__________ Itapema, suas histórias... __________

sábado, 14 de maio de 2011

ILHA DE SANTO AMARO

ILHA DE SANTO AMARO - LITORAL DE SÃO PAULO - BRAZIL.

Geograficamente a Ilha de Santo Amaro tem a forma de um "dragão alado", justamente assentada em sua cabeça está a Fortaleza da Barra Grande, enquanto que na cauda estão o Forte de São Felipe, a Ermida de Santo Antônio de Guaibê, a Armação das Baleias e na sua asa o Forte Vera Cruz de Itapema, bem como o Distrito de Vicente de Carvalho (ITAPEMA/SP). Localizada à borda do Oceano Atlântico, no Litoral Paulista e possuindo 143 Km quadrados de território.
Data de 1502 o primeiro registro documental da formação geográfica santo-amarense, quando duma Expedição de reconhecimento comandada por André Gonçalves e Américo Vespúcio, que ancorou a 22 de Janeiro (daquele ano) na costa ocidental da Ilha Guaibê, nas proximidades da Praia de Santa Cruz dos Navegantes. 
Outras expedições européias que por aqui estiveram registram a passagem pelo contorno insular, como a Armada de Sebastião Caboto em 1530.
Alonso de Santa Cruz no seu conhecido "Yslario", escreveu que por ocasião da viagem realizada como Primeiro-Oficial (de Sebastião Caboto), nos anos de 1527 a 1530, ao sul do Brasil e ao Rio da Prata teve ocasião de verificar pessoalmente que: "Dentro do porto de São Vicente há duas ilhas grandes habitadas de índios, e na mais oriental, na parte ocidental dela, estivemos mais de um mês surtos..."
ILUSTRAÇÃO DA EXPEDIÇÃO CABOTINA FUNDEADA JUNTO À PRAIA DO GÓES - ILHA DE SANTO AMARO [JOSÉ CORIOLANO CARRIÃO GARCIA] 1527-30.
 
Tal ocorria no ano de 1530 - relata o Comandante Eugênio de Castro em "A Expedição de Martim Afonso de Souza", única vez que passava por estas paragens Alonso de Santa Cruz - "e por suas palavras, como pelas Probanzas e demais documentos transcritos por Turíbio Medina, se poderá concluir que a força naval de Caboto demandou na abra do porto de S. Vicente, antes da Armada colonizadora, e veio procurando junto à atual Ilha de Santo Amaro." - Acrescenta reforçando o fato:
"Na parte ocidental dela, tomou um fundeadouro em que permaneceu um mês e o que certamente, para sua segurança, era abrigado dos ventos que ali cursam com maior intensidade - provável fundeadouro que vai por nós assinalado no mapa II, montada a Ponta da Capetuba ou dos Limões já em águas remansosas que banham a atual Praia do Góes."
MAPA REGIÃO LITORAL PAULISTA REGISTRA O CONTORNO INSULAR DA ILHA DE SANTO AMARO [SÉCULO XVI].

Historicamente a Ilha está ligada à Capitania de Santo Amaro. Era denominada "Ilha Guaimbé" pelos indígenas, "Ysla Oriental" pelos espanhóis e "Ilha do Sol" pelos portugueses. Sendo que, a figura da Ilha e seu nome aparecem no mapa de Juan de La Cosa, estampado em 1500. Também está grafado na carta cartográfica de Sebastião Caboto (1554). Nas cartas marítimas de Juan Van Dort, de 1585 e de Cornelius de Jade (1593). O mesmo com mapa da região (século XVII), por João Teixeira de Albernaz, com inscrição 'Ilha de Guaybe ou do Sól'.
Segundo o 'Diário de Navegação de Pero Lopes de Souza', quando a Expedição chefiada por Martim Afonso aqui chegou em 21 de Janeiro de 1532, de volta do Rio da Prata, devido aos fortes ventos já próximo à Península de Itaipu, e a menos de duas milhas daquele porto de Sam Vicente lançou âncoras. Diante de uma imprevista tormenta, abordo de sua nau "Nossa Senhora das Candeas", Pero Lopes afastou-se do local, indo abrigar-se dos ventos nas águas da Barra Grande fronteiriça à Ilha de Santo Amaro.
"(...)Segundafeira vinte hum de janeiro demos á vela, e fomos surgir n'hua praia da Ilha do Sol; pelo porto ser abrigado de todolos ventos. Ao meo dia veo e galeam Sam Vicente surgir comnosco, e nos disse como fóra nam se podia amostrar vela, com o vento sudoeste..." - Pelas anotações do navegador português, a Ilha do Sol encontrava-se na altura de "vinte e quatro graos e hum quarto."
ARMADA COLONIZADORA AFONSINA ANCORADA ÀS MARGENS DA ILHA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [BENEDITO CALIXTO] 1532.

Conforme escritura de Estevam da Costa, genro de Martim Afonso, redigida em 31 de Dezembro de 1536, este ancorou sua Esquadra primeiramente na costa ocidental da Ilha de Santo Amaro (chamado Porto das Naos [da Barra Grande] - dito por alguns historiadores "Porto do Sol", na Praia do Góes), e então seguiu para São Vicente. É nesse mesmo documento que vê-se o uso da denominação Ilha de Guaibê. A palavra de origem indígena significa "separada", alusão à separação das terras da Ilha, das dos continente. Há ainda outra versão (segundo Varnhagen), o nome Guaimbé que a Ilha recebeu dos indíos, seria devido a planta aquática, que dá em cacho seu fruto, a qual noutras paragens do Brasil dizem Aninga. Ou também, significando "cipó de amarrar".
CIPÓ IMBÉ - POSSÍVEL ORIGEM DA DENOMINAÇÃO INDÍGENA PARA A ILHA GUAIMBÉ (SANTO AMARO) - JEAN BAPTIST DEBRET.


No ano da fundação da Vila Vicentina (1532), em carta do dia 28 de Setembro, D. João III escreve ao Almirante colonizador informando sobre a resolução de dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias [imagem à esquerda]:
"(...)e antes de dar a nenhuma pessoa, mandei apartar para vós cem léguas, e para Pero Lopes, vosso irmão, cinquenta dos melhores limites desta costa..." - Uma parte desta doação passou a designar a Capitania de Santo Amaro.

[à direita Brasão de Pero Lopes e da Capitania de Santo Amaro]

Compreendia dez léguas de costa, encravada junto à Capitania Vicentina, entre a foz do Rio Curupacé (hoje Juquerepacé), limítrofe a São Sebastião (ao Norte) e a boca do Rio São Vicente (ao Sul) - em medidas atuais aproximados 130 Km de costa, os limites da Capitania Santo-amarense extendendo-se para o planalto, dentro da demarcação imposta pelo Tratado de Tordesilhas. Sendo a Ilha de Santo Amaro, cabeça da Capitania, incluindo em sua costa marítima localidades como Buriquióca, Boissucanga, Maembipe (São Sebastião) e Ilha (Pequena) Barnabé.  
A Capitania de Santo Amaro foi doada efetivamente em 1534, a Pero Lopes de Souza pelo Rei português, com a finalidade de ser colonizada, cuidada e promovida. Assim, mandou construir instalações e designa administrador. Os irmãos Martim Afonso e Pero Lopes de Souza fizeram contrato com João Venist, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves para formação de um engenho para fabrico de açúcar, onde entraram com a autorização de uso das terras.
ESTAMPA DO NAVEGADOR PORTUGUÊS PERO LOPES DE SOUZA - DONATÁRIO DA CAPITANIA DE SANTO AMARO DE GUAÍBE [SÉCULO XVI].

