__________ Itapema, suas histórias... __________

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

RODOVIA PIAÇAGUERA [SP-55/248 - LESTE]

RODOVIA PIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI) ITAPEMA/SP.

Avançando a vegetação de Mata Atlântica ao sopé da Serra do Mar, morros, ribanceiras, rios (desde Cubatão/SP à área continental de Santos/SP), vencendo o mangue, cursos d'água, pela restinga, cortando antigos bananais de Áurea G. Conde, já em ITAPEMA/SP - a Rodovia estadual Piaçaguera construída parte (25% dela) sobre a vargem grande itapemense, foi inaugurada no ano de 1970.
Piaçaguera: termo de origem tupi-guarani significa expressamente "porto velho, abandonado" - peaçaguera. Designa também o rio que desce a Serra de Paranapiacaba em direção à Baixada Paulista cursando na localidade do antigo Porto de Cubatão, travessia fluvial que os colonizadores portugueses faziam (Século XVI) para alcançar o Planalto de Piratininga.
TRAJETO DA RODOVIA PAIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI).
PERCURSO TOPONÍMICO DA RODOVIA PIAÇAGUERA.

Sua construção teve início em 1961. Tinha por intenção desafogar o trânsito na travessia marítima de Balsas (ferry-boat), bem como criar nova rota que ligasse o continente à Ilha de Santo Amaro.
Diante das extremas dificuldades impostas pelo terreno (problemática de acesso e falta de suporte do solo) em vários trechos, consideravelmente o trajeto de ITAPEMA/SP, a Empreiteira vencedora da concorrência pública acabou desistindo do contrato, depois de 200 dias de trabalho. No ano de 1964, a Empreiteira que assumiu e conduziu a obra foi a City (pavimentação e terraplenagem).
ABERTURA INICIAL DO TRAÇADO NA VEGETAÇÃO PARA A RODOVIA PIAÇAGUERA.

Além das dificuldades do terreno pantanoso, outro problema enfrentado foram as chuvas constantes da região, que apresentava um dos maiores índices pluviométricos do país. (cerca de 5 mil mm cúbicos/ano). As chuvas se faziam presentes em 250 dias durante o ano, e quando eram excessivamente intensas impediam o trabalho de terraplenagem. Muitas vezes as máquinas tinham de ser deslocadas de sua função para socorrer caminhões ou aqueles tratores que estavam atolados num lamaçal.
Para implantação da Estrada foi utilizada a abertura de um berço com 32 m de largura por 4 m de profundidade, destinado ao leito carroçável. Que seria preenchido com areia de densidade semelhante a do solo da região, a areia possibilitou o ponto de equilíbrio necessário, funcionando como uma "grande balsa", que flutua no mangue e sustenta o aterro da Rodovia Piaçaguera. Em alguns trechos o mangue chegava a ter 40 m de profundidade, composto de matéria orgânica inconsistente e sem capacidade de suporte. Nos pontos em que o terreno era um pouco mais firme foi adotado o sistema de bermas: lançava-se direto sobre o solo original um aterro prévio, argiloso com largura suficiente para a distribuição das cargas e para evitar que o terreno cedesse ante o próprio peso do aterro (com aproximadamente 1,50 m de altura).
A Estrada consumiu o equivalente em números de caminhões para encher um Maracanã - cerca de 20.000 viagens, cada uma transportando em média 10 toneladas de terra.
AUTORIDADES INSPECIONAM OBRAS FINAIS DE PAVIMENTAÇÃO DA RODOVIA PIAÇAGUERA.

No seu percurso adentra-se uma passagem subterrânea, denominada "Túnel do Quilombo" e pontes. Estas ficaram a cargo de 'Souza Baker' (ponte transpondo o Rio das Onças, Quilombo e Jurubatuba). 'CODRASA' encarregada da ponte do Rio Diana. 'Ribeiro Franco' responsável pela primeira ponte sobre o Canal da Bertioga (proximidades do Morro Magdatá), ligando ITAPEMA/SP ao continente, e mais adiante outra por cima do Rio Santo Amaro.
AO FUNDO A PRIMEIRA PONTE NAS PROXIMIDADES DO MORRO MAGDATÁ LIGANDO ITAPEMA/SP AO CONTINENTE.

