarros... Outro tomar uma caninha... Aquele beber um móca no 'Café Paulista'. E assim sucessivamente. O Batalhão não tardava a se espalhar pelas vizinhanças, caso o Sargento Lage não controlasse a tropa. Recebem então, do colaborador cívico Orlando Esteves, um bornal de pano cáqui. Feito pelas senhorinhas da cidade, no domingo à noite. Equipamento de muita utilidade, que lhes dava um traço de militarismo.






São 10 horas. A Tropa move-se em passo cadenciado. Vai para a Estação Inglesa (São Paulo Railway - S.P.R.), um trem especial os espera. Seriam oficialmente os primeiros daqui a marchar rumo à Capital Piratininga, com destino ao Front.  O Largo do Rosário e a Rua do Comércio estão quase intransitáveis. A multidão é grande. E acompanha, entre falas de incitamento e "Vivas São Paulo!", durante o trajeto.
Palavras são ditas, outras trocadas entre amigos, parentes, encorajadoras, de breve retorno e coragem no Combate... Abraços distribuídos sem parar. Lágrimas suspensas. Confortos afetuosos.
Chegam ao Largo de Monte Alegre. Centenas de pessoas ali se retinham...
"(...)O elemento feminino predominando em quantidade. Exclamações de entusiasmo repercutem em todas as direções. Senhoras respeitáveis e distintíssimas senhorinhas acercam-se, sofregamente, dos voluntários. Abraçam-nos, comovidas. Muitas sem poder articular uma palavra de despedida..." - Penetram o interior da Estação a custo imenso. Depois de atravessar a gentama de populares. Rapidamente enche-se a composição da S.P.R.
O povo, em massa, soube glorificar os que daqui saíram. Sem se preocuparem se voltariam ou não. Dispostos a tudo para que São Paulo triunfasse. Mesmo que para esse triunfo ficassem insepultos nas trincheiras. No fundo do Sertão Paulista, a centenas e centenas de quilômetros distante de casa... A multidão em volta se comprimia ao comboio. Enquanto isso, falam aos voluntários e a massa, vários oradores. Discursos vibrantes. De estímulo e de confiança integral no triunfo decisivo da Causa Constitucionalista...
"(...)A locomotiva dá o sinal de partida. A enorme multidão, bracejante, impetuosa, corre para a frente. Quer acompanhar o trem, pelo leito da via férrea. Até onde lhe for possível..." - Centenas de pessoas aos vivas estridentes. E o comboio toma maior velocidade... Ficam ali, como que petrificadas ao solo. A acenar lenços de todas as cores. Num adeus que parece eterno.

O trem avança pela estrada de ferro da Serra do Mar. Dentro dos vagões no percurso comenta-se com entusiasmo cívico. Fazem piadas das mínimas coisas e situações. Do momento da despedida na Estação. Tanto por terem sido abraçados, beijados por lindas jovens, quanto por velhotas entusiasmadas...
"(...)Um deles - Oscar Alcover - Afirmava que, no meio daquele formigueiro humano, uma senhora idosa, naturalmente míope, tomara-o como filho e o beijara repetidas vezes. Aguentara firme, confessava Alcover, a chuva de ósculos. Para não cair em desagrado. Mas a velhota, quando se apercebera do engano, ficara rubra de indignação e lhe dissera desaforos a granel. Ele queria protestar. Mas teve que calar-se. Não lhe ficaria bem tal atitude... O caso, porém, é que nosso estimado companheiro - segundo opinião do Othon Carneiro de Castro, que assistira o episódio - acabou ficando babado pela sexagenária..."
Estão entre eles tipos hilários responsáveis por toda galhofa. Renato Pimenta, o mais endiabrado deles. Valentim Leite, famoso fundador da "Liga da Temperança". Eugênio de Almeida, o popular Tosca, gordalhudo e vermelhão. Alberto Morgado, o simpático morenaço que mais tarde em campanha, se revelaria excelente cozinheiro. Marcello José Rios, o perfeito imitador de "Português". Figuras humanas que o lápis de repórter de Santos Amorim, não deixa de assinalar. Ainda na 'Galeria Odeon', onde aguardavam a hora da partida, dispersaram-se disfarçadamente entrando no 'Café Paulista'...
"(...)Irão beber água? É impossível. O Renato sempre me diz que não se dedica à cultura do Agrião. Por isso, não faz do estômago lagoa d'água... Marcello vai além: afirma que a água é um elemento tão nocivo que chega até a destruir o casco de navios. E Morgado, por essa razão, detesta-a. Tosca e Valentim têm opinião idêntica. Água só para banho. E assim mesmo, quente..." - Só daquela que passarinho não bebe!
Vão ao seu lado, no mesmo banco Cyro Lacerda e Giusfredo Santini. Conversavam longamente. Falam de suas atitudes cívicas. Relembram alguns acontecimentos sentimentais e engraçados. Cyro mostra-lhes o retrato de sua querida filhinha. Que fora beijá-lo momentos antes. Leva-o consigo para as trincheiras. Santini, alegre, apresenta o formidável Parabellum que conduz à cintura. E que será o seu companheiro inseparável enquanto durar a Campanha. Vai ainda, o também calunga Cyro Schepis Júnior.
Foi debaixo de um nunca acabar de galhofas, entremeadas de constantes Palavras de Ordem, que adentram a admirável Gare da Luz, no coração de São Paulo.
NOTÍCIA JORNAL 'FOLHA DA MANHÃ' - EMBARQUE DO 1º BATALHÃO DE RESERVISTAS, INTEGRADO POR SANTOS AMORIM [1932].

Depois de ligeiro descanso são encaminhados ao Quartel do 4º B.C., no Alto de Sant'Anna. Acomodaram-se de maneira mais ou menos apreciável. Tinham macas para dormir, mas as pulgas eram terríveis. O rancho nem tão dos piores. Entretanto, a balbúrdia dos voluntários era infernal, de fazer perder o sono. Um alarido enorme, trotes, piadas, que faziam por qualquer motivo ou sem motivo nenhum. Resultado do aquartelamento de quase cinco centenas de rapazes inquietos e eufóricos, no vigor da idade.
Ficam assim, pelo espaço de oito dias no Quartel do 4º B.C. Durante esse tempo recebiam instrução militar com as mãos vazias. De corpo livre. Armamento não existia ainda. A ordem era marchar sempre, desenferrujar os tornozelos e adestrar os músculos. Todas as manhãs faziam excursões pelos arredores de Sant'Anna.
No dia 24, notícia oficial. O Q.G. havia classificado o 1º Batalhão de Voluntários (Stos), para 7º Batalhão de Caçadores da Reserva de Stos (7º B.C.R.).
VOLUNTÁRIOS CONSTITUCIONALISTAS RECEBEM INSTRUÇÃO MILITAR [1932].

Manhã de 27 de Julho, foram chamados para receber armamento. Foi com um contentamento transbordante que os moços pegam o fuzil. Na Intendência, Polydoro Bittencourt, Raul Schmidt Toledo, Álvaro Alcântara e outros entregavam o fardamento e o equipamento a cada soldado. Horas depois, de fuzis e sabres reluzentes ao sol, o glorioso sol paulistano, os rapazes fremiam de satisfação. Estavam armados. Podiam brigar.
Por volta das 16 horas, ordem de comando designa todo o Batalhão para partir. Itinerário certo à Estação Sorocabana.  Iam para o Setor Sul de trem. Desceriam em Itapetininga, ponto de concentração das Tropas Paulistas. Da cidade de Júlio Prestes seguiriam para a Zona de Operações.
Nas imediações da Sorocabana populares aguardavam. Era pouco antes das 17 horas. O 7º Batalhão ficou formado na rua, por longo tempo. Esperando que se organizasse a composição ferroviária. Enquanto isso, a rapaziada divertia-se demonstrando o grande entusiasmo. Ao som de clarins, caixas e tambores, chegou mesmo a improvisar um Choro animando em plena via pública. Zezé Sacramento era quem dirigia a orquestra. De batuta em punho, bamboleando o corpo. Zezinho Coelho e Altamir Coelho, de corneta à boca, sopraram-na sem cessar... Enfim, ocupam o trem.
"(...)Os soldados, em forma, tomaram lugar. Athié, o popular futebolista, à frente do Batalhão, empunhava a Bandeira Paulista. Com garbo militar. Porte Ereto. Olhando firme, para a frente. Sua figura era o alvo da atenção geral. Seu nome, aclamado milhares de vezes. Todos conheciam o bravo moço. Todos o saudavam. E ele, imperturbável, sereno, marchava sempre..." - Somente às 21 horas e 15 minutos que a locomotiva movimentou seus vagões.
 OLIVÉRIO PILAR ANTUNES, ANTONIO SANTOS AMORIM, JOÃO PEREIRA DE CARVALHO E DARIO DE FREITAS PIMENTEL - COMBATENTES DO 7º B.C.R. [1932].    