Consta que o Donatário, a princípio, teria pessoalmente colonizado suas Capitanias, organizando viagens para o envio de colonos, implementos agrícolas, sementes, mudas de plantas, ferramentas, trabalhadores de ofício etc. Por vezes o próprio Pero Lopes capitaneando a frota, in loco a acompanhar o desenvolvimento das Capitanias nas temporadas que passa pela costa marítima da terra de Bresil.
Gabriel Soares, afirma que conduzindo Armada às suas custas e em pessoa foi povoar a Capitania de Itamaracá com moradores que levou do Porto de Lisboa, donde partiu. No que gastou alguns anos e muito dinheiro. Acrescenta que fizera um Engenho em Santo Amaro [Capitania] que também foi povoar pessoalmente. 
MAPA DE JOÃO TEIXEIRA DE ALBERNAZ [SÉCULO XVII] ILUSTRA A EXTENSÃO DA CAPITANIA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA.

Pelo ano de 1536, o vigário Gonçalo Monteiro (Capitão-Lugar-Tenente de Martim Afonso) concedeu terra de sesmaria na Ilha de Santo Amaro, cercanias da Fortaleza da Barra Grande, a Estevão da Costa:
"(...)Faço saber aos que esta minha carta de dada de terras virem, que por Estevão da Costa que ora à dita Capitania [S. Vicenti] veio em este ano passado me dizer que vive em viver, e ser povoador em a dita Capitania, pedindo-me que eu lhe faça proveito, e serviço ao dito Sr. Governador, de lhe dar terras com que viver, e fazer roças de canas e algodões, e o que a terra der; confiando no dito Estevão da Costa lhe dou e hei por dadas as terras seguintes da Ilha de Guaíbe defronte desta Ilha de S. Vicente onde todos estamos, a qual terra está devoluta sem nenhum proveito..." - Denota-se que, ainda aí chamavam-lhe "Ilha de Guaíbe", sendo somente dita Capitania de Santo Amaro de Guaíbe a partir da carta de nomeação (1542) do Locotenente e Ouvidor de D. Isabel de Gambôa, esposa e tutora dos dois filhos de Pero Lopes. Nesta sesmaria de Estevam da Costa, em 1544 devido à prosperidade da empreitada, José Adorno (tripulante da Armada Afonsina) teria mandado construir uma Capela, tendo por orago Santo Amaro.
GRAVURA REPRESENTANDO A FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE E SESMARIA DE ESTEVÃO DA COSTA - CAPITANIA SANTO-AMARENSE [LITORAL PAULISTA].
 
Até 1545, a referida Donataria de Santo Amaro era conhecida legalmente somente como Capitania da Sra. Isabel de Gambôa e seu filho Pero Lopes de Souza. Diz Frei Gaspar: "a primeira vez que vejo fazer-se menção da Ilha de Santo Amaro mas, sem este nome, e ainda como o de Guaibe, como incluída nas 50 léguas de Pero Lopes, até no fim do ano de 1543, é no Termo de Vereação de 22 de Dezembro, no qual o escrivão que o lavrou chama a Gonçalo Affonso, Ouvidor de Guaimbé, por ser Ouvidor das 50 léguas..."
Depois de um primeiro momento de interesse pela Capitania de São Vicente, Vila de Santos e adiante as terras do Sul, a ocupação mais efetiva dirigiu-se também para o Norte da região, voltando-se para a Ilha Oriental (Guaimbé).
Os Locos-tenentes designados haviam concedido muitas sesmarias na Ilha de Guaimbé, que de 1545 em diante, estava mais ou menos povoada, observa Benedito Calixto no seu livro 'Capitanias Paulistas'.
Vale ressaltar que por volta de 1533, Jorge Ferreira (integrante da Esquadra Colonizadora Afonsina), já implantara sesmaria em ITAPEMA/SP, do outro lado da Ilha, margem esquerda do estuário Guarapissumã, com fazenda, plantações e criação de animais.
DETALHE MAPA REGIÃO DE ITAPEMA ("ASA DO DRAGÃO) - ILHA DE SANTO AMARO [JOÃO TEIXEIRA ALBERNAZ] 1631.

Com o desaparecimento de Pero Lopes, e consequente morte num naufrágio na altura de Madagascar (1542), herdaram posse Pedro Lopes de Souza, o filho primogênito. Depois sucedido pelo irmão Martim Afonso Sobrinho, ambos sob tutela de D. Isabel de Gamboa, então Donatária.
Ocorre que devido ao precoce falecimento dos filhos, estes não deixaram descendentes, cabendo à D. Isabel de Gambôa toda herança, todavia perdeu-se a linha sucessória de herdeiros diretos. 
O vigário Gonçalo Monteiro administrou a Capitania e aqui distribuiu sesmarias. Foi substituído em 1543, por Antônio Gonçalo Afonso (procurador e ouvidor da Donatária), primeiro Capitão-mor da Capitania de Santo Amaro de Guaíbe. Sucedeu-lhe o Capitão-mor Cristovão de Aguiar de Altero, Cavaleiro Fidalgo (1544).

[Capitão Jorge Ferreira - Capitania de Santo Amaro]

Pelo seus préstimos seria escolhido Capitão-mor e ouvidor da Capitania de Santo Amaro, Jorge Ferreira (entre 1545 e 1556), com provisão de D. Isabel de Gambôa e nomeado por D. Duarte da Costa.
No ano de 1547, repassou Jorge Ferreira sesmaria, na Ilha do Sol, a Manuel Fernandes. 
Coube ao Capitão Jorge Ferreira estabelecer em 1559, a sede da Capitania - a Vila de Santo Amaro.
Onde José Adorno e sua mulher Catarina Monteiro fundaram a Capela dedicada a Santo [Mauro]. O historiador Francisco Adolfo de Varnhagen documenta a localização da Vila:
"Nesta ilha, da banda de fora, e a umas três léguas ao norte de São Vicente onde se faz uma enseada fronteira à Ilha [Pombeva], se fundou a primeira povoação com o nome de Vila de Santo Amaro." - Todavia, o povoado não prosperou, a Capela ruiu e as alfaias foram entregues a Cristovão Diniz, almoxarife, em 24 de Setembro de 1576. Por causa desta Capela originou-se a denominação de Ilha (Capitania) de Santo Amaro.
Registra o historiador Frei Gaspar:
"O mencionado Jorge Ferreira e mais habitantes principais de Guaibe, intentarão criar nela uma Vila e, com efeito, derão princípio a uma povoação, e nesta edificarão uma Capela dedicada a Santo Amaro. O título da Capela não só se comunicou à povoação, mas também à Ilha, como fica dito, e o nome desta passou às 50 léguas de Pero Lopes, as quais entrarão a chamar-se Capitania de Santo Amaro, depois que erradamente supuserão incluída nelas a Ilha do mesmo nome." - Essa povoação ou Vila de Santo [Mauro] teve duração efêmera. Na obra de Frei Gaspar há ainda este apontamento:
"Em Santo Amaro e Guaibe nunca houve Vila alguma; até a povoação de Jorge Ferreira se extingiu antes de ter Pelourinho, e subir a maior predicamento, igual foi o sucesso da primeira capela do santo abade, a qual também se arruinou totalmente e por esta razão os almoxarifados da Fazenda Real guardaram as suas alfaias, segundo consta de um Livro da Provedoria da Fazenda Real de S. Paulo onde vem a carga, que dela se ao almoxarife Christovão Diniz, aos 24 de Setembro de 1576."
Nas Cartas dos Jesuítas (1549 em diante), há entretanto, várias referências à Vila de Santo Amaro, na Ilha de mesmo nome, conquanto esta povoação não tivesse alçado condição de Vila, nem Pelourinho.    
MAPA REGIÃO DO LITORAL PAULISTA ASSINALA A ILHA E VILA DE SANTO AMARO [JOÃO TEIXEIRA DE ALBERNAZ] 1586.
LOCALIDADE DA ILHA SANTO-AMARENSE NA PRAIA DE PITANGUEIRAS (1940) - ONDE O CAPITÃO JORGE FERREIRA ASSENTOU A VILA DE SANTO AMARO EM 1559.