Com tantas dificuldades técnicas para a sua conclusão, a Rodovia Piaçaguera foi alvo de muitas críticas, especialmente no que diz respeito ao seu alto custo. A preços de Fevereiro de 1970, o custo do quilômetro pronto da rodovia foi estimado em aproximados 1 milhão de cruzeiros-novos. Porém, os defensores do empreendimento argumentavam que o mangue tinha de ser vencido a qualquer custo e que essa realização representaria uma experiência muito valiosa para a evolução da Engenharia nacional. A Estrada, entretanto era cercada de muitas expectativas com base na sua importância econômica e estratégica, uma vez que seria o primeiro acesso rodoviário entre o continente e a Ilha de Santo Amaro, ligando à Estância Balneária de Guarujá, a Base Aérea e permitiria o aproveitamento do cais de Conceiçãozinha, em ITAPEMA/SP.
TRECHO INICIAL DA RODOVIA PIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI) EM ITAPEMA/SP [2010].
RODOVIA PIAÇAGUERA TRAJETO ITAPEMA/SP.
RODOVIA DOMÊNICO RANGONI (PIAÇAGUERA) TRECHO ITAPEMENSE.
PERCURSO RODOVIA PIAÇAGUERA ITAPEMA/SP.
TRÁFEGO INTENSO NA RODOVIA PIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI) ITAPEMA/SP.

Atualmente seu prefixo oficial é SP-55/248 (Rodovia Domênico Rangoni), sendo SP-248 Leste (trecho entre ITAPEMA/SP e o trevo da Rodovia Manuel Hipólito Rego - Rio/Santos, no Monte Cabrão). Denomina-se SP-55 (percurso entre a Rio/Santos e a Rodovia dos Imigrantes).
Possui extensão de 30,6 quilômetros, vindo do Km 270 ao Km 248 (Cubatão/Santos). E do Km 1 ao Km 8, parte no Itapema. Estando interligada à Rodovia dos Imigrantes, percorre o complexo Petroquímico Industrial da cidade cubatense, o território continental santista e estende-se pelo Distrito itapemense (neste seu trecho mais urbano) rumo às praias guarujaínas.
Após várias obras ao decorrer dos anos foi reformulada e conta com 2 vias, cada uma com 3 faixas de rolamento, acrescida de uma segunda ponte paralela à antiga sobre o Canal da Bertioga (década de 1990) e novos viadutos.
EXTENSÃO DA RODOVIA PIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI) LADEADA PELO DISTRITO ITAPEMENSE/SP.
PASSAGEM DA RODOVIA PIAÇAGUERA SOBRE O RIO SANTO AMARO.
VISTA LONGITUDINAL DA RODOVIA DOMÊNICO RANGONI (PIAÇAGUERA).
VISTA DO VIADUTO DE ACESSO AO BAIRRO MORRINHOS [ITAPEMA/SP] SOBRE A RODOVIA PIAÇAGUERA.
PERCURSO RODOVIA PIAÇAGUERA SENTIDO CAPITAL PAULISTA [ITAPEMA/SP].
VIADUTO DE ACESSO AO SENTIDO ITAPEMA/CAPITAL PAULISTA NA RODOVIA PIAÇAGUERA.
RODOVIA PIAÇAGUERA NOVA PONTE SENTIDO CAPITAL PAULISTA [ITAPEMA/SP].

Á beira da Rodovia Piaçaguera (Domênico Rangoni) tem se desenvolvido atividades retroportuárias com Terminais de diversos carregamentos, através do modal caminhão. Devido o aumento da movimentação dos Terminais de contêineres e carga em ITAPEMA/SP, a rodovia é a principal via de ligação portuária para chegar ao Porto na margem esquerda itapemense, esta apresenta congestionamentos constantes, assim transtornando a vida de moradores, turistas e caminhoneiros a enfrentar dezenas de quilômetros de lentidão.
TERMINAL DE CONTÊINERES NA RODOVIA PIAÇAGUERA [ITAPEMA/SP].
À BEIRA DA RODOVIA PIAÇAGUERA INSTALAM-SE TERMINAIS DE CONTÊINERES E CARGAS DIVERSAS [ITAPEMA/SP].
RODOVIA PIAÇAGUERA ACESSO AO PORTO NA MARGEM ESQUERDA ITAPEMENSE.
CONGESTIONAMENTO NA RODOVIA PIAÇAGUERA (DOMÊNICO RANGONI) ITAPEMA/SP.

Todavia, a Estrada vai cumprindo seu papel histórico, caminho necessário, a também interligar o Planalto Paulista à Região Litorânea. Levando e trazendo desenvolvimento econômico, à aproximar os visitantes das belezas naturais do nosso Litoral.
FAROL DA ENTRADA DE ITAPEMA/SP NA RODOVIA PIAÇAGUERA KM 2.

TRADIÇÃO E DESENVOLVIMENTO

SEJA BENVINDO! 
 

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ESTALEIROS ITAPEMENSES

'ITAPEMA REPARO DE BARCOS' - TELA DE GIOVANNI ÓPPIDO.