De Itapetininga, é que teriam outro destino. Ali conheceriam a sordidez da guerra. Em Itapetininga a água fora envenenada, informava o Coronel Favilla (Comandante do 7º B.C.R.). Os soldados estavam proibidos de beber água daquela localidade... A água está envenenada! Quem envenenara? O inimigo distante? Impossível!... Pois, Itapetininga não é cidade paulista? Não estavam lá Forças Paulistas? - Perguntava-se Santos Amorim e Floriano Peixoto Corrêa. Todavia, falou-se dias depois que o atentado fora cometido por indivíduos paulistas, nascidos naquela cidade, favoráveis a intervenção ditatorial de Getúlio Vargas no Estado de São Paulo.

[Frente Sul Paulista]

Partem aliviados depois de ali demorarem um dia inteiro. Chegaram às 5 horas da manhã, de 28 de Julho e ao morrer da tarde rumaram novamente de trem para Engenheiro Hermillo, pequena povoação à frente, onde desembarcaram à noite. A viagem foi sem percalços.
"(...)A nossa chegada a Engenheiro Hermillo deu-se na noite de 28. Passamo-la dentro do trem. Fazia frio. Mas conseguímos dormir algumas horas. Na manhã seguinte, o céu nublado ameaçando chuva, depois de um confortante café preparado pelo Pereirão - O General do Rancho - entramos a dar serviço. Patrulhas de Reconhecimento pela mata próxima. Guarda à algumas posições vizinhas. Sentinelas noturnas. No carro do Comando. Na Estação. Ao longo da via férrea. Em lugares diversos." - Ficaram três dias na cidade. Repousavam no depósito de carga da Estação. Em vagões da Sorocabana. Sob um alpendre de zinco. Embora as pulgas não os deixassem em paz (parecia acompanhá-los desde o 4º B.C.), a maioria ferrava no sono. Roncando mesmo. Havia soldados que nem com o estampido de canhão 150, os acordavam. Cyro Lima Glória (mais tarde alcunhado, Marechal do garfo), Guaraná e Jorge Aun eram outros. Cabo Godoy, Edgard de Souza Aranha também, entre tantos mais, conservavam os olhos placidamente fechados.
De Engenheiro Hermillo à Ligiana a distância é pouca. A locomotiva moveu-os até a nova posição, a 1º de Agosto. Era uma avançada que faziam. Buri, a Linha de Frente. A celebrada cidade, Front da Resistência Bandeirante estava à espera. Apenas uma questão de oportunidade. Em Buri, que o inimigo ditatorial desejava tomar, havia Tropas regulares. Que se batiam com denodo defendendo aquela posição. Essencialmente estratégica pela sua configuração topográfica.
"(...)Buri, então, ainda nos pertencia. Victorino Carmillo era inteiramente nosso. Aracassú, também. Para a retaguarda, tínhamos Ligiana. Depois Engenheiro Hermillo. E depois Itapetininga. Onde estava instalado o Q.G. do Coronel Brasílio Taborda, Comandante do Setor Sul."
Entretanto, a ordem foi ficar em Ligiana... Pouco além da Estação havia uma ponte ferroviária, atravessando certo trecho do Paranapanema (posta abaixo dinamitada algum tempo depois). Talvez, um desperdício ou erro estratégico avalia Santos Amorim. As Tropas Federais, sob o Comando supremo do General Valdomiro Castilho de Lima, permaneciam ainda em Faxina. Algumas centenas de quilômetros distante... 
PONTE FERROVIÁRIA DE LIGIANA, ONDE OS SOLDADOS DO 7º B.C.R. COMBATERAM AS TROPAS DITATORIAIS DE VARGAS [1932].

"(...)basta acentuar que Ligiana, até os últimos dias da Revolução nos pertencia. As forças inimigas somente a ocuparam depois de havermos recebido ordem de retirada para Engenheiro Hermillo. Abandonando, portanto, a referida posição." - Onde durante a Campanha, a 2ª Cia., do 7º B.C.R. entrincheirada manteve-se heroicamente, sob contínuos e cerrados tiroteios por quase um mês.
Naquela noite da chegada, tempestuosa, alguns soldados do 7º (ainda estavam reunidas as três Cias do Batalhão) são mandados para as trincheiras. Localizadas precisamente junto à Ponte de Ligiana e às barrancas do Paranapanema. Permanência de 12 horas dentro de uma vala tão estreita, que os obrigava a ficar numa posição insustentável, arcados, comprimindo o tórax contra os joelhos. Por cima, a chuva torrencial ensopando a todos. E ventos impetuosos. Relâmpagos apavorantes. Uma escuridão horrível. Nada se distinguia à frente. Nem o próprio companheiro. Não podiam trocar palavra. Soldado à noite, nas trincheiras, não conversa. Muito menos acender fósforos. Poderia, uma coisa ou outra, denunciar a presença deles ao inimigo... As mantas estavam encharcadas. Capotes não os tinham. Panos de barraca existiam, apenas dois ou três. Que eram insuficientes para todo um Pelotão de combatentes. E a noite, tétrica não tinha fim. Parecia eternizar-se... De duas em duas horas, dois soldados vão para a frente, de fuzil e baioneta calada. Em serviço de Sentinela toda vigilância é pouca. Qualquer descuido pode ser fatal. Um se coloca na vanguarda, atento ao mais leve ruído, pronto para abrir fogo ao primeiro instante. Outro fica para trás, com os mesmos deveres. Com igual responsabilidade. Enquanto isso, os que permanecem nas trincheiras descasam, ou melhor moem o corpo, tiritantes de frio pela chuva que desaba. Muitos têm água quase a altura dos joelhos. Mas nenhum se ausenta do seu posto.
NA CHARGE DE E. PARA O LIVRO DE SANTOS AMORIM, AS DIFICULDADES VIVIDAS PELOS SOLDADOS [1932].

"(...)O meu quarto da Sentinela (denominam-se quarto as duas horas de serviço) é de 1h. às 3h. da madrugada. Um dos piores. Sem dúvida. Principalmente aos rigores de um temporal. Que aterrorizava os mais desprendidos. Eu e Eduardo Riskalla vamos para a frente. Deixamos a trincheira com a farda grudada às carnes. Molhados da cabeça aos pés. Enregelados. Levando quedas sobre quedas. Porque o terreno é cheio de buracos. E nós palmilhamos nas trevas. Pisando em falso. Procurando não fazer bulha. Fuzil seguro na destra. A mão esquerda nos amparando. Para que não despenhássemos pelas ribanceiras..." - Feita a rendição dos companheiros à cabeceira da ponte, ficam eles só com seus pensamentos. A escuridão é reinante, os grilos cricrilavam soturnos embaixo do capinzal. De repente, um inofensivo vaga-lume voeja pela mata escura, foge da chuva incessante, fosforeando à vista dos Soldados...
"(...)Será algum espião inimigo? - Pergunto-me a mim mesmo. E, às vezes, ficava na dúvida. Tinha ímpetos de mandar fazer alto. Para disparar o meu fuzil. Se não fosse atendido. Logo depois, porém, me apercebia do logro. Aquela lanterninha perturbadora não oferecia o menor perigo. Se os vaga-lumes soubessem os sobressaltos que causam aos soldados em campanha. Deixariam de existir."
 DESENHO DE E. PARA O LIVRO DE SANTOS AMORIM, CHARGEIA OS SOBRESSALTOS NO FRONT DE GUERRA [1932].