Estas igrejas fundadas na Ilha de Santo Amaro estimularam a vinda de padres, das distintas Ordens Religiosas, dentre as quais Jesuítas e Carmelitas que aqui catequizavam pequenos grupos de indígenas e exerciam a liderança espiritual dos colonos. Muito embora divergentes, as mesmas atendiam os interesses de predomínio da Igreja Católica Romana, no processo de colonização do Brasil.
Algumas propriedades possuíam simples capela para as orações ou tinham mesmo uma igreja erigida no local, reunindo moradores próximos. Ficaram registros da Capela Nossa Senhora da Apresentação, Capela de Santa Cruz do Riacho (em Itapema), Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, Capela do Crumahú, Capela dos Escravos (na Fazenda Perequê - século XVIII).
Em função disso os clérigos estabeleceram suas bases catequéticas e de evangelização dos ilhéus de Santo Amaro. Dentre estas, no Morro dos Macacos foi erguida uma Capela, mais adiante o Convento da Paciência, mantidos pela Ordem Terceira do Carmo.
Assim como em Conceiçãozinha, gleba pertencente aos Jesuítas, ministravam-se catequese e sacramentos.
RUÍNAS DA ERMIDA DE SANTO ANTÔNIO DE GUAIBÊ - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] 1560.

Durante suas diligências pela região José de Anchieta (Reitor do Colégio de S. Vicente - 1558) e o Padre Manoel da Nóbrega pernoitaram e celebraram missa na Ermida de Santo Antônio de Guaibê, também construída (1560) por José Adorno, radicado nestes arredores da península do "rabo do dragão".
Lá por 1554, o jesuíta José de anchieta promovia a "civilidade" dos indígenas através da música (canto-coral), com audições na Vila de São Vicente. Tendo a participação de índios catequizados das tribos Guyacurus, dos Purus, daquelas localidades de "Guaiaho", "Ilha do Sol", "Catiapoã" e "Rio Bugre".
Os padres Manoel da Nóbrega e Anchieta (acompanhados de José Adorno) tiveram papel importante no conflito entre os Tupis e colonizadores portugueses. Sobretudo, por selar o Tratado de Paz de Iperoig (Ubatuba), em 1563. 
Mais tarde com a extinção do colégio dos Jesuítas (1585), os padres da Companhia de Jesus perderam a predominância e influência sobre a atividade religiosa.
Viveu na região de Morrinhos, pelo século XVIII, o padre Antonio José Pinto (chamado Emboaba).
Constituindo os primeiros passos do catolicismo na Ilha de Santo amaro.
CARTOGRAFIA DA ILHA DE SANTO AMARO COM INDICAÇÃO DAS RUÍNAS DA CAPELA E DO CONVENTO DA PACIÊNCIA [LITORAL PAULISTA].

Pelo ano de 1557, a Donatária (viúva de Pero Lopes) tornou Antônio [Roriz] Rodrigues de Almeida, Capitão-mor de Santo Amaro de Guaíbe, conforme procuração lavrada em Lisboa, à 22 de Julho daquele ano. Este não encontrando na Donataria (Capitania) de Santo Amaro um lugar apropriado para sua residência, porque era ainda um deserto só povoado por ferozes Tamoios e animais bravios, despachava da vizinha Vila de S. Vicente.
Outro que teria sido designado Capitão-mor da Capitania Santo-amarense, foi Jorge Pires.
No período de 1562 e 1579, vigora enquanto Capitão-mor e ouvidor Antônio [Roriz] Rodrigues de Almeida.
Meramente engano e falta de conhecimento da situação e correta demarcação do território foram as causas que introduziram a Capitania de Santo Amaro num longo litígio familiar. Esta posse das terras esteve cercada de muitas dissensões entre os pleiteantes da Capitania Santo-amarense e os legatários de Pero Lopes de Souza. As informações geográficas obtidas seriam tão incertas e confusas, que originaram em demoradas demandas judiciais envolvendo os beneficiários de Martim Afonso e Pero Lopes. Como foram feitas várias doações além dos entendidos limites territoriais e outras tantas nomeações, principalmente por Antônio [Roriz] Rodrigues de Almeida e outros administradores, fizeram-se reclamantes os demais herdeiros.
MAPA DA CAPITANIA DE SANTO AMARO INDICA LOCALIDADES DA MARINHA E CONSTRUÇÕES - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVI].

Aparece como donatária da Capitania de Santo Amaro de Guaíbe, a irmã de Pero Lopes e Martim Afonso, D. Jerônima de Albuquerque Souza (viúva de D. Antônio de Lima). Em 1577 assumiu a filha desta, D. Isabel de Lima de Souza e Miranda, esposa de André de Albuquerque.
Nesse mesmo ano (1577) exercia o mando da Capitania, Lourenço da Veiga, o qual substabeleceu a Salvador Correia de Sá, que concedeu sesmarias pela Capitania de Santo Amaro. 
André de Albuquerque, em 1584, figura na condição de Donatário. Sucedido então por Lopo Lopes de Souza (primo de D. Isabel de Lima), no final do século XVI (1500).
Brás Cubas era Provedor da Fazenda Real da Capitania de Santo Amaro. Na data de 8 de Março de 1597, deferiu juramento e deu posse a João de Abreu, na serventia vitalícia do ofício de Almoxarife da Capitania Santo-amarense, mercê que lhe fizera, por provisão de 17 de Janeiro de 1595, o Governador-Geral do Brasil, D. Francisco de Sousa, em atenção e recompensa aos serviços prestados pelo mesmo Abreu a El-Rei, acudindo de seu bolso a todas as guerras havidas nesta região contra os índios rebelados.
O donatário Lopo Lopes de Souza proveu Capitão-mor da Capitania Santo-amarense, Antônio Pedroso de Barros (1607). Mais tarde assumiria como Capitão-mor (seu irmão) Pedro Vaz de Barros. Foi sucedido por Gaspar Coquero.
DETALHE MAPA ASSINALA A ILHA E VILA DE SANTO AMARO MAIS SESMARIA DE ESTEVÃO DA COSTA E FORTIFICAÇÕES - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVI].
  
Como Lopo Lopes de Souza faleceu em 1610, sem deixar descendência, a sua herança passou à irmã, D. Mariana [Pero] de Souza Guerra - "Condessa de Vimieiro" (1611 à 1623), cujo esposo era D. Francisco Faro. Depois ao seu filho D. Sancho de Faro e Souza. Seguido do neto da Condessa de Vimieiro, D. Diogo de Faro e Souza. Herdou então sua irmã, D. Mariana de Faro e Souza, "Condessa da Ilha do Príncipe".
BRASÃO DE ARMAS DA CONDESSA DE VIMIEIRO.

As questões entre os parentes advinham de há muito tempo. Fosse pela divergência sobre a linha sucessória, tanto como a legitimidade dos herdeiros de Martim Afonso e Pero Lopes de Souza. Por conta dos limites das Capitanias de S. Vicente e Santo Amaro, cujas reivindicações da Condessa de Vimieiro abrangeria até a Barra de Bertioga. Enquanto para os pleiteantes do Conde de Monsanto, a Capitania de Santo Amaro teria sua linha divisória não somente a partir do estuário Guarapissumã, estendendo-se às Vilas de Santos, S. Vicente e mais ao Sul. Além de extensões das terras do Sertão Piratininga. Conforme o entendimento a Ilha de Santo Amaro estaria inclusa numa ou noutra.
Ainda lá no ano de 1545, residindo a Ilha de Guaimbé estava o Ouvidor da donataria de D. Izabel da Gambôa, então Gonçalo Affonso. Este por fatuidade, ou por comodidade para as suas funções de Ouvidor, é quem teve a idéia de anexar às terras da dita senhora, a Ilha de Guaimbé, na qual havia se estabelecido e propôs à mesma que "as divisas de suas terras seriam daí em diante não pela Barra da Bertioga, mas sim pela Barra Grande de Santos." - Menção de Bendito Calixto, in 'Capitanias Paulistas'.
Também arrogava a causa de D. Izabel, posteriormente da Condessa D. Mariana [Pero] de Souza Guerra, o ex Capitão-mor Jorge Ferreira instigando esta célebre questão de terras entre os Vimieiros e Monsantos pela Capitania santo-amarense.
Ressalta Frei Gaspar, os donatários quando aqui estiveram, e depois seus Loco-tenentes, "haviam concedido sesmarias de terras em Guaibe a João Ramalho, Jorge Ferreira, Christovam Monteiro, José Adorno e Antonio Macedo, filho de João Ramalho, e a outros irmãos seus, cunhados do dito Ferreira; de sorte que eles, seus parentes e amigos - possuíam quase toda a Ilha, e por isso fez - com a sua autoridade - que os principais habitantes de Guaibe obedecessem ao filho de Pero Lopes."
A posse da Ilha de Santo Amaro, da qual se arrogaram os Locos-tenentes de D. Izabel de Gambôa, no tempo do Ouvidor Gonçalo Affonso, tanto como do Capitão Jorge Ferreira e outros, já estava afinal quase nulificada pelo fato de não terem os donatários, nessa Ilha, uma povoação para servir de sede à sua Capitania.
No ano de 1622, é nomeado Capitão-mor da Capitania de Santo Amaro, João Moura Fogaça.
BRASÃO DA CAPITANIA DE SANTO AMARO SOB MANDO DO MARQUÊS DE CASCAIS [SÉCULO XVII].