Ainda nos primórdios do Porto, a margem esquerda itapemense, dentro da atividade portuária, serviu ao trabalho de carpintaria naval, reparo de mastros e velas, mão-de-obra de trabalhadores navais.
Por aqui construíam-se, aparelhavam-se antigamente rijos cascos de madeira de lei, com mastros pesados de velame. Bergantis, escaléres, veleiros, eram o mister destes estaleiros itapemenses. Dos trabalhos respeitantes à profissão de marinheiro, viviam então muitos homens em todo o litoral,  a confeccionar avariada vestimenta dos mastros e seu velame, conserto de leme, que empregavam mestres navais, carpinteiros, entralhadores etc.
Nas margens do bairro da Bocaina desenvolveram-se diversas atividades marítimas, uma delas foi a carpintaria naval com o Estaleiro Lazzarini e outro do Mestre José dos Santos Cláudio, cujo estaleiro no ano de 1914 figurava na revista 'A FITA', quando do lançamento ao mar da lancha a motor "Brioso" construída para a Companhia de Pesca "Santos". Evocados na poesia de Lydio Martins Correa:
          "(...)Aí rebocadores
           Foram construídos nesses arredores,
           No estaleiro naval... eu lembro ainda,..."
ESTALEIRO MESTRE JOSÉ DOS SANTOS CLÁUDIO - BOCAINA 1914 [ITAPEMA/SP].
ESPECTADORES EM LANÇAMENTO DE BARCO AO MAR - ESTALEIRO MESTRE JOSÉ DOS SANTOS CLÁUDIO [ITAPEMA/SP].
ESTALEIRO DO MESTRE JOSÉ DOS SANTOS CLÁUDIO [ITAPEMA/SP - 1914].

Em 04 de Agosto de 1931, o jornal 'A TRIBUNA' traz matéria sobre os trabalhos no Estaleiro Lazzarini. Destacando a construção de imponente barco nos estaleiros do construtor naval, Sr. Vicente Lazzarini, para a Sociedade de Navegação Itanhaém Ltda, destinado ao transporte de bananas. Sob o traçado do técnico Sr. Júlio Ruiz.
Considerada a mais importante construção naval feita naquele momento no Estado paulista, inteiramente com materiais nacionais. A embarcação tinha 25 metros de comprimento, de boca 6 m e de pontal 2,40 m, deslocando 160 toneladas. Toda a sua estrutura em madeira de lei, podendo-se concluir, pelo conjunto do cavelame, da sua grande resistência. Tudo de procedência nacional, inclusive pregos de ferro ou de cobre, cavilhas, arrebites e outros acessórios de metal, fornecidos pela 'Casa Pharol', à Praça Iguatemy Martins (Santos).
Os motores, 2 à diesel têm 50 H.P. cada um, de fabricação alemã.
O custo estimado é de 180:000$000. E previsto o mês de outubro para lançá-lo à água.
As Firmas proprietárias são: Simões, MIchel e Cia - Miguel, Dias e Clérigo - O. Ribeiro Filho - Praça e Amargos - Fortes e Martinez - Arnaud e Irmãos Rodrigues - Dr. Affonso Krug - José Ribeiro de Araújo e Antenor de Azzevedo. Todas proprietárias de bananais em Itanhaém e nossa região, também pertencentes ao Centro de Agricultores de Santos.
ESTALEIRO LAZARRINI - EMBARCAÇÃO A MOTOR EM CONSTRUÇÃO [ITAPEMA/SP - 1931].

Ao longo da margem de ITAPEMA/SP abrigavam-se estaleiros desde a Bocaina até as imediações da "Prainha", à desembocadura do Rio Santo Amaro. Havia intensa atividade nestes estaleiros de reparo e construção de traineiras, catráias, pequenos barcos em madeira e rebocadores. Casos em que os estaleiros forneciam água, tintas, lubrificantes, conserto de peças para os navios atracados durante estadia tanto na Bocaina, quanto por todo o Porto santense. Sendo a Wilson, Sons S.A proprietária de alguns deles.
O Sistema de Travessia Marítima de Barcas de Itapema, também possuía uma doca ao lado da Estação para manutenção de suas embarcações.
Tinha instalações aqui pelos anos de 1960, o Estaleiro dos irmãos Manoel e Albino Marques Nabeto, junto ao atracadouro de catráias.
Outro próspero Estaleiro de construção naval era o 'Moura & Irmão', especializado na feitura de barcos de cabotagem e pesca, lanchas, chatas etc.
ESTALEIRO DOS IRMÃOS MANOEL E ALBINO MARQUES NABETO [ITAPEMA/SP].
ANÚNCIO DO ESTALEIRO 'MOURA & IRMÃO' [ITAPEMA/SP].
ESTALEIRO 'MOURA & IRMÃO' - BARCO EM CONSTRUÇÃO [ITAPEMA/SP].
DOCA DO SISTEMA DE TRAVESSIA MARÍTIMA DE ITAPEMA/SP PARA REPARO DAS BARCAS.