Na manhã de 2 de Agosto, quase todo o Batalhão (sob comando do 1º Tenente Plínio, do Exército) empreende um avanço de 6 Kilômetros a pé, mato adentro, atrás de uma Patrulha inimiga. Pois, segundo constava detinha-se numa crista de montanha, no flanco direito. Tendo se desorientado neste caminho perderam-se pelo dia até a noite. Marcharam cerca de 30 Km subindo, descendo morros e escalando barrancos. Abatidos pela sede, famintos. Já escuras as veredas por pouco não fizeram vítimas do "fogo amigo", alvejando os próprios companheiros do Batalhão espalhado...
"(...)Foi o caso que, quando nos aproximávamos, ignorando para onde íamos, vimos luzes ao longe.
- É o inimigo! - Exclamamos, unânimes.
E, ato contínuo, nos colocamos em posição de atirar. Mas, ainda a tempo, tudo foi evitado..." - Toparam assim, com a casa da Turma 14 (residência de Operários da Conservação da Estrada Sorocabana). Passam a noite de 2, encostados as instalações da Turma 14. As condições são péssimas. Ao relento. Debaixo de chuva. Sem almoço e nenhuma janta. Apenas um café no estômago. Santos Amorim, Olivério Pilar Antunes e Francisco Guaraná Menezes, solidários ajeitavam-se naquilo que se formara numa poça d'água. A respeito deste último companheiro citado, o repórter-combatente descreve ser rapaz valente, dezenove anos vigorosos. Nasceu em Sergipe. Residindo no Guarujá, foi o primeiro nortista que dali saiu para dar sangue moço à causa paulista.
[Francisco Guaraná Menezes - Soldado do 7º B.C.R. - voluntário constitucionalista da Ilha de Santo Amaro/sp]



Em 3 de Agosto partem para Aracassú, onde ficam três dias. Melhores condições. Rancho farto e um lugar coberto para repouso.
Vire e mexe entre a rapaziada desperta o bom humor. A gozação, euforia, tomam conta dos combatentes. Naquela noite do dia 4, no alojamento improvisaram um desafio ao violão. Foi uma tocata e uma cantoria dos infernos. Não deram tréguas à garganta. O violão circulava arranhado por mãos pouco talentosas. Os versos pensados de repente não acabavam nunca. Quanto mais silêncio se pedia pior era... O espírito alegre dos soldados se manifestava. Superior às amarguras.
Logo pela manhã, do dia 5, ordem somente para a 1ª Cia (140 soldados). Se preparar armada e municiada, fariam uma viagem. Comandados pelo Sargento Juvenal Paixão, da Força Pública (comissionado ao posto de 2º Tenente). De trem passam por Angatuba. Dali vão de caminhão até Aterradinho (uma fazenda importantíssima). Breves paradas. Seguiram para Bom Sucesso. À meia-noite (depois de espera infrutífera) nova ordem, retorno para Aterradinho. De onde partem destinados a outra posição.
  HERMES SANTOS SILVA, TENENTE POLYDORO BITTENCOURT, LINO VIEIRA, GUILHERME PINTO DE BARROS E ÁLVARO ALCÂNTARA - SOLDADOS DO 7º B.C.R. [1932].

No dia 6 de Agosto em Porto Velho da Tapera abrem trincheiras.
"(...)Após o café. Metemos mãos à obra. Picaretas e enxadas rasgando e revolvendo o ventre úmido da terra. Foices e sabres decepando árvores e galhos. Cortando sapé..." - Os combatentes tinham por hábito caçoar batizando as trincheiras.
"(...)Eu, Annibal Caetano e Antonio Espinhel ficamos juntos. A nossa trincheira foi logo batizada. Era a 'Caverna dos 3 Leopardos'. Os demais rapazes também rotularam as suas. Uma infinidade de denominações irônicas. Havia o 'Hotel de La Plage', 'Galeria Odeon', 'A Leoneza', 'Palácio do Catete', 'Albergue Noturno', 'Q.G. da 2ª Região Militar', 'Cine Polyteama', 'Casa Alemã', 'Café Marreiros'."
Em Porto Velho (da Tapera), 11 horas do dia 7. Estão entrincheirados...
"(...)O ronco de um motor, no espaço, chama a nossa atenção. Põe-nos de sobreaviso. Erguemos os olhos. É ela mesma. A varejeira, todos sabem o que é. E todos tratam de se esconder..." - Dias antes, ainda em Engenheiro Hermillo, um Avião da Ditadura bombardeara a posição do 7º Batalhão. Sem causar danos, apenas sustos e correrias à tropa. Os soldados Bilu e PiIar lembram-se bem. - "(...)Chuva de granada ou de metralhadora não é como a outra. Que não quebra osso. A varejeira quebra até ferro. E vem de cima para baixo. Numa rapidez fantástica. Às vezes, descarregamos nossos fuzis contra o avião. Bem sabemos que em pura perda. Nossas balas não o alcançam. Mas é o instinto de defesa. A varejeira conserva-se a uma altura inatingível..." - Não tardava a bombardear o Campo. Cada descarga de fazer tremer o chão.
"(...)Mas inutilmente. Nós nos ocultávamos em lugar seguro. Não era golpe - como dizia sempre o Eurico Neves - querer ser herói. Em tal emergência. Principalmente. O Horácio Assumpção e o José Pupo também pensavam assim."
O 3º Pelotão da 1ª Cia, no dia 8, foi chamado para guarnecer Aterradinho. Estava ali o P.C. do Tenente Paixão. Ficam quarenta homens em Porto Velho. O 1º Pelotão da Cia ficara antes naquela fazenda, obedecia ordens agora do Sargento Aristides Castro. O 2º Pelotão permaneceu nas trincheiras, em posição de abrir fogo, tendo como Comandante o Sargento Pitta (também responsável pela Praça de Guerra). O inimigo estaria à frente. Na margem do Paranapanema. Batiam em reconhecimento de área. À noite a vigilância era severíssima. Faziam Sentinela. Alertas sempre. Sem o mínimo rumor. Sem fumar... Dia 9 pela manhã, deixam Porto Velho em demanda de Aterradinho.
    CHARGE DE E. PARA O LIVRO DE SANTOS AMORIM - UM CERTO HUMOR CONSTANTE A APLACAR AS TENSÕES DA GUERRA [1932]. 

Uma situação inusitada aconteceria ao anoitecer do dia 9. O Tenente Paixão reuniu a 1ª Cia, disse-lhes que pela madrugada teriam perigosa missão a cumprir. Dar um cerco as Forças Ditatoriais Varguistas, mais ou menos 200 homens. Para envolvê-las e aprisioná-las, se possível. Pintou a situação com cores carregadas. Da bravura deles dependia a vitória. Se fraquejassem, estariam irremediavelmente perdidos. O adversário seria terrível, quase o dobro da Tropa Constitucionalista. Se não lhes oferecessem resistência renhida, cairiam em suas garras. Era indispensável lutar. Enquanto houvesse um Soldado Paulista com vida...
"(...)E, para melhor se certificar da nossa resolução, mandou que levantassem a mão direita para o ar aqueles que estavam dispostos a seguir. Todos nós, num só movimento, erguemos a destra... (...)Um houve, entretanto, que se recusou partir. Um pobre rapaz. Mirrado. Doente. Foi fraco. Sem dúvida. Mas de uma lealdade impressionante. Não possuía ânimo para participar da arriscadíssima tarefa. A ter um gesto de hipocrisia, achou mais digno ser sincero. E o foi... (...)Eu me apiedei do humilde voluntário. Outros o apuparam. Disseram-lhes insultos. Crivaram-no de injúrias..." - Minutos depois souberam, tudo aquilo não passara de bravata. Uma provação. Fora uma experiência que fizera o Tenente. Para testar o ânimo dos combatentes.
O moço que se negou a lutar, Príamo Lucindo, foi sumariamente expulso da 1ª Cia. O soberbo Tenente Paixão não se comoveu com a dolorosa situação do infeliz. Tocou-o para o caminho de volta pelo Interior Paulista. Depois de humilhá-lo à presença da Tropa, com palavras duríssimas. Foi enxotado só com a roupa do corpo, sem agasalho algum. O frio era intenso, a noite trevosa.
Dia 10, recebem correspondências, jornais e encomendas. Às primeiras horas da noite entra no alojamento (um amplo barracão), o domador da fazenda. É um caboclo desacanhado. Traz sua sanfona. Executa marchas e valsas. A rapaziada dança. Esquece as mágoas passadas. Tudo torna-se alegria, contentamento passageiro. Nesta mesma noite empreendem caminho por Bom Sucesso, Fazenda Cruzeiro do Sul e Porto Velho. Dezenas de quilômetros. Tempo chuvoso. Estradas horríveis.
JOSÉ FONTES, ROMEU ROCHA, DANIEL TORRECILLA, RAPHAEL PAINO E SANTOS AMORIM - COMBATENTES DO 7º B.C.R. [1932]. 
    