D. Luiz Alvares Pires de Tayde Castro Noronha e Souza, "Marquês de Cascaes" (Conde de Monsanto VII), filho de D. Inês Pimentel, portanto bisneto de Martim Afonso, que já questionava direitos concedidos a outros parentes, impetrou a demanda judicial pela posse da Capitania de Santo Amaro de Gauíbe, considerando-se legítimo herdeiro. Em 1620, o Conde de Monsanto consegue ganho de causa e assume as capitanias da família (São Vicente, Sant'Ana e Santo Amaro).
Escrevem os camaristas da Vila de S. Vicente num documento, em Junho de 1621, dirigindo-se a Martim Corrêa de Sá (Governador Geral) e ao Conde de Monsanto, que a dita Capitania de Santo Amaro em a qual teve Capitão e Ouvidor per si, e há muitos anos que já nesta Ilha (Donataria de Santo Amaro) não há Vila, nem Justiça, por se despovoar. Tanto mais relatam:
"(...)E dizem que a Capitania de Santo Amaro não tem Vila nenhuma que é uma Ilha que o Rio de Santos faz, indo por este acima; e por dentro vai outro rio fazer outra Barra, para banda do Norte deste, a que chamam Barra de Bertioga, e esta Ilha é Santo Amaro, que fica sobre a costa, tem hoje três a quatro homens apenas que lavram no sítio e fora o que há por dentro do rio, mas moram na Vila de Santos..." - Seguem informando os camaristas:
"(...)A doação de V.S. diz que é do Rio de Curupacé até o Rio de S. Vicente, onde se estenderão dez léguas; e daí, da banda do Norte se porá um padrão, e cortará uma linha direita pelo rumo de L'oeste..."
Ainda no ano de 1621, proveu Capitão-mor da Capitania Santo-amarense Manuel Rodrigues de Morais.
Em 1622, nomeia Fernando [Fernão] Vieira Tavares como Capitão-mor da Capitania de Santo Amaro. Sucedeu-lhe o Capitão-mor Álvaro Luís do Vale (1624).
Na data de 24 de Fevereiro de 1624, a posse das capitanias, inclusive a Capitania de Santo Amaro, passou ao Conde de Monsanto VII definitivamente.
DETALHE MAPA ILHA DE SANTO AMARO PERTENCENTE AO CONDE DE MONSANTO - LITORAL PAULISTA [1640].

Francisco Luís Carneiro de Sousa no ano de 1679, obteve do Príncipe Regente [D. Pedro II] reconhecimento da antiga demarcação das capitanias, contrariando o Marquês de Cascaes, e retomou a posse.
A pendência deste litígio que divergia a respeito da linha sucessória de herança, sua abrangência em relação às capitanias, as demarcações de limites, distintas nomeações, apenas contribuíram para que parte da história da Capitania de Santo Amaro se misturasse aos relatos sobre a Capitania de São Vicente, impedindo uma leitura destacada, visão precisa dos fatos, do cenário no qual formou-se a Capitania Santo-amarense.
Em Carta Régia de 11 de Janeiro de 1692, seria confirmada pelo El-Rei D. João V, a doação da Capitania de Santo Amaro ao Marquês de Cascaes (Conde de Monsanto).
MAPA CAPITANIA SAM VICENTE LIMÍTROFE À ILHA DE SANTO AMARO, INÍCIO DA CAPITANIA SANTO-AMARENSE - LITORAL PAULISTA [JOÃO TEIXEIRA ALBERNAZ] 1631.

Resolveu então, o Conde de Monsanto VII vender as terras das Capitanias (Santo Amaro e Sant'Ana). José de Góis de Morais, Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, filho do Capitão-mor Governador Pedro Taques de Almeida, intentou (através de procuradores em Lisboa) comprar pelo preço de 40.000 ducados mais 5 mil liras, as cinquenta léguas que tinha por costa pertencente ao Conde de Monsanto (englobando as dez léguas da Capitania de Santo Amaro).
Alertado o Rei de Portugal (D. João V), foi feita uma proposta ao Conde de Monsanto oferecendo igual quantia em dinheiro paga pela Fazenda Real e ficasse as ditas capitanias incorporadas à Coroa Portuguesa, e consequentemente ao Patrimônio Real. Oficializada por Alvará de Compra emitido em 22 de Outubro de 1709.
Assina-se a respectiva Escritura de Compra e Venda, na data de 19 de Setembro de 1711. Sendo a Escritura definitiva lavrada perante a Câmara da Vila de São Paulo, a 25 de Fevereiro de 1714.
Os controversos limites entre as capitanias (São Vicente e Santo Amaro), quanto a divergente sucessão de herdeiros donatários permitiu aos descendentes de Martim Afonso e Pero Lopes de Souza (que se julgavam mandatários) nomear indistintamente Capitães-mores, ouvidores, dentre outros. Essas nomeações indiscriminadas de administradores para o mesmo cargo tirava aos seus respectivos detentores a responsabilidade do exercício de autoridade, restringia suas ações de empreendimento e deixava a Capitania instável de governo. Isso prejudicou a ampla ocupação da Ilha, tanto como o efetivo desenvolvimento da Capitania Santo-amarense.
DETALHE MAPA ILHA DE SANTO AMARO ASSINALA O FORTE VERA CRUZ DE ITAPEMA - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVII].

Devido a concessão de glebas na metade do século XVI, a atividade agrícola cresceu valendo-se da mão-de-obra silvícola (indígenas) e do trabalho escravo (índios prisioneiros e negros africanos). Desde 1534 a Capitania Santo-amarense contribuía com a produção açúcareira da região com seus canaviais, plantio agrícola de subsistência (mantimentos), criações de animais, pesca, extração de minérios e madeira. 
É nesta época, seja pela proximidade com o porto santense e caminho de escoamento de produtos dos fazendeiros da Ilha de Santo Amaro, que ITAPEMA/SP (pertencente a Capitania Santo-amarense) insere-se na atividade econômica do Litoral brasileiro quinhentista, como sesmaria de Jorge Ferreira. Anos mais tarde, Francisco Nunes Cubas adquiriu estas terras compradas de seu descendentes.
Foram concedidas igualmente sesmarias a diversos outros interessados: João Ramalho, Brás Cubas, Estevam Raposo Bocarro, Domingos Garrocho, Rodrigo Álvares (1557), Cristovam Monteiro (1556), João Teixeira de Carvalho (1724).
LABUTA NO CANAVIAL SIMILAR AO TRABALHO NAS PLANTAÇÕES DA ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].

