A POÉTICA ITAPEMENSE DE LYDIO MARTINS CORRÊA.
"(...)Quantas vezes relembro este Itapema
Dos tempos idos, barca a dois tostões,
Daqueles priscos tempos dos balões,
Da vida boa, sem nenhum problema..."
"(...)O Itapema é terra onde eu vivi
Quase toda extensão da minha vida;
Adoro este lugar pois foi, aqui,
A terra que me deu toda acolhida..."
A ITAPEMA/SP QUE LYDIO MARTINS CORRÊA CONHECEU [DÉCADA DE 1920].
É deste modo inspirado que Lydio Martins Corrêa [imagem ao lado.] refere-se nos seus versos d'alma ao ITAPEMA/SP, ou Distrito Municipal Vicente de Carvalho (gentileza para com o poeta do mar).
Parte de sua poesia é um passeio no velho Itapema. Por vezes ufano, bucólico, retrata a paisagem da mata inculta: o mangue, "a vargem grande cobiçada" coberta de capinzais alagados, xaxins, a revoada de vagalumes no rincão itapemense. Detém seu olhar na expansão comercial dos bananais (Pae Cará, Vila Áurea), depois o loteamento destas áreas. Os sítios, o bambuzal da Conceiçãozinha, o movimento das embarcações no estuário, a faina da carpintaria naval servem de cenários à sua criação.
Fala-nos da gente que engrandecia as paragens à noroeste da Ilha de Santo Amaro.
"(...)Conceiçãozinha... Imensos bananais
Dilatavam-se em todas direções,
Terras planas, talvez de aluviões,
Cobertas de xaxins e capinzais..."
"(...)O que tu sentes, Celso, é nostalgia
Da Bocaina saudosa, sempre calma,
O tempo, ali, parava e dava à alma,
Motivo de beleza e de alegria..."
Certa angústia detecta as transformações do vilarejo estuarino que havia defronte ao Largo de Santa Rita, próximo ao Saco da Embira. A perda da inocência e o compromisso com a subsistência. O tempo que se esvai inexorável. E seu desgosto pela ocupação desordenada. Que para ele, trouxe o vício, furtos e as mazelas sociais.
"(...)Mas tudo se transforma, é o progresso
Que se vai infiltrando, tem acesso
Na vida do seu povo, humilde gente,..."
"(...)Tudo acabou, jamais vai vê-la um dia;
Isso que tens na mente ardente e incalma
Vai, aos poucos, cedendo e alcança a palma
Junto do teu lirismo e da poesia..."
Lydio Martins Corrêa nasceu no dia 15 de Julho de 1909, na cidade de Santos/SP. Filho de Joaquim Martins Corrêa e Aida da Silva Corrêa, foi o segundo filho de uma prole de 21 irmãos.
Na juventude praticou diversas modalidades esportivas. Como boxe, arremesso de peso e dardo, salto com vara e levantamento de pesos. Ganhou inúmeras medalhas que guardava com muito orgulho.
Começou a trabalhar cedo o que dificultou-lhe os estudos. Conseguiu estudar até o 3º Ano do Curso Comercial, no colégio Liceu São Paulo, em Santos. Todavia, os boletins escolares atestavam ser um ótimo aluno, o qual aprendia facilmente.
LYDIO MARTINS CORRÊA, POETA ITAPEMENSE AOS VINTE ANOS.
Já residindo em ITAPEMA/SP estabeleceu outra oficina mecânica. Nessa época adquire Carteira Marítima, de 1º Maquinista, possibilitando-lhe trabalhar em diversos navios mercantes como Chefe de Máquinas.
Em 1931, casou-se com Eliza Morrone Corrêa, com quem teve 5 filhos: Guliart, Archimedes, Rubens, Jurandir e Lydio Junior.
Era também amante da música, tocava saxofone e clarinete. Aos domingos apresentava-se no Salão de Bailes da Bocaina.
LYDIO MARTINS CORRÊA E A ESPOSA ELIZA MORRONE EM 1974.
Político militante foi Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Guarujá/SP, no período de 1949 à 1954 [retrato ao lado], exerceu também o cargo de 1º Secretário, consideravam-no grande orador e excelente redator. Se tornou célebre um discurso seu na Câmara defendendo a utilização de maiôs nas praias da cidade. Pois, aventava-se a possibilidade de proibição nacional, segundo vontade do Sr. Jânio Quadros.
Lydio Martins Corrêa dá nome à importante via expressa que leva ao Bairro Morrinhos, no Distrito. Conforme Decreto Municipal 3.309, assinado na data de 29 de Fevereiro de 1984, "considerando a meritória atuação política do vereador ao qual se devem inúmeros melhoramentos públicos..."
VIA LYDIO MARTINS CORRÊA ACESSO AO BAIRRO MORRINHOS - ITAPEMA/SP [2011].
Soube manifestar como poucos o imaginário itapemense, sendo o primeiro a fazê-lo de forma poética. Neste tema demonstra destreza literária a imprimir originalidade ao verso.
"(...)Do Pai-Cará sempre guardei lembrança,
Os Backheuser: o velho Odil também,
Reminiscências, tempo de criança,
Barca a vapor, locomotiva, trem..."