Finalmente, no dia 13 de Agosto, recebem seus capacetes de aço. Têm notícias das magníficas vitórias das forças paulistas, que batalhavam no Setor Norte.
São escolhidos, na 1ª Cia, soldados que quisessem ser granadeiros. Vão-se duas dezenas deles. Passam logo a fazer exercícios sob a orientação do 1º Tenente Vicente Gayer. 
O instante dramático não tarda. A 1ª Cia ia entrar em fogo cruzado. Era necessário desfazer a lenda de que de que a 1ª Cia, do 7º B.C.R. não brigava...
"(...)E se, até então, não havia entrado em combate, a culpa não era nossa. Porque nunca recusamos seguir para a frente. Ao contrário. Pedimos insistentemente para ir..." 
Em 14 de Agosto, um domingo ensolarado, a 1ª Cia seria dividida. O 1º Pelotão foi para as trincheiras de Porto Velho. O 2º Pelotão para a Fazenda Cruzeiro do Sul. E o 3º Pelotão ficou em Aterradinho.
O 2º Pelotão (42 soldados, dentre eles Santos Amorim) seguiu assim para Cruzeiro do Sul, com escala em Bom Sucesso. Fazem viagem como de costume, péssima. Jejum coletivo.
"(...)Na manhã azul de 15. Chegamos a Cruzeiro. Depois do café - que foi ótimo - trincheiras. Que nós abrimos. Longe da Fazenda 3 quilômetros. De 15 a 18 nas valas. Na minha, eu e Anníbal Caetano. Soldado destemido. Demos Sentinela. À noite. Todas as noites. Um vento diabólico. Incessante. Que nos enerva. Notadamente ao Anníbal. Sempre ansioso por disparar tiros..." - A 20 de Agosto é designado o 2º Tenente Olivério, para o Comando do 2º Pelotão. Em Cruzeiro estava um Piquete de Cavalaria de Pirassununga. Desfalcado, o 1º Tenente Benvindo, seu Comandante, resolveu buscar soldados ao 2º Pelotão para completar o efetivo. Muito embora, fossem Infantaria. Houve recusa, mas a ordem era terminante. Ficaram sem 12 dos seus combatentes, contando apenas com 29 homens. No dia 21, integram-se novamente companheiros dos 1º e 3º grupos do 1º Pelotão, que havia permanecido em Porto Tapera.
"(...)Nossos soldados que estavam na Cavalaria fizeram um reconhecimento arriscadíssimo. Para as bandas de Garysinho. Renato Mello. Guaraná Menezes. Franquinho (o futebolista). Marcello Rios. Fausto Guimarães. Dillermando Sager (o victrola). Raymundo Soter de Araújo. Manoel Stockler Pinto e muitos outros. Partiram cedo..."
REGIÃO ONDE LUTOU O 7º B.C.R. [1932].     

Em 23 de Agosto, deixam Cruzeiro do Sul rumo à Garysinho. Com eles robusto contingente da Força Pública. Foram em caminhões. Objetivo, tomar este ponto estratégico, ocupado por Tropas Gaúchas vindas por ali de Caputéra, 6 Km adiante da localidade.
"(...)Ao entardecer, foi feito o ataque. O inimigo, entrincheirado, resistiu. Eram 14 horas. Representando o triplo, na defensiva. E preparados. Os Tenentes Olivério e Gayer avançam. Resolutos. Shammas (Sargento) os acompanha. Trava-se o tiroteio. A fuzilaria é tremenda. Um soldado inimigo alveja o Tenente Olivério. Mas não tem tempo para atirar. O Tenente Gayer, com pontaria certeira, fere-o numa perna. Alberto Shammas, num ímpeto heróico, avança. Lutará corpo a corpo. Se for necessário. Mas é infeliz. Uma bala adversária o atinge. Em pleno ventre. Ele cai. Esvaindo-se em sangue. E, num supremo esforço, ainda tenta resistir. Mas é impossível. Seu estado é grave..." - Socorrido, o Dr. Francisco Neves presta-lhe assistência médica, conduzem-no às pressas para o Hospital de Avaré. Morre dias depois.
Fizeram naquela noite, 2 prisioneiros (um Sargento e um soldado). Os 12 restantes fugiram rechaçados pelos combatentes paulistas. Senhores da área estabeleceram ali suas novas posições. Instalando-se nas imediações do terreno. Na manhã, de 24 foi que notaram, mal impressionados, estarem acampados ao lado de um velho cemitério. Benzeram-se, seguindo o gesto temerário do soldado José Antonio de Oliveira.
Aguardam ordens para avançar sobre Caputéra. Seria essa Batalha decisiva. O inimigo, mil e tantos soldados. Tropas regulares, aparelhadas eficientemente. Vasto material bélico. Peças de Artilharia. Trincheiras intransponíveis. Tudo isso era o quanto sabiam por intermédio dos prisioneiros que fizeram... Todavia, a espera do Comando, permaneceram na retaguarda do Front. Na madrugada de 25, a Cia de Granadeiros do Batalhão 'Floriano Peixoto' atacou Caputéra. Outras forças deveriam secundá-la, ainda assim não veio a ordem. Nesse ataque, um dos mais temerários, dada a desproporção numérica de combatentes paulistas. Os granadeiros perderam cerca de 34 homens, diversas armas automáticas e muita munição. Contudo, infligiram as Tropas Ditatoriais Getulistas perdas consideráveis. Mais de meia centena deles, conforme descreveu o Cabo Olavo Desiré Dantas, que tomou parte no Combate.
CORPO DE SAÚDE QUE PRESTOU SERVIÇOS AO 7º B.C.R. [1932].

Ainda a 25, chega a ordem de abandonar as trincheiras. Subir nos caminhões. Corria entre os soldados que iriam ocupar Caputéra. Santos Amorim desconfia da veracidade desta informação, e comenta com os companheiros Eurico Marianno dos Santos e Casemiro Araújo. A ordem era sustentada pelos oficiais. Entretanto, a direção que tomavam os conduzia a Cruzeiro do Sul... Era uma retirada velada. Numa viagem mais tormentosa do que as outras até então feita por eles. Tudo parecia conspirar contra a Tropa. Chovera muito na véspera. Logo à saída de Garysinho, enormes lagoas na estrada. Já na primeira, o caminhão da frente caiu, impedindo a passagem dos demais veículos. Foi indispensável muito esforço para retirá-lo. Mas safaram-se depois de meia-hora de sacrifícios, atolados até a cintura. Desgastados de fazer tanta força. Feito breve descanso quilômetros além num acampamento, encaminham-se para Cruzeiro. Na retomada do caminho...
"(...)De súbito, cortam os ares dois aviões. São da Ditadura. Evoluem sobre a nossa tropa. Saltamos dos caminhões e nos jogamos ao solo. Distanciados uns dos outros. Para o inimigo não poder visar-nos com precisão. Mas nossos soldados não se contêm. Alvejam-nos a tiros de fuzil. Obstinadamente. Apesar da inutilidade dessa atitude... (...)Não tardou que uma violentíssima chuva de metralha se desencadeasse sobre nossas cabeças. Perseguindo-nos. Desesperando-nos. Terrível. Impiedosa. Brutal. Por longo espaço de tempo..." - Saíram praticamente ilesos do Ataque Aéreo. Somente o Cabo Gonçalves, nº 64, ficou ferido em uma das mãos.
Chegado em Cruzeiro do Sul, os aviões haviam bombardeado aquela praça de guerra. Sobre a enfermaria da Cruz Vermelha tinham jogado muitas granadas e também metralhado. Ferindo soldados doentes ali internados. David Pimenta, outro soldado, que estava convalescendo escapou ao sair 15 minutos antes do bombardeio.
 DESENHO DE E. PARA O LIVRO DE SANTOS AMORIM, CHARGEANDO O COTIDIANO NO CAMPO DE BATALHA [1932].

Por descontentamento combatentes do 7º B.C.R. solicitam o retorno do Comando ao Coronel Favilla, bem como o regresso da 1ª Cia a Aterradinho, ao invés de permanecer em Cruzeiro do Sul. Os Sargentos Tavares e Romão dirigem-se à Ligiana, expõem a atitude intransigente ao Coronel. Porém, são atendidos. Ficam nas trincheiras ainda dois dias, 26 e 27. A 28 de Agosto partem para Aterradinho. Em circunstâncias arrepiantes. Era noite quando deixaram Cruzeiro. Às 22 horas, de lá partem. Chovia copiosamente. E trovejava. E ventava. Um temporal medonho. Escuridão completa. De pé, nos caminhões seguiram rumo. Era então, Comandante da Cia, o Tenente Luiz Simione Sobrinho.
"(...)Percorremos alguns quilômetros. Deu-se o que era inevitável. Os caminhões não puderam, a certa altura, ir para a frente. Buracos enormes pelo caminho. Chuva horrível. Sem cessar um minuto..." - Veículos atolam, impedem a passagem. Empreendem marcha a pé à procura de abrigo. A intempérie e o frio estão insuportáveis. Aos trancos e barrancos na lama seguem adiante, entre quedas. Exaustos despendem energias, empurrando os caminhões pela estrada lamacenta. Chegaram a Floriano, um velho e pobre vilarejo.
"(...)Há, ali, um grande barracão de madeira. Que ameaça ruir. Mas que ainda possui telhado. Batemos à porta. Um ancião no-la abre. Com um sorriso fraternal na face pergaminhada. É um paulista antigo. De fibra. 72 anos. Dir-se-ia ter apenas, 60. Acolhe-nos. Advinha quem somos. Corre a fazer café. Mas falta o açúcar. Nós tomaremos assim mesmo a preciosa rubiácea. A chuva escasseia..." - Saem da casa do bondoso velho. Desatolam os caminhões e seguem obstinados para Bom Sucesso, dali irão para Aterradinho. A chuva torna a cair. Horas a fio. A viagem continua. Farão ainda escala na pequena cidade bom-sucessina. Povo hospitaleiro. Passam numa fazenda da região, já a hora do almoço, tomam café. O Sargento Jason Tupynambá, sempre camarada, oferece aos companheiros fatias de um saboroso queijo paulista. Eurico Santos e o Sargento Aristides agradecem, desesperados por prosseguirem nos caminhões. Quando pisam em Bom Sucesso são 13 horas, num estado lastimável. Têm refeição dobrada. Rancho providenciado pelo Sargento Nadyr... Logo partem, vão em direção a Aterradinho finalmente. Parte da Tropa no caminhão, a outra a pé. Onde chegam à tarde, do dia 29.
 MANOEL STOCKLER PINTO, DR. DOMICIANO PASSOS, ERSE BASSANI E OSCAR ALCOVER - SOLDADOS DO 7º B.C.R. [1932].     

