Noutros idos era frequente a passagem de circos e parques de diversões por aqui. Mais comumente instalavam-se no terreno baldio entre a Rua Júlio Pedro Pontes e David dos Santos Carrera. Embora também tenham sido montados em diferentes endereços do Distrito itapemense.
Chegava o comboio daí erguia a lona colorida, iluminada de cordões de lâmpadas incandescentes. Circos constituídos de modestas instalações traziam abnegados artistas circenses... Ao som musical do alto-falante corneta, logo movimenta-se o maquinário a girar a fantasia. Encontro de namorados, mãos dadas na roda-gigante, o beijo vertiginoso grudado de chiclete, nuvens de algodão-doce, aviões orbitantes, trenzinho de centopéia, chícaras giratórias, rotores inclináveis, brinquedos não tão confiáveis pela penúria itinerante.
Nada comparava-se a aparição do circo e seu desfile pelas ruas de Itapema. Animais africanos, leão, tigre, elefante, chimpanzé tanto como outras atrações, o cuspidor de fogo atiçava labaredas, acrobatas jogavam malabares, graciosas dançarinas em carrocerias, convidando o Respeitável Público para assistir o Maior Espetáculo da Terra!
O palhaço anunciava num megafone:
"O circo vem aí!
Quem chora tem que rir... Rá, rá,rá!"
De dia nós crianças ficávamos beirando o gradil a espiar o interior nas brechas da lona levantada, o movimento misterioso nos trailers.
A vida circense, desprendida dos lugares ou conhecer o mundo, exercia curiosidade nas pessoas. Lembro de um conhecido da infância que encantado com o espetáculo, largou tudo e seguiu o circo como ajudante. Causou grande surpresa. Mais tarde retornaria, nem tudo era glamour, não tinha vocação.
Houve moça de família no Saudoso Itapema que sonhava fugir com o trapezista de um circo, certa vez, montado no antigo campo do Wilson Sons.
Vicente Ferreira Netto recorda que nos anos de 1950, "na Thiago Ferreira ficava sempre o Circo-Teatro 'Guaraciara' e o palhaço era o "Pirulito". E comecei a vender pirulito para entrar de graça, naquela tábua cheia de furinhos. Certa vez, um mágico me chamou para ajudar e me fez botar um ovo, não achei graça, mas a platéia..."
Por essa época, conforme lembra Newton Rafael Gonçalves:
"Os circos inté 1950 ficavam a sua maioria num terreno vazio da Thiago Ferreira, onde hoje está a SABESP, ao lado da Relojoaria São Jorge... Eu me lembro de alguns circos, por exemplo o circo da família do Palhaço Piolim..." - Puxando pela memória cita outros mais, Circo 'Irmãos Simões', Circo 'Irmãos Savalla' e Circo 'Romão'.
"(...)Mas o circo que mais ficou aqui em Vicente de Carvalho, com toda certeza, foi o Circo 'Bibi', que era do Procópio Ferreira (pai da Bibi Ferreira). Este circo sim foi o que mais eu trabalhei com papai, Palhaço Gostozinho."
Newton Rafael (antigo morador do Distrito), ainda comenta a experiência da família como artistas circenses apresentando-se nas dependências da Associação Atlética Vera Cruz, na Av. Thiago Ferreira:
"Tinha um grupo que papai, Seo Juvenal, fazia parte no papel também de Palhaço "Gostozinho", mamãe [Dona Lídia] era cantora e também fazia parte como Atriz. Tinha o cantor cego chamado Arnaldo Gimenes ou Arnaldo Gonçalves. O restante era um grupo de teatro de arena, do Teatro Vera Cruz. Então... Lembro de alguns desses integrantes por apelido. Mas todos trabalhavam no Teatro Vera Cruz, Seo Camilo Lellis, Ator, declamador, violeiro. No Vera Cruz faziam parte muitos violeiros, papai o Seo Juvenal era cantor, declamador e Palhaço "Gostozinho". D. Lídia, mamãe, cantora, Atriz e Palhaça "Sapeca". Eu, Newton, no Palhacinho "Farofinha", depois comecei ser um ator juvenil. Trabalhava o Palhaço "Borrachinha". O ator Bueno, também Palhaço "Zé Minhoca"."