Mapas do período apontam a implantação de engenhos como o do Governador ou do Trato, estabelecido por iniciativa de Pero Lopes e Martim Afonso, junto ao Rio Crumaú (1534). Engenho de Nossa Senhora da Apresentação (pertencente a Manoel de Oliveira Gago (1560), ficava ao fim do Rio Crumaú com saída para o Rio Bertioga). Engenho Nossa Senhora da Aparecida, fundado por Gonçalo Afonso (1560) nas imediações do Rio Crumaú. Engenho de Santo Amaro, estabelecido por Estevão Raposo (1565). Engenho Santo Antônio, fundado por Antonio Fernandes, junto à igreja de Santo Antônio de Guaíbe. O Engenho Antonio e o de Bartolomeu Antunes. Outra carta cartográfica do século XVII assinala fazendas, o Engenho dos Bairros e habitações.
ENGENHO SÃO JORGE DOS ERASMOS REMANESCENTE DO PERÍODO COLONIAL BRASILEIRO [LITORAL PAULISTA].
INSTALAÇÕES DE UM ENGENHO DE CANA-DE-AÇÚCAR E SUA MOENDA (RANCHO EM BERTIOGA) SIMILAR AOS CONSTRUÍDOS NA ILHA [CAPITANIA] DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA.

A partir de 1543, tendo sido o porto deslocado da "Ponta da Praia" (defronte aos rios Icanhema e "do Meio") para o povoado de Enguaguaçú, no Largo de Caneú, pelo Rio S. Vicente adentro, além do fator de proteção contra ataques corsos (piratas), ficou mais cômodo a movimentação de ilhéus, o escoamento de produtos das fazendas da Ilha de Santo Amaro e arraiais do entorno, bem como a ligação com o planalto Piratininga.
Já em 1539, os habitantes da Ilha de Santo Amaro e arrabaldes próximos, costumavam ir todos os domingos à Capitania Vicentina para ouvir missa e tratarem de negócios. Querendo evitar fatigantes e não raro perigosas viagens por mar, desembarcavam no "porto das canoas" (em terras de Paschoal Fernandes e Domingos Pires), foz do córrego São Jerônimo, no povoado de Enguaguassú, donde seguiam por terra para aquela Vila, num percurso de légua e meia, aberto por estes (caminho do marapé).
Relatório - 'Descrição de Todo Marítimo da Terra de S. Crus Chamado Vulgarmente Brasil', relata ser a Capitania de Santo Amaro de terras férteis, "e tem esta Ilha boas fazendas e engenhos de açúcar." - Parte considerável em território da "Vargem Grande".  
Segundo Luiz D'Alincourt, mantínhamos plantações, conjuntamente com a Vila de Santos e adjacências, de café, mandioca, do melhor arroz, cacau, algodão, milho, feijão, banana, cana para o fabrico de açúcar, água-ardente e pequena criação avícola, bovina e de porcos.
DETALHE MAPA LOCALIZAÇÃO ILHA SANTO-AMARENSE NA CAPITANIA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVII].

Conforme publicado no livro 'Notícias do Brasil', pelo colono português Gabriel Soares de Sousa (1587) em visita a região, descreve ele que o Rio S. Vicente, "o qual tem a boca grande e muito aberta, onde se diz a Barra de Estevão da Costa. E quem vem do mar em fora, para conhecer a Barra, verá sobre ela uma ilha com um monte, da feição de moela de galinha, com três mamilões. Por esta Barra entram naus de todo porte, as quais ficam dentro do rio mui seguras de todo tempo; pelo qual entra a maré cercando a terra de maneira que fica em Ilha muito chegada à terra firme, e faz este braço do rio muitas voltas."
Continua Gabriel Soares de Sousa em seu relato:
"(...)e entrando por este rio acima está a terra toda povoada de uma banda e da outra de fazendas mui frescas, e antes que cheguem à vila estão os engenhos dos Esquertes (Schertz) de Flanders e o de José Adorno..." - Referências essas à margem esquerda da Ilha de Santo Amaro.
"(...)e tornando à ponta de de Estevão da Costa que está na boca da Barra, dela a três léguas ao longo da costa, está a Vila de Santo Amaro, junto da qual está o Engenho de Francisco de Barros.
MAPA DETALHE BARRA GRANDE ILHA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA.

Diz ele, a Capitania ter ares frios e temperados, cuja terra é mui sadia e de frescas e delgadas águas, em as quais se dá o açúcar muito bem, e se dá trigo e cevada, do que se não usa na terra, por os mantimentos dela serem muito bons e facílimos de granjear, de que os moradores são mui abastados e de muito pescado e marisco, onde se dão tamanhas ostras que têm a casca maior que um palmo, e algumas muito façanhosas. Do trigo usam somente para fazerem hóstias e alguns mimos.
Dão-se nesta terra todas as frutas, às quais a formiga não faz nojo, nem a outra cousa, por se não criar na terra como nas outras capitanias; dão-se uvas, figos, romãs, maçãs e marmelos em muita quantidade. E também há já nesta terra algumas oliveiras que dão fruto, e muitas rosas, e os marmelos são tantos que os fazem de conservas, e tanta marmelada que a levam a vender por as outras capitanias.
Tem muita caça de porcos e veados, e outras muitas alimárias e aves, e criam-se aqui tantos porcos e tamanhos que os esfolam para fazerem botas, e couros de cadeiras, e que acham os moradores mais proveitosos e melhor que de couro de vacas.
Considerando-se isso, a Ilha (Capitania) de Santo Amaro não esteve tão relegada da atividade econômica no período da colonização, quanto possa parecer pela escassez de relatos históricos.
GRAVURA REPRESENTANDO A ILHA DE SANTO AMARO (GUAIMBÊ) E REGIÃO COMO PALCO DAS BATALHAS ENTRE TUPINIQUINS, TUPINAMBÁS E LUSITANOS - LITORAL PAULISTA [HANS STADEN] SÉCULO XVI.

Com a permanência definitiva dos colonos lusitanos, naqueles idos do século XVI verifica-se as primeiras incursões sistemáticas dos Tupinambás descidos de Iperoig (Ubatuba). Os índios guerreiros passam a rondar diariamente as localidades da marinha (São Vicente, Enguaguassú, Cubatão, Piaçaguera, Cabraiaquáara, Titiguapara, Peruti, Ilha Pequena, Itapema, Ilha Guaimbê, Cabuçu, Itapanhaú, Buriquióca), semeando intranquilidade entre os moradores. Algumas outras tribos Tupiniquins vivendo nestas cercanias demonstravam igual animosidade. Em Setembro de 1542, tem-se registro de uma ofensiva por parte dos Tupinambás à região. Os moradores da Ilha de Santo Amaro, devido aos constantes ataques dos Tamoios, haviam nessa época abandonado suas casas e lavoura, recolhendo-se às Vilas de Santos e S. Vicente ou migrando para o lado da Praia Grande, até Itanhaém, onde já existia então uma povoação de cristãos.
A construção duma rudimentar Casa-Forte (por volta de 1547), na foz do Rio Bertioga, adjacente à Ilha Guaimbê (Capitania de Santo Amaro), chamou a atenção dos Tamoios de Ubatuba. Logo que isso descobrem, preparam uma invasão. Centenas deles partem em canoas. Atacam de madrugada. Portugueses e mamelucos correram para uma casa de pau-a-pique, e ali se defendem. Os indígenas aliados protegeram-se nas cabanas e resistem quanto podem. Muitos Tupinambás perecem, mas por fim derrotam os habitantes de Buriquióca. Somente colonos e mamelucos salvam-se. Capturam todos os índios adversários, esquartejam os cativos dividindo-os entre si. Depois rumaram para a sua Taba.
DETALHE MAPA PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" (CAPITANIA DE SANTO AMARO) E FOZ DO RIO BERTIOGA [LITORAL PAULISTA].

Por causa disso, deliberaram os habitantes edificar outro Fortim (Forte São Felipe) à margem d'água, bem defronte na Ilha Guaimbê (Santo Amaro), pois os guerreiros Tamoios evitavam o mar aberto sacudido pelas vagas. Então colocar canhões e gente para impedir os indígenas rebelados acessar o Rio Bertioga ou a terra firme pelos caminhos da Ilha do donatário Pero Lopes de Souza, até o estuário Guarapissumã, acossando a Vila de Santos, Ilha pequena (Barnabé), Itapema e Vila de São Vicente. Boiçucanga, mais adiante (paragens dos Tupiniquins) também viveu ranhidas batalhas envolvendo os dois povos Tupis e os colonizadores lusitanos.
VISTA DA PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].