Seu único livro publicado após sua morte (09/Janeiro/1983), 'VERSOS D'ALMA' reunindo 173 poemas do poeta itapemense, foi editado em Junho de 1984, em colaboração com a Câmara Municipal de Guarujá. A edição teve como revisora Maria Aparecida Gama Figueiredo. Enquanto a capa, criada por Everaldo Pires e Apresentação de Francisco Figueiredo.
VISTA AÉREA DO BAIRRO VILA BOCAINA, GRADATIVAMENTE EXPULSO DE SEU SÍTIO ORIGINAL - ITAPEMA/SP [ANOS DE 1940].
VELHO ITAPEMA II
O Riacho e a Bocaina, eu lembro ainda,
Aquela boa gente, os pescadores,
Homens distintos, nobres, só valores
Desta história tão simples, porém linda.
Depois, Saco da Embira, a trilha infinda...
E os Morrinhos? Aí rebocadores
Foram construídos nesses arredores,
No estaleiro naval... eu lembro ainda,
Entretanto, lembrar o que adianta?!
O que passou é coisa sacrossanta
E revivê-la, às vezes, dá tristeza.
Vamos deixar em paz essas memórias,
Deixemos inumadas que são glórias
Do nosso povo, grande em singeleza!...
VELHO ITAPEMA IV
Para falar de toda esta baixada,
Velho Itapema de simplicidade,
Precisamos rever a realidade
Dos esconsos rincões, desta adorada
Terra da vargem grande, a cobiçada
Dos grandes plantadores, de verdade,
Da "Musa sapien tum", a qualidade
Que aqui logo encontrou sua morada.
E os bananais as áreas dominaram
De tal forma que, até mesmo, obstaram
Plantações de quaisquer outros produtos.
Desdobraram-se, aqui, esses eventos
Que deram a este solo os elementos
De ser inigualado nesses frutos...
REGIÃO DA OUTRORA 'VILLA PAE-CARÁ [ITAPEMA/SP].
VELHO ITAPEMA III
Do Pai-Cará sempre guardei lembrança,
Os Backheuser: o velho Odil também,
Reminiscências, tempo de criança,
Barca a vapor, locomotiva, trem.
Aqui tudo era simples, que bonança!
As trilhas sinuosas iam além
Do matagal, do mangue, onde ninguém
Sentia algum temor ou insegurança.
Agora, já passados tantos anos,
É tudo diferente e desenganos
Assediam, de fato, todo o povo...
E o tempo vai passando e nunca volta,
O pensamento gera até revolta
Contra o passado, por não vir de novo!...
ITAPEMA/SP - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].
VELHO ITAPEMA I
Nas paragens alegres do Itapema,
Do Itapema vivido em outra era,
Havia poesia, oh! quem me dera!
Que voltasse esse tempo sem problema.
A vida era pacata, sem dilema,
Também sem poluição da atmosfera,
Era sempre uma eterna primavera,
Uma canção de amor, era um poema.
Mas tudo se transforma, é o progresso
Que se vai infiltrando, tem acesso
Na vida do seu povo, humilde gente,
Agora existe até dificuldade
Em quase tudo, sim, quanta saudade
Dos tempos bons da vida tão ridente!
A ESTUARINA ITAPEMA/SP [LITORAL PAULISTA].
VELHO ITAPEMA VI
És, Itapema, a flâmula querida
A tremular ao vento do progresso
És terra nobre, a todos dás acesso
És, para todos, mãe estremecida.
Vivem a procurar-te, nesta vida,
Como lugar quieto isto eu confesso,
E embora recatado, no recesso,
Não negas para o povo esta acolhida.
Encontrarás um dia a tua glória,
Serás reconhecido pela história
Ó terra sã de gente varonil,
Porque daqui sairá, um palinuro
A comandar com fé, muito seguro,
Esta nau, pedacinho do Brasil.
A ESTRADA DE FERRO SP-2066 PASSAVA AO LARGO DO SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].
VELHO ITAPEMA V
Conceiçãozinha... imensos bananais
Dilatavam-se em todas direções,
Terras planas, talvez de aluviões,
Cobertas de xaxins e capinzais.
Terrenos muito férteis que jamais
Alguém deixou ficar sem plantações
E a isso bem atestam os chatões
Para os embarques nos navios, no cais.
Há pouco tempo alguns agricultores
Lotearam suas terras, teus valores,
Quem sabe por questões de economia
Hoje estão as indústrias já plantadas
Nessas áreas, e algumas dilatadas,
Mostrando do progresso a euforia!
O ASPECTO DO BAIRRO VILA BOCAINA E SEUS MORADORES [ITAPEMA/SP].
NOSTALGIA
O que tu sentes, Celso, é nostalgia
Da Bocaina saudosa, sempre calma,
O tempo, ali, parava e dava à alma,
Motivo de beleza e de alegria,
Tudo acabou, jamais vais vê-la um dia;
Isso que tens na mente ardente e incalma
Vai, aos poucos, cedendo e alcança a palma
Junto do teu lirismo e da poesia.