Entre o dia 30 e 4 de Setembro, os soldados da 1ª Cia em Aterradinho dão Guarda, Patrulha, Sentinela. Do alto duma caixa d'água mantêm vigilância constante à noite. Precisa-se subir uma escada muito alta, manter o equilíbrio. É tarefa perigosa. Expostos a situação de risco. Mas, os combatentes são disciplinados. Horácio Assumpção e Eduardo Wright, por vezes, dão o plantão arriscado. Observando de cima, o que se passa em derredor.
Nesse dia 4, Domingo. Informam-se que Ligiana, onde está a 2ª Cia do 7º Batalhão, foi bombardeada pela Aviação ditatorial. Sabem também, que o General Klinger e seu Estado-Maior deslocaram-se para Avaré. A fim de estudar um plano de ataque às Tropas Varguistas, ocupando Taquari.
Na madrugada de 5 de Setembro, o 6º B.C.R. e as 2ª e 3ª Cias (7º B.C.R.) chegam de passagem a Aterradinho. Permanecem somente duas horas no alojamento. Vão combater em Taquari, num ataque levado a efeito naquela noite. Com brilhante desempenho dos soldados do 7º B.C.R. Às 15 horas do mesmo dia, a 1ª Cia parte para as trincheiras farturenses. Passam por Bom Sucesso, Itaí, Pirajú, Sarutaiá. Desembarcam em Fartura ao romper da manhã do dia 6...
"(...)Noite inteira viajando. Sem dormir. Fomos para o Grupo Escolar. Servem-nos café e pão. À vontade. Procuramos descansar. Não pudemos. Somos mandados para as trincheiras. Com urgência. Recebemos munição. Abundante. O caso é grave... Avançamos. Quatro quilômetros adiante. Onde a fuzilaria não cessa. Ouvindo, perfeitamente, o tiroteio. Cerrado. Impressionante.
Sob fogo vivíssimo tomamos posição. Junto de destemidos Voluntários de Presidente Prudente e bravos Soldados da Força Pública. Combatendo Tropas Paranaenses. Que estão perto. Na montanha fronteiriça. Comanda-nos o Tenente Ferraz. Militar valoroso... (...)No decorrer do dia. Por três ou quatro vezes. Trocamos balas com o inimigo. O nosso cansaço é visível. Indissimulável... (...)Vem a noite. Somos escalados para o Serviço de Sentinela. Dois quilômetros além..."
SÃO PAULO HÁ DE ESCREVER A CONSTITUINTE COM A PENA OU O FUZIL [1932].

7 de Setembro, "logo cedo. A neblina é intensa. Veste as montanhas que nos cercam. O inimigo quebra o silêncio. Uma descarga em regra. Um pipocar trágico dos F.M. Nós revidamos. Mais impetuosos ainda. Queremos brigar de verdade. Por S. Paulo. Em homenagem à gloriosa data da Independência Brasileira. O tiroteio dura longo tempo. Aguardamos a aproximação do adversário. Ele já se avizinha. É audacioso. Nós ansiamos pelo choque. Temos fé que venceremos. Ou ficaremos, sem vida, nas trincheiras..." - À tarde permanecem em posição de combate. Visitam-lhes o padre Gasparino Dantas. O vigário de Ipaussú, Sr. José Nunes de Oliveira. E a Dona Philomena da Costa Nunes, na qual se reforça significativamente o espírito de participação da Mulher Paulista na Guerra de 1932.
"(...)Esta dama oferece-nos biscoitos. E rebuscados. Conversa conosco. Animadamente. Estimula-nos, com palavras vibrantes, a defender a nossa causa sagrada. Encanta-nos, o espírito simples e comunicativo dessa Senhora. Que aperta, afetuosamente, a nossa mão. Que entra nas trincheiras. Que nos agrada. Que exige nossa amizade. Ela é Paulista. Seu esposo, o Dr. Carlos Alberto, é Major-médico. Pertence a uma Cia de Voluntários Paulistas..." - Dona Philomena ficou sendo, o Anjo da trincheira Boa Esperança. Diariamente lhes visitava. Levando presentes, jornais, revistas, cigarros. Tendo para todos paciências carinhosas. E duma extraordinária exaltação cívica.
JOAQUIM MADEIRA, LINO VIEIRA, SANTOS AMORIM E EURICO MARIANNO DOS SANTOS - COMBATENTES DO 7º B.C.R. [1932]

Dia 8 de Setembro, data também do aniversário de Antonio Santos Amorim.
"(...)Sinto-me velho. 38 anos. Marcho para o fim. Fatalmente. Todos nós marchamos. Estarei pronto? Estarei longe? Não sei. É melhor não saber. A realidade apavora. Procuro iludir-me. Como toda a Humanidade. Mas entristeço. Longe do lar querido..." - Reflete o repórter-combatente. Dona Philomena prometera trazer "pés-de-moleques" caseiros para a festa naquele dia.
"(...)Ainda madrugada. Eu cochilava nas trincheiras. Desperto. Subitamente. O inimigo faz fogo. Contra nossa posição. Fogo intenso. Respondemos. As metralhadoras entram em ação. Parece que o mundo se acabará. No mesmo instante. Mas é só impressão. O mundo não acabará. Nem nós pereceremos. Milhares de balas passando sobre as nossas cabeças. Assobiando. Tragicamente. Numa ameaça sinistra. Se alguma nos atingir, paciência. Será um Paulista a menos. Mas São Paulo vencerá. Há de vencer... (...)Cessado o tiroteio, escuto um companheiro dizer: "Essa fuzilaria foi em homenagem ao Santos Amorim. Que faz anos hoje!" - Achei espírito na frase. Entretanto, eu bem dispensava tal homenagem..."
Por toda a segunda semana de Setembro passam na trincheira. Boa Esperança. Em Fartura. Foram 8 dias de grande utilidade à Revolução Constitucionalista. Haviam oposto tenaz resistência as Forças Federais. Obrigando-as a conservar distância. Não permitindo a sua deslocação da montanha. Senão para a retaguarda. Impedindo a invasão de Fartura.
"(...)A Tropa adversária, inúmeras vezes, tentou o golpe. Nada conseguiu. Sempre foi repelida. Com vantagem para nós. Chegamos, num só dia, a avançar 4 quilômetros. À vanguarda. Ocupando valiosa posição. Os flancos eram nossos. E estavam seguramente guarnecidos. Difícil, senão impossível, sermos derrotados. Fartura jamais seria do inimigo. Se lá fossem mantidas nossas posições... (...)Mas, não sei por quê, a trincheira Boa Esperança logo ficou despovoada de soldados. Naturalmente, para o inimigo poder tomá-la. E, tomando-a, conquistar Fartura. Foi isso que se deu. Alguns dias mais tarde. A 25 e 26 de Setembro. Quando nós já estávamos nas trincheiras de Porto Delfino..."
[Em marcha sempre, soldado! - Na charge de E.]