Nesses tempos, Hans Staden (Aventureiro, Artilheiro alemão, protestante), tripulante de uma pequena Esquadra Hispânica, no ano de 1549, naufragado na Costa Marítima Sudeste da Terra Brasilis (Itanhaém) veio aparecer na Vila de São Vicente, relacionando-se com os habitantes do Litoral Paulista e acabou envolvido no conflito entre os índios Tupinambás e os portugueses. Sendo informado das vicissitudes enfrentadas pelos colonos nas localidades da marinha.
Buriquióca era o lugar onde os Tamoios inicialmente chegavam. Diogo Braga (vivente da terra) amancebado duma índia, remotamente habitava o lugar com seus cinco filhos mamelucos, mais alguns indígenas aliados. Plantando roçaria de mantimento, pesca de peixes e coleta de frutos do mar, extraindo víveres das matas próximas, fazendo trabalhos de carpintaria. Providenciou o levantamento de uma rudimentar Casa-Forte cercada de "Estacada" (barreira de troncos).
Este ponto do Litoral representava a primeira defesa das Capitanias (Vicentina e Santo-amarense) e deveria ser melhor fortificada. Se fazia necessário erigir um Forte de pedras às margens da Ilha de Santo Amaro, cruzando fogo com Buriquióca, mas não havia Artilheiro português disposto a arriscar a vida permanecendo ali.
AMURADA DO FORTE SÃO FELIPE (PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO") - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULO XVI.
    
Hans Staden interessou-se. "Fui ver o logar. Quando os moradores souberam que eu era allemão e que entendia de Artilharia, pediram-me para ficar no Forte e ajudal-os a vigiar o inimigo. Promettiam dar-me companheiros e um bom soldo..." - Assim construíu-se o rústico Forte São Felipe (depois edificado e rebatizado São Luís).
"(...)A maior parte do tempo estive no Forte com mais tres e tinha algumas peças commigo, mas estava sempre em perigo dos selvagens porque a Casa não estava bem segura. Era necessario estar alérta para que os selvagens não nos surprehendessem durante a noite, o que varias vezes procuram; porém Deus sempre nos ajudou, e sempre os percebemos..." - Decorridos quatro meses.
HANS STADEN RAPTADO PELOS TUPINAMBÁS NA ILHA DE SANTO AMARO, REGIÃO DO "RABO DO DRAGÃO" (PRAINHA BRANCA) - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVI].
HANS STADEN CATIVO DOS TAMOIOS NAS PARAGENS DA CAPITANIA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVI].
TUPINAMBÁS MALOCADOS EM MAEMBIPE (CAPITANIA DE SANTO AMARO) PARTEM PARA GUERRA CONTRA OS TUPINIQUINS [LITORAL PAULISTA] SÉCULO XVI.
BATALHA DE BOISSUCANGA (CAPITANIA DE SANTO AMARO) ENVOLVENDO GUERREIROS TUPINIQUINS, TUPINAMBÁS E PORTUGUESES - LITORAL PAULISTA [HANS STADEN] SÉCULO XVI.
TAMOIOS RETORNAM A SÃO SEBASTIÃO (CAPITANIA DE SANTO AMARO) APÓS COMBATE EM BOISSUCANGA, TRAZEM PRISIONEIROS OS FILHOS DE JORGE FERREIRA E DIOGO BRAGA QUE SERIAM DEVORADOS - LITORAL PAULISTA [HANS STADEN] SÉCULO XVI.  

Em 1550, quando caçava nas "picadas" da Ilha Guaimbê, cercanias da Prainha Branca (península do "rabo do dragão"), o Artilheiro alemão à serviço das autoridades portuguesas foi raptado pelos Tupinambás.
Dentre muitas situações de perigo, Hans Staden participou de combates deflagrados pelos Tupis na Capitania de Santo Amaro. Esteve na batalha de Boissucanga, onde capturam o filho (de mesmo nome) do Capitão Jorge Ferreira e outro mameluco que chamava-se Jerônimo [Braga], parente consanguíneo de Diogo Braga (colono de Buriquióca). Cortaram-nos em pedaços e assaram a carne num banquete antropofágico em Maembipe (São Sebastião). Auxilia na fuga de dois cativos (irmãos) mamelucos da família Braga, um de nome Diego.
Desenrolando-se numa saga de vida e morte para Staden, enquanto prisioneiro dos canibais Tamoios.
FORTE SÃO FELIPE (DEPOIS REBATIZADO SÃO LUÍS), PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] 1552.

Os canibais Tupis atacam "com furor tão destemido e constância tão porfiada, que pouco faltou para desalojarem todos os brancos, temerosos de suas empresas crudelíssimas." - Colocando pavor aos colonos, sofrendo o entorno sério colapso com o abandono das terras.
Documento de 1556, concedendo gleba a Cristovão Monteiro relata a situação vivida naquele ínterim:
"(...)e porque até agora como estaa dito he notório a dita ilha (Guaibê) esteve e estaa despovoada, e inhabitavel por respeito das muitas guerras succedidas nestas Capitanias de S. Vicente e Santo Amaro, pelo qual respeito havendo este impedimento, o supplicante nam ouzou de fazer sua fazenda nas ditas terras, sem embargo de nelas trazer muito gado vacum, tempos atrás fez canaviais e roçaria de mantimentos nas ditas terras e ora com ajuda de Nosso Senhor tem ordenado com seus cunhados e parentes e alguns índios principaes da terra, tornar a roçar, e fazer Fazenda nas ditas terras..."
Nomeado Pascoal Fernandes como Condestável das Fortalezas, em 1557, estabeleceu-se no Forte São Felipe. Contudo, nem isso encorajou um maior povoamento da Ilha Santo-amarense, tal o medo de novas investidas dos indígenas inimigos. Leia-se o que está documentado num trecho da Carta de Sesmaria em favor do Condestável, de 1º de Junho de 1562, passada pelo Capitão-mor Antonio [Roriz] Rodrigues de Almeida:
"(...)por elle [Pascoal Fernandes] estar e residir na dita Fortaleza de S. Fellipe com sua mulher e filhos, sem haver outro morador nem povador da dita ilha, senam elle dito supplicante..."
Quando neste momento (1556), descontentes dada a invasão dos colonos lusitanos, escravagismo de sua gente para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar, a morte de muitos dos seus, os Tupinambás juntam todas as tribos Tupis contrárias aos peros (portugueses) e formam a Coalizão dos Tamoios, revolta liderada pelos Caciques Tupinambás, gerando sangrentos confrontos na Costa Marítima Sudeste, desde às águas da Guanabara à Capitania Vicentina.    
Somente com o armistício estabelecido em 1563, apaziguando indígenas e portugueses, diminuem as investidas Tamoias.
FOZ DO RIO BERTIOGA E PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" - CAPITANIA (ILHA) DE SANTO AMARO ONDE SUCEDERAM BATALHAS ENTRE PORTUGUESES E TUPINAMBÁS [LITORAL PAULISTA].

Tamanhos embates, naquelas primeiras décadas da colonização portuguesa, contra os nativos e usurpadores das riquezas da Costa Marítima Brasilis, levou à necessidade de maior defesa da terra ocupada. Providenciam as autoridades vigentes a construção de mais fortificações dotadas de Artilharia e Guarnição. Tanto em outros arrabaldes da marinha, quanto pela Ilha de Santo Amaro.
Desta forma, mandam erigir o Forte de Itapema (1557), margem esquerda do Rio São Vicente, da outra banda da Ilha (região da "asa do dragão").
Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande (1584), posicionada na "cabeça do dragão", entrada do estuário Guarapissumã, nas imediações de Santa Cruz dos Navegantes.
Fortim do Góes (dito Santo Antônio) - 1766, construído na Praia do Góes ("cabeça do dragão"), junto a Barra Grande da Ilha Santo-amarense.
Exercendo função importante na guarda desta região do Litoral, garantido as Vilas e povoados surgidos, como consolidação da tomada lusitana.
FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE ("CABEÇA DO DRAGÃO") IMEDIAÇÕES DE SANTA CRUZ DOS NAVEGANTES - ILHA SANTO-AMARENSE [LITORAL PAULISTA] 1584.
FORTE VERA CRUZ DE ITAPEMA - REGIÃO DA "ASA DO DRAGÃO" [LITORAL PAULISTA] 1557.
FORTIM DO GÓES (DITO SANTO ANTÔNIO) NA "CABEÇA DO DRAGÃO" - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] 1766.
 
