__________ Itapema, suas histórias... __________

segunda-feira, 31 de maio de 2010

NÁUFRAGOS DA MARGEM ESQUERDA


Navio 'AIS GIORGIUS' durante incêndio, já na margem esquerda (VTE. CARVALHO/SP), em Janeiro de 1974.

Um dos acidentes portuários que as duas margens compartilham, foi o incêndio no navio a motor, de bandeira grega 'AIS GIORGIUS', em Janeiro de 1974.
Sob o comando do Capitão Marino Moatsos, com 26 homens de tripulação, provindo da Europa, o 'AIS GIORGIUS' entrou pela manhã do dia 26 de Dezembro (1973) no porto, quando atracou no cais do armazém XXX.
O cargueiro havia sido construído na década de 50 para a Armadora sueca 'Brostom' e consignado a Agência Marítima 'Oceanic Shipping'. Transportava em 5 porões, latas de leite em pó, óleo de pinho, champanhe e milhares de sacos de produtos químicos (resina sintética, nitrato puro, fertilizantes, tambores com manganês-metálico) num total de 67.000 volumes.
O 'AIS GIORGIUS' arde em chamas nas imediações da PRAINHA, junto ao "Paredão", em ITAPEMA (1974).

Era 08 de Janeiro de 1974, o navio encontrava-se atracado agora no armazém XXXII quando teve início o incêndio. Vejamos trecho do relato publicado no blog 'Universo Portuário', por Laire Giraud, extraído do livro 'Sinistros Marítimos na Costa do Estado de São Paulo':
"Paradoxalmente o sinistro não se iniciou nos porões do navio, mas numa galera ferroviária (vagão-aberto) pertencente à CDS (vagão nº 40) que se encontrava carregando ao longo ao longo do AIS GIORGIUS... (...) Tal fato provocou o aquecimento externo do casco do porão do navio grego onde estavam estocadas os restantes 1.200t. de nitrato de sódio, o porão nº 4 sendo o primeiro afetado..." - O fogo propagou-se rapidamente, eram 22:30h. As chamas atingiram 50 metros de altura e toda Itapema correu pra ver, durante anos na minha infância ouvi relatos do clarão naquela noite.
Catraieiros atuaram como salva-vidas durante o incêndio (que matou um tripulante da Turma de Salvamento). Aqueles que faziam o plantão noturno acudiram resgatando tripulantes, estivadores e conferentes que se atiravam no mar para fugir das chamas. ( na foto acima (1974),  as explosões e as chamas no 'AIS GIORGIUS' iluminavam a noite.

Os restos calcinados do 'AIS GIORGIUS' após o sinistro. (1974)  

Para evitar um desatre maior, pois as chamas ameaçavam outros navios e instalações portuárias, as autoridades resolveram desatracá-lo para a margem esquerda utilizando os rebocadores 'Saboó, 'Marie', 'Neptuno' e 'Plutão' em meio a explosões e gigantescas labaredas que se sucediam, vindo o 'AIS GIORGIUS' a encalhar nas proximidades da "Prainha", junto a Torre de Transmissão de Alta Tensão da Usina de Itatinga (no final da Rua Nova), também conhecido como "Paredão", devido ao antigo atracadouro ali construído. Queimou durante 70 horas seguidas, ficando  semi-submerso e de sua estrutura apenas a proa estava intacta.
Carcaça do 'AIS GIORGIUS' encalhada tempos depois na altura da Estação das Barcas, anos 90 (ITAPEMA/SP).

Por duas décadas ele prestou-se as estripulias de moleques audazes. Indagado particularmente em uma entrevista para a Revista 'Ao Vivo', ano 2, Edição 7 (Out/Nov/Dez de 2007), Herbert Viana (integrante da Banda 'Paralamas do Sucesso') respondeu ao repórter Thiago Santos:
"(...)Porque eu tinha morado, quando era criança, na Base Aérea (de Guarujá - Itapema - SP), ou seja, era do lado de cá do Porto. Em frente à minha casa tinha ainda um resto de mato e o canal, aí você via o porto do outro lado, a movimentação, a chegada dos navios de carga e de passageiros... E mais ou menos em frente à essa Vila Militar, da Base Aérea, tinha um navio encalhado (AIS GIORGIUS) que pra gente naquela época era o grande desafio de quem conseguia nadar até aquele navio, e dali subir na parte que não estava submersa. E, enfim, pular na água da maior altura possível... (...)Enfim, pra gente naquela época era um fascínio, difícil de descrever..."
 'AIS GIORGIUS' naufragado na margem esquerda do Distrito de Vicente de Carvalho (anos 90).

Totalmente inutilizado foi vendido para desmanche, todavia:
"(...)Tal coisa porém nunca acontecia pois no processo de reboques os cabos que o prendiam à arrebentaram (a proa), durante uma tempestade de vento o AIS GIORGIUS foi encalhar, levado pela correnteza na altura da Estação de Barcas de Vicente de Carvalho, em posição submersa e perigosa a navegação..."




Outro navio, o 'AUSTRAL' (foto à esquerda), anos antes (1967), numa circunstância parecida de passagem de ano, fora vítima de sinistro no Porto.
O cargueiro a motor 'AUSTRAL' atracou junto ao armazém XXV, no dia 27 de Dezembro de 1966, procedente do Chile com carga geral de 3.109 toneladas de salitre. A tripulação total era de 45 homens, comandados por Umberto Cárdenas Hurriaga.
Às 14:28min, do dia 02 de Janeiro de 1967 (segunda-feira) irrompeu um incêndio no porão nº 4. O foco teve início em uma lingada de sacos de salitre que estava sendo descarregada. Alguns sacos em chamas caíram no interior do porão, se propagando assim o fogo por toda a carga. Em poucos minutos as labaredas atingiram cerca de 30 metros de altura, fato este referido certa vez por Seo Carlos, antigo morador do Itapema.
Combateram arduamente o incêndio com jatos d'água sobre o convés do cargueiro, os rebocadores 'Saturno', 'Saboó' e 'Sabre'. Três tripulantes da embarcação de bandeira chilena feriram-se durante o sinistro.
Como fosse difícil extinguir as chamas, o 'AUSTRAL' foi desatracado e rebocado até Conceiçãozinha. Sucessivas explosões fizeram com que o incêndio se alastrasse atingindo outros compartimentos do navio e comprometendo sua estrutura, com entrada de água nos porões, levando-o a adernar consideravelmente a bombordo.
O navio 'AUSTRAL' à deriva na margem esquerda, próximo de Conceiçãozinha (1967), enquanto os rebocadores combatem o fogo.

O incêndio seria totalmente debelado por volta das 6 horas da manhã, do dia 03 de Janeiro. Entretanto o fogo voltou a arder na manhã do dia 04, tornando mais crítico o estado do navio. No final da tarde daquele dia o adernamento acentuou-se e a popa já estava ao nível d'água.
O 'AUSTRAL' ficou praticamente destruído, dele restando somente o casco e um monte de ferros enegrecidos, após isso levaram-no para as imediações da Bocaina, onde foi desmontado pela empresa Grieves. 

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