A 14, saem das trincheiras para uma longa jornada pelo Interior Sul Paulista. Reunem-se em Fartura às 16 horas. No P.C. recolhem toda a munição da tropa de Santos Amorim. Sobem no caminhão. Saltam em Pirajú. Tomam o trem, prosseguem viagem. Naquela condições...
"(...)A locomotiva sempre em marcha. Nós todos com a pulga atrás da orelha. Por que motivo carregávamos o fuzil desprovido de cartucho? Poderíamos, acaso, dar tiros com o sabre? Estaríamos presos? Ou iríamos - como era natural - ter alguns dias de repouso? Ninguém atinava com as razões daquela viagem imprevista..." - Passam por Botucatu à 1 hora da madrugada, do dia 15. Partem pela manhã. Faz frio. Não se dormiu no trem. As línguas matraquearam a noite toda. Escala em Santo Antonio da Alegria. Mudam de máquina e retomam a rota presumida, guiados por seus oficiais... 9 horas, Tatuí. Alguns civis na Estação. Outro café com pão quente, oferecido pelo M.M.D.C.
"(...)Estávamos com o almoço garantido. Porque, na forma do costume, almoço não teríamos. Quem viaja não come. Em tempo de guerra. Principalmente. Segundo preceituava, em Cruzeiro do Sul, um Tenente que, há 28 anos, não bebia água. E que, apesar disso, conduzia soldados para combate. Ficando na retaguarda. De cantil à boca. Mamando o último gole da "branquinha"..." - Aprendera a se adaptar ao racionamento de guerra. Assim o bom humor mantinha o moral da 1ª Cia, do 7º B.C.R.
De Tatuí rumo à Itapetininga. Desembarcam às 10 horas e 15 minutos. Sem descanso, às 21 horas seguiram de trem em direção à Engenheiro Hermillo. Param na Estação da cidade, à 1 hora da madrugada.
TUDO POR SÃO PAULO! E A JUVENTUDE TUDO QUERIA DAR, POR E PARA A TERRA BANDEIRANTE [1932].

"(...)Desocupamos os vagões. Que voltam para Itapentininga. Fomos para o depósito de cargas. Acanhadíssimo. Quase não podíamos respirar. Ficamos ali até 17. Depois do almoço, sofremos violento ataque. Aviação. Artilharia. Dispersamos. Pelo campo. As varejas perseguem-nos. Os disparos de canhão alcançam o nosso alojamento. 32 tiros. Formidáveis. Consecutivos. Rombos enormes nas paredes. Mira certíssima. Um vagão postal fica crivado de balas. Outro, onde estão André Caetano e José Mamana, fica incólume. Milagrosamente... (...)Os efeitos materiais do canhoneio inimigo são terríveis. Tudo destroem. Até peças de equipamento. Que havíamos deixado na Estação. Sem tempo para apanhá-las. Um sobretudo novo do soldado Josias Pedro Leite transforma-se numa peneira. Tantos são os furos que apresenta. Causados pelas descargas adversárias. Nenhum soldado ferido. Nosso canhão. Um 150. Faz 4 disparos - manobra-o o Cabo Francisco Sá Júnior. Auxiliado por outros soldados do Forte de Itaipu (Litoral paulista)..."
Embarcam no mesmo dia 17, à tarde para Saltinho. Substituir Tropas do Capitão Ferreira, nas trincheiras às margens do Paranapanema. A 18 de Setembro tomam posição e ali ficam até 20. O Tenente Mário Amazonas é o Comandante das Forças Paulistas, nessa cidade. 
"(...)Três noites de fogo. Com pequenos intervalos. Eu fico próximo a Oscar Alcover. Quando a fuzilaria dá-nos uma trégua, saímos da vala. Rastejando. Em busca de comida. Ou de café. O que nem sempre conseguimos. Porque é impossível, às vezes, levar a bóia no lugar em que estamos. Não há outro remédio. Senão curtir fome e sede. E ficar sem fumo. Atravessando as noites em claro. Na umidade. Dedo premendo o gatilho do fuzil. Disparando-o. Em defesa da própria vida. Que o inimigo no-la sacrificará. Se não estivermos vigilantes. E dispostos a reagir. Matando para não morrer..." - Tanto disparam que lhes acaba a munição. Fuzil sem cartucho não dá fogo. As cartucheiras estavam vazias. Logo depois deixam Saltinho, voltam novamente para Engenheiro Hermillo.
"(...)Ali a Artilharia ditatorial continuava na sua faina destruidora. Gastando munição prodigamente. Com o único objetivo de pôr as nossas Forças em debandada. Pelo terror. Pela impossibilidade de permanecermos naquela posição, sem o aparelhamento bélico necessário para resistirmos aos seus ataques violentíssimos..." - Pouco param em Engenheiro Hernillo. Saem em caminhões para Angatuba, numa noite friorenta.  
CANHÃO 150 DO FORTE DE ITAIPU, OPERANDO EM ENG. HERMILLO - AO ALTO DE PÉ SÁ JÚNIOR E O TENENTE POLYDORO BITTENCOURT 7º B.C.R. [1932].          

21 de Setembro, Angatuba. São trazidos de Engenheiro Hermillo seis gaúchos. Prisioneiros de Guerra. Um 2º Tenente e um 2º Sargento. Quatro soldados rasos. Conduzidos pelo Tenente Cairolli, que comanda a 3ª Cia (7º B.C.R.). Querem parlamentar com a Oficialidade Constitucionalista. São levados à presença do Coronel Grimualdo Favilla. O mesmo resolve transportá-los para Itapetininga. A fim de apresentá-los ao Coronel Brasílio Taborda. No Q.G. da Frente Sul. De lá para São Paulo, onde ficaram presos. Os planos que tinham, eram conhecer as posições paulistas, as frentes estratégicas, intencionando desferir um ataque definitivo ao conflito.
Breve estão no trem novamente, e chegam às 18 horas e 30 minutos em Itapetininga (cidade natal de Júlio Prestes). Ficam alojados no Quartel do 8º Batalhão.
Dia 23, à tarde, "temos ordem de limpar nossos fuzis. Para entrar em combate. Seguiremos à noite. Para onde? Ninguém sabe. Os palpites entram em circulação. Propagados de boca em boca. Ora iremos para Campinas. Ora para Amparo. Depois para São Paulo. Mais tarde para o Rio das Almas. No Setor de Capão Bonito. Que já pertence ao inimigo. Ficamos na mesma enervante dúvida de sempre..." - Em Campanha, mais do que na vida cotidiana o boatismo desenvolve-se assustadoramente com piores consequências. A Cia circulava itinerante pelo Front, sem avanço evidente no teatro de Operações de Guerra. Não engolia se surgia notícia que, Getúlio Vargas fora deposto. O Rio Grande do Sul e Minas eram agora aliados dos Paulistas, bastava ocupar o Rio de Janeiro... Porque o soldado em face de tanta mentira e manobras torna-se pessimista.
"(...)Não que aos seus soldados, minguasse ânimo para as mais arriscadas investidas. Ao contrário, todos os episódios dramáticos que se desenvolveram ao fragor da luta... (...)Constituem uma prova líquida, insofismável, da sua bravura autêntica..."  
"(...)Afinal, partimos. Em auto-caminhões. Que nos levam para longe. Para muito longe. Chove a cântaros. A estrada é horrível. Dantesca. Os carros não conseguem vencer os obstáculos. Detêm-se. Nós descemos. E os empurramos. Pondo-os em marcha. À custa de muito esforço. De sacrifícios inenarráveis. No dia seguinte. Ao meio-dia. Cansados e famintos. Chegamos à Fazenda Bom Retiro. Vamos para um paiol de milho. Dizem-nos que é para descansar. Tomamos café. Meia-hora depois chamam-nos. Para receber munição. Cinquenta tiros cada soldado. Não chega para sustentarmos um fogo de 15 minutos. Paciência. Não há mais..." - Avançam 4 Km, de Bom Retiro a Porto Delfino. Onde está o Batalhão Borba Gato.
"(...)Entramos para as trincheiras. Que são péssimas. Ali passamos a noite. Tiroteando. Ligeiras escaramuças. O adversário não parece resolvido à luta. Nós atacamos. Ele se aquieta. Pretenderá surpreender-nos pela madrugada? É possível. Nos prevenimos. Eu e o Cabo Eurico Santos ficamos de Sentinela. De 1 h. às 3 h. Sem relógio..."
OS "VERMELHINHOS" BOMBARDEIAM AS POSIÇÕES CONSTITUCIONALISTAS FRENTE SUL [1932].