Registros históricos datados 1605 informam que à época havia apenas um grupo de brancos (militares) residindo no Forte São Felipe. Muitos subiram para o planalto ou recolheram-se ao abrigo da Vila de Santos e Vila de São Vicente. Contudo, alguns permaneceram espalhados em pontos diversos da Ilha de Santo Amaro.
Não logrou êxito a Capitania de Santo Amaro, neste processo de colonização, ainda que tenha tido melhor sorte dentre outras, contribuindo numa certa medida para a produção agrícola da Colônia. Reputa-se devido a dificuldade de acesso, seu relevo, a presença de indígenas hostis propiciando pouca segurança aos colonos, fatores que impediram seu largo povoamento. Aliás, fracasso do regime de Capitanias Hereditárias instituído no Brasil pela Coroa Portuguesa.
MAPA REGISTRA O CONTORNO INSULAR DA ILHA SANTO-AMARENSE, A FORTALEZA DE SANTO AMARO DA BARRA GRANDE, O FORTE VERA CRUZ DE ITAPEMA E ENGENHO - LITORAL PAULISTA [FREI JOÃO JOSÉ DE SANTA TEREZA].

Apesar das sérias dificuldades de povoamento, já na metade do século XVIII era possuidor de terras o Capitão José Bonifácio de Andrada (avô do Patriarca da Independência Brasileira), "cujas terras estavam situadas no sítio do Porto de Santo Amaro (extensão de terra conhecida como "Casa Grande") englobando Morrinhos, Saco do Funil e adjacências, nas fraldas do Morro dos Macacos entre os Sítios Cachoeira e o Glória".
Alexandre Luís de Souza Menezes menciona uma Fazenda Conceição (1756), gleba pertencente aos Jesuítas, estuário acima, pros lados de ITAPEMA/SP.
Em 1765, descreve o Censo, a paisagem era de alguns sítios com seus canaviais e suas moendas, com seus charcos cobertos de arrozais, plantações de café e atividade pesqueira, que davam para o consumo da região. Em 1770 subsistiam alguns engenhos pertencentes à Joana da Motta e Fernando Leite Guimarães.
MAPA COSTA MARÍTIMA SUDESTE ASSINALANDO A ILHA DE SANTO AMARO MAIS LOCALIDADES DA MARINHA - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVIII].

Por esta época também os Botelhos (família do Poeta Vicente de Carvalho) possuíam vastas propriedades na Ilha de Santo Amaro, sendo utilizadas no cultivo de cana-de-açúcar e água ardente.
José Antonio da Fonseca Gouveia, Cirurgião-mor da Guarnição Militar, na Vila de Santos (antepassado de José Menino), mantinha propriedades agrícolas na Ilha denominadas Sítio Monduba e Sítio Porto do Guaibê, bastante produtivas em arroz e água-ardente. 
O Censo da Capitania de S. Paulo naquele ano de 1772, identifica ainda prosperarem na Ilha Santo-amarense, engenhos de cana-de-açúcar em que começavam a trabalhar pretos africanos chegados para substituir os índios, raros já, os quais não podiam ser escravos.
ILUSTRAÇÃO DE UMA CAÇA À BALEIAS DE FORMA TRADICIONAL.

Com o mar banhando a Ilha de Santo Amaro abundante em recursos naturais, tem início (meados de 1700) a produção de óleo de baleia e outros derivados, no extremo insular ("rabo do dragão") feita a instalação da Armação. Foi empreitada por Feliciano Gomes Neves e Silvestre Correa, arrematantes do Real Contrato de Pescaria de Baleias. Esteve sob administração de Ignácio Pedro Quintana e Companhia. Sendo o local escolhido pelo fato de haver disponibilidade de água, madeira abundante nas matas para os fornos e fundeadouro propício para atracação das naus, além do atracadouro estar abrigado do mar aberto.
"(...)uma verdadeira vila movimentada surgiu repentinamente naquele extremo da Ilha de Guaibê..." - Citam as crônicas da época.
RUÍNAS DA ANTIGA ARMAÇÃO DE BALEIAS (REGIÃO DO "RABO DO DRAGÃO") - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULOS XVIII E XIX.
 
John Mawe, mineralogista, assim descreve em 1807 a Ilha de Santo Amaro numa visita à Armação de Baleias:
"O famoso porto (da Armação, na dita Ilha) é bem abrigado dos ventos, e a própria cidade, situada no topo da colina, acha-se protegida das inclemências do tempo e, às vezes, bastante quente. A base da colina é de granito primitivo, composto de anfibólio, feldspato, quartzo, e mica. Belas nascentes de água, jorrando de vários pontos, dão grande variedade ao cenário, e uma agradável frescura ao ar. Embora o lugar apresente aspecto pobre, não se observam indícios de miséria..."
As instalações consistiam numa casa de sobrado, armazém, tanques de azeite, casa do engenho, três casas para amarras e barcos, casa dos feitores, casa dos baleeiros, trinta senzalas para escravos negros e cais de pedra.
MAPA PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" INDICA A LOCALIZAÇÃO DA ARMAÇÃO DE BALEIAS - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULOS XVIII E XIX.
FOZ DO RIO BERTIOGA E PENÍNSULA DO "RABO DO DRAGÃO" (ILHA DE SANTO AMARO) - REGIÃO ONDE FUNCIONOU A ARMAÇÃO DO REAL CONTRATO DE PESCARIA DE BALEIAS [LITORAL PAULISTA] SÉCULOS XVIII E XIX.

Além da carne e objetos feitos de ossos: pentes, agulhas de teares etc. A matéria-prima graxa era aproveitada para a construção civil e iluminação, exportada para Portugal, abastecia São Paulo, Rio de Janeiro e também utilizada em Santos. Exerceu importante papel na economia da região, mantendo ainda uma sucursal de Armação de Baleias na Praia do Góes ("cabeça do dragão"), junto à Barra Grande da Ilha Santo-amarense (1766).
Outra Armação Baleeira funcionava em São Sebastião, nas águas limítrofes da Capitania.
DETALHE CARTA TOPOGRÁFICA DO SÍTIO DA PRAIA DO GÓES COM AS INSTALAÇÕES DA SUCURSAL DA ARMAÇÃO DO REAL CONTRATO DE PESCARIA DE BALEIAS - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULOS XVIII E XIX.
PRAIA DO GÓES ("CABEÇA DO DRAGÃO") ABRIGOU OUTRA ARMAÇÃO DE BALEIAS - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULOS XVII E XIX.
 
Foi ainda a Ilha de Santo Amaro ativo entreposto comercial de escravos entre os séculos XVIII e XIX. Consta que neste período o número de escravos negros seria maior do que o de colonos livres. Valêncio Teixeira Leomil, proprietário de terras na região norte da Ilha, era traficante de escravos e mantinha grande número de negros cativos na Fazenda Perequê, conhecida pela Capela dos Escravos erguida no século XVIII.
Outro que também valia-se da mão-de-obra escrava foi João Teixeira Chaves, contando com 63 cativos para a produção do Engenho dos Chaves, enorme latifúndio estendendo-se do Rio Bertioga até o Morro Santo Amaro, além das várzeas da Praia da Enseada e grande parte de Pitangueiras.
FAZENDA PEREQUÊ CONHECIDA PELA CAPELA DOS ESCRAVOS - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA] SÉCULO XVIII.
PRAIA DA ENSEADA DE SANTO AMARO LOCAL DE DESEMBARQUE DE NEGROS ESCRAVOS - ILHA SANTO-AMARENSE [LITORAL PAULISTA] SÉCULO XVIII.