Hoje não mais existe aquele encanto
A enlouquecer idéias sonhadoras,
Essas que amam, mesmo, de verdade.
Vives distante, agora e, no entanto,
Desconheces as causas portadoras
Desta aflição, da dor desta saudade.
ANTIGOS MORADORES DO SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].
OS BAMBUS DE CONCEIÇÃOZINHA
Nesta simples estrada quase oculta
Pelos bambus que ensombram seus contornos,
Nela se encontra, nestes dias mornos,
O encantamento da floresta inculta.
E quando o sol no abismo se sepulta
Projetando, no céu, belos adornos,
Aos pássaros que voltam, só transtornos
De toda esta beleza, então resulta.
A pipilar os pássaros com medo
Da tarde que, aos poucos, enlanguesce,
Das ramagens se escondem no sombredo,
Dentro de fofos ninhos há queixumes,
Concentra-se a penumbra, a noite desce,
Mas cintilam no escuro os vagalumes.
VISTA AÉREA PARCIAL DE ITAPEMA/SP À MARGEM ESQUERDA DO ESTUÁRIO - LITORAL PAULISTA [1939].
JUNTO À ESTRADA (CROMO)
Um chalé, u'a morada
Juntinho do bambual
Que fica naquela estrada
Rumando para o canal,
Onde se assiste a chegada
De toda frota naval,
Sempre benvinda e esperada
Para o porto e a capital.
Ali, naquela casinha
Bem modesta e simplezinha
Dando ar de abandonada,
Vive a pessoa querida,
Caprichosa e dedicada,
Cheia de amor, muito amada.
ANTIGOS MORADORES DO BAIRRO VILA BOCAINA [ITAPEMA/SP].
SÍTIO ESCONSO
Era cinzento-claro o chalezinho;
Poucos vizinhos, um lugar ameno,
Fora construído à beira do caminho
Que era plano e bem seco esse terreno.
Nada era imenso, tudo era pequeno
Mas existia, ali, muito carinho,
Parecia, isto é certo, um quente ninho
Cheio de paz, isento de veneno.
Em frente havia, em forma de pomar,
Algumas plantas, dava p'rá contar
Os pés de fruta agreste; que beleza!...
Já não existe mais esse pedaço
De terra humilde e linda como um laço
Que prende os seres bons à natureza.
BANHISTAS NA LAGOA DA 'GAMBOA DO JUCA' - SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].
RECORDAÇÕES
Lembras, querida, em Conceiçãozinha,
Junto à avenida, a praia, a ponte, o bar?
Lembras também daquele nosso lar,
Nos fundos do terreno?... Que casinha!
Quanta graça e encanto aquilo tinha,
Sempre os evoco, como é bom lembrar...
O jardim, as fruteiras, até o mar,
E aquela aragem que dele nos vinha.
A tardinha o chilreio... Aves benditas,
Pareciam medrosas e aflitas
À procura de abrigo no bambual,
Enquanto nós juntinhos, docemente
Erguíamos castelo em nossa mente,
Na emulação sublime do real!
A ESTUARINA ITAPEMA/SP ÀS MARGENS DA ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].
VERDADE
É um tosco matagal que me fascina
E que me prende em tal contemplação
Bucólica paisagem, tela fina
Que é poesia, beleza e sedução.
Este mar calmo, o céu, esta neblina
Que se desfaz, bem cedo, à viração,
É um quadro natural que, inda, me ensina
A me prostrar em plena adoração.
Ah! Como é bela toda a natureza!
Estas cousas me falam com franqueza
De tudo que é real em nossa vida.
Mas como é triste ouvir lá na cidade
Falar sobre política e maldade
Abatendo a moral já tão corroída.
CHALÉS AO LONGO DA AV. THIAGO FERREIRA [ITAPEMA/SP] 1963.
RECORDANDO PRISCAS ERAS
Quantas vezes relembro este Itapema
Dos tempos idos, barca a dois tostões,
Daqueles priscos tempos dos balões,
Da vida boa, sem nenhum problema.
Mas o progresso trouxe novo esquema
P'rá melhorar, com boas intenções,
Mas tal esquema, fruto de ilusões,
Criou, para este povo, outro dilema.
Continuou aos trancos e barrancos,
Prejudicando os homens bons e brancos,
E fez deste distrito tão pacato
Um centro só de vício e malandragem,
De furtos e de saques, de pilhagem,
Envergonhando um povo intimorato.
CENTRO COMERCIAL DE ITAPEMA/SP - AV. THIAGO FERREIRA [LITORAL PAULISTA].
O ITAPEMA FOI BAZAR DE VOTOS
O Itapema é terra onde eu vivi
Quase toda extensão da minha vida;
Adoro este lugar pois foi, aqui,
A terra que me deu toda acolhida.
É um solo humilde, mas sempre senti
Que ele me deu a mais bela guarida,
Nele criei meus filhos e sorri
E sorrindo venci a dura lida.
Este pedaço do Brasil, outrora,
Assediado por oportunistas
Era mina de votos a granel,
Mas hoje já raiou a nova aurora
E o povo bom, daqui, abriu as vistas
Mudando da política o painel.
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