Numa dessas estadias, motivada pelo falatório minha mãe animou-se ir e fui junto. Não esqueço de sua mão conduzindo-me através daquele transitar de calças, mais barras de vestidos... Parecia uma noite tranquila, aquele cheiro de pipoca quentinha, a refrescância doce do guaraná, sentados na arquibancada ficamos atentos ao picadeiro, quando a música da Bandinha irrompeu. Hábeis malabaristas, irreverentes palhaços, corajosos trapezistas revezavam-se em acrobacias pelo ar para nossa admiração. Entre muitos aplausos sentia-me eufórico, sem saber lidar com aquela nova emoção. Acabei rindo do equilibrista no arame, num pequeno monociclo, dando um duro danado pra manter-se lá em cima.
- Isso é hora de rir?... - Observou D. Ivanete abismada com o moço. Mais desconcertado fiquei.
Impressionou-me deveras, o Ilusionista levitar sua charmosa Partner hipnotizada, sobre três sabres afiados perigosíssimos, que atravessariam fácil a moça. Havia tensão nos rostos dos espectadores. Lamentavelmente um temporal repentino sacudia a lona, balançava o mastro central, a bela desequilibrou no fio das lâminas e interrompeu o número, ajudantes acorriam a sustentar as amarras, forçando a retirada às pressas do público. Apesar do princípio de tumulto, foi espetacular!
Conta o Osvaldo Meiro, "a jaula estava coberta por uma lona, ela tinha ido buscar a neta no circo, e chegou um pouco antes do final do espetáculo, então achando ser uma parede ela encostou na lona sem saber o que havia do outro lado, o ombro entrou no vão da jaula e ele arrancou o braço dela..." - O leão Clarence foi impiedoso. Houve mesmo uma correria na platéia, quando o leão rugiu feroz e ouviu-se os gritos aterrorizantes da pobre Matilde. Um funcionário do circo confidenciou que o felino não fora alimentado. Teve gente que não foi à matinê aqueles dias proibidos pelas mães, morrendo de medo dos filhos virarem rango da fera leonina.
Outro incidente envolvendo este circo, diz Osvaldo Meiro, foi do chimpanzé que fugiu do picadeiro dias depois, saiu à rua no Distrito itapemense, o adestrador atrás desesperado. Entrou na Padaria 'Nova Santos', ali perto, o bicho afoito fez muitos estragos naquele estabelecimento. Invadiu o Bar "Fogo Eterno", ao lado, surrando com um kichute (tênis) o Seo Eriberto, dono da birosca.
Circos renomados também tiveram passagem por Itapema/SP. Vostok, Stankowich, apresentando inesquecíveis atrações. O "Globo da Morte", motocicletas pilotadas dentro de um gradil esférico fechado. A destreza do Atirador de Facas perante o sangue-frio da esposa-Assistente. Domadores audaciosos incríveis.
Os parques itinerantes de diversões enfeitaram a paisagem deste período com seus carrosséis gravitando, rodas-gigantes, barracas de tiro ao alvo, carrinhos-elétricos "bate-bate" e tantas outras atrações. As formas criativas, efeitos luminosos eram para mim o fascínio dos brinquedos. Já outros era pôr à prova seus medos e aceitar os riscos. Cerca de quatro pessoas numa ocasião (década de 1970) foram atiradas para o outro lado da Av. Santos Dumont, no giro descontrolado de um "Chapéu Mexicano".
Ao longo de duas décadas (1980 à 2000) funcionou defronte a Praça 14-Bis, o Parque de Diversão 'São Jorge', estilo bem característico, dotado dos brinquedos típicos usuais, muito frequentado pelos moradores do Distrito, cenário de namoros, fez a alegria da criançada itapemense.
PARQUE DE DIVERSÃO 'SÃO JORGE' INSTALADO DEFRONTE A PRAÇA-14-BIS [ITAPEMA/SP].
BRINCANDO NO PARQUE DE DIVERSÃO 'SÃO JORGE' [ITAPEMA/SP].
Seja a vida sobre a face do planeta envolta em riscos, seus desafios constantes, dispostos a enfrentar os medos quando a adrenalina palpita corações... Isso que chamo de sobreviver a fortes emoções!...
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