A 25 de Setembro, o conhecido "vermelhinho" que viram pairar muito alto bombardeia Bom Retiro. Um estilhaço de granada fere um voluntário do Borba Gato. Sem gravidade.
"(...)E transcorre o dia sem novidade. A noite também. Dir-se-ia suspensas as hostilidades. A impressão era essa. Confirmada pelo sossego  do dia seguinte, 26."
Madrugada de 27, Soldados da Força Pública substituem a 1ª Cia nas trincheiras. Seguem às 6 da manhã para Gramadinho. Ali ficam por pouco tempo. Recebem informe de que serão bombardeados por 4 aviões, então notados ao longe. Evidentemente isso sobressalta a Tropa. Dirigem-se assim, para São Miguel Arcanjo. Os aviões não apareceram. Nem tinham sido vistos. Fazem essa viagem em caminhões. O corpo reclama da exaustão.
"(...)Em São Miguel Arcanjo. Pequena cidade centenária. Está quase deserta. As residências vazias. O comércio de portas fechadas. A quase totalidade da reduzida população é Síria. Gente que nos recebe generosamente. Mas com minguados recursos, no momento, para nos servir. Eu, Othon Carneiro e Castro, Laurindo Raposo Medeiros temos sorte. Vamos à casa de uma família. Somos acolhidos fraternalmente. Tomamos café. Pão. Comemos linguiça. Farofa. Tiremos o ventre da miséria..." - A 1ª Cia ganha novo Comandante. É o Capitão Samuel Junqueira Franco. Ficam acantonados num amplo prédio de dois andares. A Cia deveria ir, na madrugada de 28 para as trincheiras. Essa era a ordem do Tenente-Coronel Castro e Silva, sub-Comandante da praça de guerra. Reclamam descanso, mas não são atendidos.
"(...)Vamos para Turvinho. Manhã de 29. Lá chegamos. Pouco tempo depois, a varejeira persegue-nos. Impiedosamente. Obrigando-nos a ficar longas horas no recesso da mata sombria. Ao anoitecer. A Tropa é distribuída por diversas casinholas de pau-a-pique. Que estão abandonadas. E vazias. Eu, Heródoto e Horácio Santos Silva, Antonio rocha, Alcides Pupo de Godoy. Ficamos na Capelinha de Santa Luzia. Conosco, muitos outros rapazes. Dormiremos ali. No pequeno templo. Que a fé religiosa da gente simples de Turvinho erguera. Em louvor de Santa Luzia. Milagrosa protetora dos cegos..."
A BÓIA PRONTA PARA A RAPAZIADA DO 7º B.C.R. [1932]. 

"(...)Em Turvinho. Passamos regularmente. Sacrificando penosas. Chupando favos de mel. Tomando banho de Monjolo. Água à fartura. Muito límpida. Muito fria..." - Aliás, como em outros momentos de "trégua", durante o conflito. Lembrado por Santos Amorim em seu Diário de guerra.
"(...)A rapaziada, sempre disposta, quando estava de folga, para matar o tempo, já que o inimigo não aparecia, matava penosas... Os Cabos Eurico Marianno dos Santos, Casimiro Araújo e Constantino Molitza; o Antonio Marcellino (o Tosca), o Eurico Neves, o Victor Lovecchio, o Salú, até o Athiê, e ainda muitos outros, eram os mais ferrenhos perseguidores das indefesas e desventuradas aves. No galinheiro, que o Caipira havia abandonado. Ou o paiol de milho que estava ao abandono também as buscas se sucediam..." - Horas depois, os soldados se regalavam com um jantar daqueles. Tomavam canja, comiam galinha ao molho pardo, assada, à milanesa. Ovos não faltavam, eles sabiam perfeitamente onde os encontrar. E ainda outras coisas boas saboreavam.
"(...)Só dependia de um pouco de esforço. De fazer um reconhecimento em regra. Para essa tarefa, contavam sempre com o Sargento Péricles Pitta... (...)e com o impagável Calmaria - apelido de Josias Pedro Leite, Soldado nº 1 da 1ª Cia. O 1º, pois do 7º Batalhão. Esses dois ficaram célebres na história das penosas, dos gordurosos e das leiteiras. E um grau acima deles. Com todas as honras merecidas - o então Cabo de Esquadra José Lydio de Castro... (...)Esta criatura era incansável. Andava sempre. Não parava. E os seus reconhecimentos não falhavam nunca. Ao longe, já se adivinhava que o cabo Lydio não vinha só. Trazia consigo, no mínimo, duas penosas e, às vezes, um cabrito ou um leitão. E ia logo dizendo:
- Comprei ali adiante...
Nós aderíamos ao mastigo. E não ignorávamos o preço daquilo tudo. O Caipira, coitado, era sempre a vítima... O Sargento Aristides de Castro que o diga." - Porém, nem tudo era assim um Paraíso Piratininga.
"(...)Verdade é que as pulgas - sempre as pulgas! - continuavam nos atormentando. Durante a noite. No decorrer do dia os carrapatos as substituíam... Para maior desespero nosso. O Sargento Rômulo da Costa e Silva dava o cavaco. Eu, também. Horácio Assumpção, entretanto, se declarava familiarizado com os terríveis sugadores do nosso sangue. Não os matava. Como nós fazíamos. Era piedoso..."
O BOM HUMOR DA CASERNA NA CHARGE DE E. PARA O LIVRO DE SANTOS AMORIM [1932].
          
Dia 31 de Setembro, à noite, nova viagem. Para Forquilha. Estão na estrada...
"(...)O primeiro carro, pouco distante, tomba. Fica de pneus para o ar. Tão violento fora o choque. Alguns nossos companheiros da 3ª Cia, que o ocupavam, são arremessados à distância. Dentro de um lamaçal. Ficam irreconhecíveis. Em estado deplorável. Com muito custo safam-se da lagoa lodosa. Um deles se contunde. Outros, ligeiramente. Verdadeiro milagre poupou-os a uma morte trágica. Horrível. Recordo-me de ter visto, coberto de lama da cabeça aos pés, Cyrillo Guimarães de Lima. Uma cena impressionante. A noite era gélida..." - Recolhem-se as imediações da estrada para se secar e passar a noite. A 1ª Cia prossegue, indo fazer parada em uma curva do caminho. Perto da cozinha do Batalhão 14 de Julho, que já havia deixado Taquaral. Após demorada surgem diversos caminhões. Que os transportam para a Fazenda Forquilha...
"(...)Onde acampamos. No escuro. Tendo por teto o céu. O frio continua implacável. A fedentina põe-nos desesperados e tontos..."
TENENTE MÁRIO AMAZONAS, POLYDORO BITTENCOURT (7º B.C.R.) E BRIGADA BENEDICTO DE CAMARGO [1932].

1º de Outubro. Faz sol. A manhã é esplêndida. Recebem um saco cheio de cartas. Outro com pequenos volumes. É a correspondência de casa enviada por parentes, que há mais de dois meses não vêem.
"(...)Constantino Molitzas e Annibal Caetano. Regressam de Santos. Conta-nos coisas tristíssimas. Desenroladas na Capital. E na cidade invicta de Braz Cubas. Ficamos pesarosos. É o começo do fim. Que não tardará a vir. Para desgraça de S. Paulo... (...)Durante horas seguidas. Vemos passar dezenas de caminhões. Repletos de Soldados Constitucionalistas. Retiram-se. É o que nos dizem. Mas para onde vão? É o que não sabem dizer-nos... Prevemos o que sucede. São Paulo perdeu a guerra. Abandonamos nossas posições. Para que o inimigo as ocupem. Entretanto, por que nos ocultam a verdade dolorosíssima?"