As Ordens Religiosas utilizavam-se do trabalho escravo, empregando negros em suas fazendas e sítios do Itapema e no restante da Ilha Santo-amarense. Sejam Jesuítas ou Carmelitas da Ordem Terceira do Carmo (Fazenda Conceição e sítios do Convento da Paciência). Mesmo os jesuítas da Companhia de Jesus que defendiam a Liberdade dos nativos indígenas, admitiam a escravidão do africano. Pedindo à Coroa Portuguesa, negros da Guiné para seus serviços tal qual fez Manoel da Nóbrega em carta. 
Devido a proibição ao tráfico, os navios negreiros burlavam a fiscalização Alfendagária do Porto de Santos desembarcando as "peças da África", na Praia da Enseada de Santo Amaro. Os negros ficavam alojados em barracões, vendidos ali eram enviados ao interior do Estado de São Paulo clandestinamente. Também provendo as necessidades dos engenhos locais.
DETALHE MAPA DA REGIÃO INDICANDO A POSIÇÃO GEOGRÁFICA DA ILHA DE SANTO AMARO E LOCALIDADES DA MARINHA - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVIII].

Num relato de 02 de Fevereiro de 1809, por Francisco Xavier da Costa Aguiar, Capitão-mor, lamenta que apesar de férteis as terras da região, inclusive Santo Amaro, padeciam de braços para a lavoura em grande escala. Produzindo de tudo um pouco, aquém daquilo que poderia.
Na segunda década do século XIX (1817) registros apontam Ana Luísa da Silva como proprietária em terras do Rio Icanhema e Issangaba.
Aviso Régio de 21 de Outubro de 1817, republicado 60 anos depois na Revista Nacional de Sciências, Artes e Letras (1877) descreve denominações, extensões, senhorios, títulos de terras da região da Ilha de Santo Amaro. Sítios, fazendas ou localidades:
Morrinho - do cume mais alto, parte de um lado com terras do Estaleiro e de outro com terras de Manoel Rodrigues. Pertencente ao Capitão-mor João Baptista da Silva Ramos, por título de compra. Estão arrendadas para a Feitoria da Casca de Mangue para curtume.
Crumahú - do pico do morro, parte de um lado com terras do Emboaba e de outro com terras do Capitão Manoel de Alvarenga Braga. É patrimônio da Capela de Nossa Senhora da Apresentação, ereta no mesmo sítio do qual é administrador o Tenente-Coronel José Vicente de Oliveira, cultivada por Pedro Francisco da Costa.
S. João do Crumahú - do pico do morro, parte de um lado com terras de Nossa Senhora da Apresentação e de outro com terras de João Antonio de Souza. Pertencente ao Capitão Manoel de Alvarenga Braga, por título de compra.
Maratão-há - parte de um lado com o rio chamado Maratão-há e de outro com um segundo rio que vai para o Sítio do Sacco, os fundos parte com terras do Convento do Carmo e do dito Sacco [do Funil]. Pertencente ao Capitão Manoel de Alvarenga Braga, por título de compra.
MAPA REGIÃO DO LITORAL PAULISTA REGISTRA O CONTORNO INSULAR DA ILHA DE SANTO AMARO [SÉCULO XVIII].

Emboaba - parte de um lado com terras da Capela do Crumahú, sem cultura, seu dono partiu para as Minas e nunca mais se soube.
Varjão ou Sambaqui - parte dos fundos com terras do padre Antonio José Pinto, chamado Emboaba e de outro com o rio de nome Agoa Branca. Pertencente aos herdeiros do falecido Sargento-mor Manoel Angelo Aguiar, sem cultivo.
Caxueira de Santo Amaro - parte de um lado com terras de José da Silva Santos e de outro com terras de D. Maria Barboza da Silva. Pertencente à D. Maria Rosa de Oliveira, por título de herança.
Porto de Guaibê - do pico do morro, parte de um lado com terras da Olaria e de outro com terras de Theodoro de Menezes Forjaz. Pertencente à D. Rosa Maria Leite, por título de compra.
Porto de Santo Amaro - parte de um lado com terras de D. Maria Rosa de Oliveira e de outro com terras da Glória. Pertencente à D. Maria Barboza da Silva, por título de compra.
Conceição - parte de um lado com o rio chamado Santo Amaro e terras de D. Maria Rosa de Oliveira e de outro com terras do Itapema. Pertencente ao Dr. [médico] Joaquim José Freire, por título de arrematação dos bens dos extintos Jesuítas.
Itapema - parte de um lado com terras da Conceição e de outro com o Rio Acarahy e terras do Convento do Carmo. Pertencente uma parte a Alexandre Dias, por título de herança.
Acarahy - parte de um lado com o Rio Acarahy e D. Maria Rosa de Oliveira, também com terras de Itapema e de outro com terras do Sítio Maratão-há. Pertencente ao Convento do Carmo, por título de doação.
Todas as propriedades produtivas empregavam mão-de-obra de negros escravos.
MAPA ILUSTRA A EXTENSÃO DA COSTA MARÍTIMA DA CAPITANIA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [SÉCULO XVIII].

Será dada estatisticamente como habitada pelo Censo de 1822, primeiro ano do Império Brasílico de D. pedro I. Conforme recenseamento em Lista Geral dos habitantes existentes, suas ocupações, condição, empregos, abrangendo Itapema até as cercanias da Praia de Guarujá.
Em 1854, relevante era o comércio de açúcar na região, produzindo-o ainda alguns engenhos da Ilha de Santo Amaro, entretanto a lavoura de cereais havia desaparecido, utilizada apenas como subsistência. Nesses idos (1866) possuía terras a Venerável Ordem Terceira do Carmo.
No final do século XIX, ainda prevalecem os entraves para o amplo povoamento do solo santo-amarense. Subsistem propriedades como da Srª Maria Marta, "suas terras estendiam-se dos sítios próximos ao Morro Pitiú, incluindo os terrenos rochosos entre a Praia das Pitangueiras e Astúrias". Dos herdeiros de Antonio Faves, com terras na Ponta Grossa.
Até este momento a Ilha de Santo Amaro viveu sua vocação agrária e extrativista constituída de fazendas, sítios, engenhos, feitoria de curtume, atividades pesqueiras artesanais e indústria baleeira, acontecendo em diferentes regiões. Com as plantações, moendas, manejo de animais, destilarias, estaleiros, armações, olaria, homens e mulheres que eram sua força de trabalho, surgiria efetivamente uma ocupação de propriedades isoladas por toda Ilha. Ao contrário do que ocorreu com a Vila de São Vicente (sede administrativa) bem como à Vila Santense, as quais formaram também núcleos citadinos.
UM "DRAGÃO ALADO" -  O INCONFUNDÍVEL FORMATO GEOGRÁFICO DA ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL DE SÃO PAULO].

Diversas circunstâncias (algumas aqui citadas), ao decorrer dos séculos geraram um indiscutível processo de decadência nas atividades agrícolas do Litoral Paulista e consequente morosidade do progresso. A bem da verdade, a região sempre hesitou quanto à sua vocação.
Finalmente a "Ilha do Sol" seria descoberta pela beleza de suas praias oceânicas, orlas de areia branca e se tornaria um recanto paradisíaco, ao estilo dos famosos balneários europeus.
VILA BALNEÁRIA DA ILHA DE SANTO AMARO - LITORAL PAULISTA [BENEDITO CALIXTO] 1896.
RECANTO DA VILA BALNEÁRIA - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].

Em 4 de Setembro de 1893, Elias Pacheco Jordão, fundaria a Vila Balneária da Ilha de Santo Amaro, para receber turistas da elite paulistana hospedados em confortáveis chalés e no requintado Hotel de La Plage (Praia das Pitangueiras).