A paisagem de estaleiros itapemenses à margem esquerda da Ilha de Santo Amaro, inspirou muitos pintores em suas telas como Ianelli, Óppido, Oehlmeyer, Costa Simões, Athayde Lopes, Jorge Araújo e Marangoni. Registro singular da portuária marinha itapemense.
'ESTALEIRO EM ITAPEMA' - TELA DE EDGARD OEHLMEYER.

Descreve o Capitão Jessé Rolim, que "a Salgado Filho era um enorme aparato de maritimidade. Tinha cara que fazia remo de caxeta, consertava redes. A gente via aquelas redes enormes penduradas lá, estaleiros... (...)O Itapema girava em torno da pesca, do aparato marítimo. A maioria dos rapazes, das pessoas daqui trabalhavam em relação à pesca, consertando motores, calafetando embarcações, trabalhando nos estaleiros..."
PREPARO DE EMBARCAÇÃO NUM ESTALEIRO NA DESEMBOCADURA DO RIO SANTO AMARO.
DURVAL AGUIAR NO SEU ESTALEIRO [ITAPEMA/SP].
EQUIPE DO ESTALEIRO 'MOURA & IRMÃO' [ITAPEMA/SP].
PESSOAL DO ESTALEIRO 'MOURA & IRMÃO' A BORDO DE BARCO EM CONSTRUÇÃO.
BARCA ITAPEMENSE/SP NO ESTALEIRO.

Todavia houve um declínio do setor. Processos de manufatura e materiais industrializados (aço, alumínio, resina), despendendo mais maquinário, equipamentos, ferramentas, a carpintaria na construção naval teve seu mercado restringido ao atendimento da demanda por barcos pesqueiros e de lazer, algumas embarcações de apoio marítimo, e às atividades ligadas ao reparo naval.
E mesmo aqueles que dominavam o trabalho com metal construindo rebocadores, barcas, balsas, atracadouros flutuantes, se viram tolhidos pelos acontecimentos futuros.
ESTALEIRO ESTRELA MARGEM ESQUERDA ITAPEMENSE/SP.
PESSOAL DO ESTALEIRO ESTRELA PREPARANDO EMBARCAÇÃO [ITAPEMA/SP].
EMBARCAÇÕES ATRACADAS NO ESTALEIRO ESTRELA.
A MARGEM ITAPEMENSE UTILIZADA PARA DESMONTE DE EMBARCAÇÕES AVARIADAS.

Com a passagem da malha ferroviária da antiga R.F.F.S.A., em meados dos anos de 1970, margeando o Distrito, desapropiou os terrenos ao longo da Rua Salgado Filho, diversos estaleiros tiveram que mudar-se por falta de espaço físico. Outros sucumbiram a baixa da atividade nos antigos moldes, restando apenas uns poucos.
ESTALEIRO REMANESCENTE MARGEM ESQUERDA DE ITAPEMA/SP - JUNHO 2008.
ESTALEIRO MARGEM ESQUERDA ITAPEMENSE/SP [2008].
ESTALEIRO MARGEM ESQUERDA DE ITAPEMA/SP.
ESTALEIRO MARGEM ESQUERDA ITAPEMENSE/SP.

Sem a propriedade dos estaleiros houve aqueles, outrora excelentes mestres navais, naufragados pelas marés traiçoeiras das decisões políticas, que jamais levaram em conta a condição portuária de ITAPEMA/SP, as necessidades sociais do lugar.
Comentário recolhido sobre o assunto no facebook 'Saudoso Itapema' assevera:
"Luciano Stipanich. O verdadeiro herdeiro do talento na construção naval. Infelizmente morreu só, sofrendo de enfisema pulmonar e abandonado, morando num barraco no mangue próximo a Torre [de Alta Tensão - margem esquerda]. Fato curioso é que mesmo num barraco, se percebia a criatividade na construção em mais absoluta limpeza e organização. O incrível construtor da Caravela que ambientou episódios do seriado infantil 'Sítio do Pica-Pau Amarelo'. Morreu sonhando com uma desapropriação do mangue para poder resgatar a dignidade e ter um endereço."

Tal como diz a canção popular:
"(...)Rimas, de ventos e velas
Vida que vem e que vai
A solidão que fica e entra
Me arremessando
Contra o cais..." - Quiçá! Bons ventos tragam um Capitão audacioso, que guie esta nau itapemense por águas melhores e faça daqui um Porto vindouro e seguro.