Santos Amorim avalia ao transcorrer do conflito, o papel do 7º B.C.R. na guerra. Especialmente, o envolvimento da 1ª Cia, enquanto observador perspicaz dos fatos.
Desde a entrada da Tropa na Revolução de 1932 (27 de Julho) até aquele fatídico dia de Outubro, ou sejam  73 dias, excluindo cerca de 40 que esteve na linha de fogo. Atravessou toda essa temporada avançando muito pouco, recuando bastante, ladeando sempre... Pra cá e pra lá. Sem parada fixa ou objetivo determinado.
"(...)Mas, é sabido, o soldado não avança ao encontro do inimigo, nem dispara o seu fuzil sem que, receba ordens do oficial que o comanda..."
Questiona, o combatente-repórter, o uso mais eficiente da Tropa. A falta de armamento e munição. Dificuldades e desacertos na condução dos combates, pelo menos em alguns setores. Critica duramente os desmandos da Campanha. Ser joguete dos caprichos de Comandos estranhos a Cia. Faltou-lhes, quase sempre, um Comandante com senso suficiente e a competência indispensável para os conduzir de modo satisfatório, capaz de corresponder as necessidades militares. Dissera Santos Amorim, vezes sem conta, nas trincheiras.
Marchavam com pouca vantagem para a Revolução, anulando a eficiência dos soldados. Ressentindo-se dos efeitos das frequentes viagens nos caminhões, o desconforto nos trens, as caminhadas extenuantes.
Dado este caráter de apoio, de uma Tropa volante, a 1ª Cia, do 7º Batalhão (de Caçadores da Reserva Stos) foi sem dúvida, dentre as Tropas Constitucionalistas, a que mais se movimentou ao longo do tormentoso período revolucionário. Triste fardo que lhe esteve reservado. Todavia, tendo lutado em algumas Batalhas intermediárias não a qualifica como "tropa de retaguarda", pois tomou parte em importantes combates. Como pretendessem negar a sua cooperação valiosa na luta armada. Daqueles que sempre se conduziram com bravura durante a Revolução.
Reconhece, sobretudo, através de verdades dolorosas, certos sacrifícios inúteis. Os seus soldados padeceram horrores. Não houve provação, por mais dura e penosa, a que não fosse submetidos os destemidos Voluntários do 7º B.C.R.
"(...)E não se justificava, de maneira nenhuma, semelhante situação. Estávamos em terreno pacífico. Nosso. Distantes, ainda, das forças que deveríamos combater. Não havia necessidade, portanto, dos sacrifícios que nos impuseram. Por inépcia ou vaidade tola de alguns oficiais de galões pegados com cuspe... De alguns cretinos fardados."
"(...)Entretanto, de uma coisa nos orgulhávamos - da nossa resistência sobre-humana. Que jamais permitiu a qualquer um de nós se abatesse. Não discutíamos ordens. Mesmo aquelas que eram absurdas. Cumpríamos todos com elegância moral. Com elevação cívica... (...)Não maldizemos, por isso, as vicissitudes que curtimos no decorrer da aspérrima jornada. Lamentamos apenas o tristíssimo e trágico desfecho que ela teve..."
O CORONEL FAVILLA, OFICIAIS E SOLDADOS DO 7º B.C.R. - SANTOS AMORIM ESTÁ À DIREITA, ATRÁS DO CIDADÃO DE TERNO [1932].

Depois do almoço levantam acampamento. O rumo é São Miguel Arcanjo. Não dispõe de caminhões, seguem a pé. A maior parte se locomove. Três léguas a palmilhar. Acidentadas. Subidas enormes. Descidas perigosas. Iniciam a marcha da volta. Uma procissão silenciosa. Ninguém fala. Ninguém ri... José Ferreira Coelho, Clóvis e Rômulo Costa e Silva caminham unidos. Depois, Renato Pimenta, Jorge Aun, José Antonio Oliveira e muitos outros, olhos voltados para a terra fria. Chegam a São Miguel, onde passam a noite. Ficam cientes da marcha dos acontecimentos.
Na tarde do dia 2, saem rumo direto a Pilar. São 55 Km de percurso. Vão no Carro de Socorro. É o último e o único. Vai com eles o Tenente Roberto Ralston. Chegam na madrugada. Breve pouso.
Daí embarcam para Sorocaba, partem às 19 horas numa viagem tormentosa. Seja pela chuva, a estrada lamacenta, os solavancos e atolamentos dos caminhões... Entram em Sorocaba dia 4, às 8 horas. Chovia. Almoçam na Casa do Soldado. Expressivas demonstrações de generoso apreço recebem do povo piracicabano. Apresentam-se depois ao Quartel. Onde permanecem até a tarde. Aguardando novo embarque para a Capital e enfim, regresso ao lar.
Procede-se então, a entrega de armamento e munição dos Soldados Constitucionalistas. O episódio foi carregado de emoção.
"(...)Os voluntários da 1ª Cia entram em forma. É a ordem do Cap. Samuel Franco. Vão entregar a ele, nosso Comandante, o armamento e a munição. Que S. Paulo nos confiara. Para defendê-lo no campo de luta. Redimindo-o. Libertando-o. Com o nosso sangue. Com a nossa vida.
Ficamos em linha. Um a um vai se despojando. Do fuzil. Do sabre. Dos cartuchos. Nenhum de nós se conforma com esse vexame. Manifestamos nossa revolta..." - Saem de forma. Ainda envergam a farda. Porque não tem ali o traje civil para substituí-la. Estão desarmados e de luto. Uma fita negra simbólica atada ao braço esquerdo, ao lado do coração. S. Paulo também veste luto. Todos os Paulistas.
Deixam Sorocaba. Vão para São Paulo. Após 73 dias e 73 noites de Campanha. Que forjaram a grandeza de 9 de Julho. Para não deixar São Paulo entregue, sem defesa, à sanha do adversário varguista. Cumpriram o seu dever. Honrando a Terra Bandeirante. Glorificando o Brasil. Pro Brasilia Fiant Eximia!... Para ter que depôr as armas.
"(...)Nós que íamos depôr a ditadura. E a deporíamos. Se não fossemos  atraiçoados. E os nossos irmãos que tombaram na luta sangrenta? Por que eles ficaram e nós voltamos? Seria-nos menos doloroso ficássemos também. Eles perderam a vida. Ganhando a paz eterna. E a glória. Nós perdemos a liberdade. Vivemos sob o azorrague  de feitores. Que nos oprimem. E nos escarram na face.
Por que chorar os que foram felizes?
Se os desgraçados somos nós..." - Verdade é que os apunhalaram pelas costas. Mas, o sangue que jorrou de suas feridas operou o milagre de tornar mais forte ainda, a têmpera inquebrantável de seus filhos. Contudo, se a vitória integral não foi alcançada porquanto pelejaram até o extremo instante. A culpa não lhes cabe. Todos se bateram heroicamente. Nenhum foi indigno da farda que vestiu. Nem do fuzil que manejou... Venceu o Ideal Constitucionalista!
São 18 horas. Tomam caminhões em marcha para o planalto Piratininga. A distância não é muito longa, a estrada excelente. Mas a sorte não os acompanhava. Falta gasolina nos carros. Passam a noite toda à chuva, sem agasalho. O frio enregela os ossos. Fazem a pé, uma grande parte do trajeto até conseguirem combustível. Prosseguem o caminho de retorno.
"(...)São Roque! Muita gente agrupada. Comentando, alto, o desfecho inesperado da Revolução Paulista. À nossa passagem, somos aclamados..." - Eles retribuem acenando com os capacetes de aço.
Quase 5 da manhã, param em Pinheiros. Onde descem. Servem café. Acomodam-se provisoriamente nas arquibancadas da Sociedade Hípica Paulista. Aguardam apenas a ordem de embarque para o Litoral... Saem da Estação da Luz, às 16 horas e 15 quinze minutos, em trem colocado a disposição dos Voluntários do 7º B.C.R.
 LÁ AO FUNDO A PORTUÁRIA-ESTUARINA, ITAPEMA PAULISTA.

"(...)A sofreguidão de tornar a rever a cidade querida, torna a viagem irritante. A locomotiva, parece-nos, ainda menos que um carro de bois. No entanto, ela desenvolve grande velocidade. E sem fazer paradas longas. A rapaziada, antes tão triste, torna-se de insopitável alegria. Palra. Ri. Recorda episódios humorísticos das trincheiras. Conta anedotas. Faz ironia. Lembra cenas interessantes. Em que figuram amigos ali presentes. O trem avança sempre. Já atravessamos os túneis. O alto da Serra não tarda..." - A locomotiva chega vagarosa na velha Estação S.P.R., que está repleta do povo. De senhoras e senhoritas, principalmente. Descem dos vagões para receber abraços. O momento não é de festa.

[Antonio Santos Amorim, combatente-repórter]

"(...)Eu fiz o percurso da Estação da Inglesa ao Paquetá a pé. Pelo centro da cidade. Estava barbadíssimo. Quase 90 dias sem ir ao Barbeiro... Na cabeça, o meu capacete de aço. Sobre os ombros 2 palas. E fardado. Ao pescoço, à guisa de malote, um cobertor. Perneiras pretas. Botinas reúnas. O cantil. O cinturão. E outros objetos de Campanha... (...)Até a Praça Rui Barbosa, um amigo dedicado me acompanhou. Foi ele Ramiro Calheiros. Depois deixei-o. Fui para o cais. Junto com Francisco Guaraná Menezes. Que vinha comigo das trincheiras. Tomamos a Barca... (...)Viagem das 19,26 horas. Guaraná foi-se para a Ilha de Santo Amaro. Onde reside. Eu fiquei no Itapema. Onde moro."
Estava escrita portanto, esta página importante da História Paulista. Também com a contribuição relevante de personagens das cidades do Litoral de São Paulo.
"(...)Está apresentado o meu modesto trabalho. Fruto paciente de poucos dias. Roubados ao dever profissional de cada noite. E só eu sei com que sacrifícios consegui vencer esta tarefa... O livro aí está. é o quanto basta."