__________ Itapema, suas histórias... __________

sábado, 15 de maio de 2010

LYDIO MARTINS CORRÊA - poeta itapemense

A POÉTICA ITAPEMENSE DE LYDIO MARTINS CORRÊA.
 
          "(...)Quantas vezes relembro este Itapema 
          Dos tempos idos, barca a dois tostões,
          Daqueles priscos tempos dos balões,
          Da vida boa, sem nenhum problema..."

          "(...)O Itapema é terra onde eu vivi
          Quase toda extensão da minha vida;
          Adoro este lugar pois foi, aqui,
          A terra que me deu toda acolhida..."

A ITAPEMA/SP QUE LYDIO MARTINS CORRÊA CONHECEU [DÉCADA DE 1920].

É deste modo inspirado que Lydio Martins Corrêa [imagem ao lado.] refere-se nos seus versos d'alma ao ITAPEMA/SP, ou Distrito Municipal Vicente de Carvalho (gentileza para com o poeta do mar).
Parte de sua poesia é um passeio no velho Itapema. Por vezes ufano, bucólico, retrata a paisagem da mata inculta: o mangue, "a vargem grande cobiçada" coberta de capinzais alagados, xaxins, a revoada de vagalumes no rincão itapemense. Detém seu olhar na expansão comercial dos bananais (Pae Cará, Vila Áurea), depois o loteamento destas áreas. Os sítios, o bambuzal da Conceiçãozinha, o movimento das embarcações no estuário, a faina da carpintaria naval servem de cenários à sua criação.
Fala-nos da gente que engrandecia as paragens à noroeste da Ilha de Santo Amaro.

          "(...)Conceiçãozinha... Imensos bananais
          Dilatavam-se em todas direções,
          Terras planas, talvez de aluviões,
          Cobertas de xaxins e capinzais..."

          "(...)O que tu sentes, Celso, é nostalgia
          Da Bocaina saudosa, sempre calma,
          O tempo, ali, parava e dava à alma,
          Motivo de beleza e de alegria..."                  

Certa angústia detecta as transformações do vilarejo estuarino que havia defronte ao Largo de Santa Rita, próximo ao Saco da Embira. A perda da inocência e o compromisso com a subsistência. O tempo que se esvai inexorável. E seu desgosto pela ocupação desordenada. Que para ele, trouxe o vício, furtos e as mazelas sociais.

          "(...)Mas tudo se transforma, é o progresso
          Que se vai infiltrando, tem acesso
          Na vida do seu povo, humilde gente,..."

          "(...)Tudo acabou, jamais vai vê-la um dia;
          Isso que tens na mente ardente e incalma
          Vai, aos poucos, cedendo e alcança a palma
          Junto do teu lirismo e da poesia..."

Lydio Martins Corrêa nasceu no dia 15 de Julho de 1909, na cidade de Santos/SP. Filho de Joaquim Martins Corrêa e Aida da Silva Corrêa, foi o segundo filho de uma prole de 21 irmãos.
Na juventude praticou diversas modalidades esportivas. Como boxe, arremesso de peso e dardo, salto com vara e levantamento de pesos. Ganhou inúmeras medalhas que guardava com muito orgulho.
Começou a trabalhar cedo o que dificultou-lhe os estudos. Conseguiu estudar até o 3º Ano do Curso Comercial, no colégio Liceu São Paulo, em Santos. Todavia, os boletins escolares atestavam ser um ótimo aluno, o qual aprendia facilmente.
LYDIO MARTINS CORRÊA, POETA ITAPEMENSE AOS VINTE ANOS.

Um de seus empregos quando adulto, seria numa oficina mecânica marítima. Por muitos anos foi Torneiro Mecânico fabricando peças específicas para a área naval. Ainda na vizinha cidade santista abriria a própria oficina.
Já residindo em ITAPEMA/SP estabeleceu outra oficina mecânica. Nessa época adquire Carteira Marítima, de 1º Maquinista, possibilitando-lhe trabalhar em diversos navios mercantes como Chefe de Máquinas.
Em 1931, casou-se com Eliza Morrone Corrêa, com quem teve 5 filhos: Guliart, Archimedes, Rubens, Jurandir e Lydio Junior. 
Era também amante da música, tocava saxofone e clarinete. Aos domingos apresentava-se no Salão de Bailes da Bocaina.
LYDIO MARTINS CORRÊA E A ESPOSA ELIZA MORRONE EM 1974.


Político militante foi Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Guarujá/SP, no período de 1949 à 1954 [retrato ao lado], exerceu também o cargo de 1º Secretário,  consideravam-no grande orador e excelente redator. Se tornou célebre um discurso seu na Câmara defendendo a utilização de maiôs nas praias da cidade. Pois, aventava-se a possibilidade de proibição nacional, segundo vontade do Sr. Jânio Quadros.
Lydio Martins Corrêa dá nome à importante via expressa que leva ao Bairro Morrinhos, no Distrito. Conforme Decreto Municipal 3.309, assinado na data de 29 de Fevereiro de 1984, "considerando a meritória atuação política do vereador ao qual se devem inúmeros melhoramentos públicos..."
VIA LYDIO MARTINS CORRÊA ACESSO AO BAIRRO MORRINHOS - ITAPEMA/SP [2011].

Poeta cônscio escreveu sonetos e poemas, alguns por solicitação de pessoas amigas. Como se pedissem a Lydio que desse voz aos seus sentimentos, e assim pudessem exprimí-los através dele. Também outros tantos em homenagem à pessoas queridas. Fez inspiração da sua convalescença tendo sido socorrido ao Hospital Santo Amaro. Era madrugada do dia 13/04/1979, compôs no escuro o soneto 'No hospital'. Sua poesia de feitio maneirista, apresenta tom parnasiano bem como do romantismo brasileiro. Teve por referências literárias Martins Fontes, Castro Alves e J.G. de Araújo Jorge.
Soube manifestar como poucos o imaginário itapemense, sendo o primeiro a fazê-lo de forma poética. Neste tema demonstra destreza literária a imprimir originalidade ao verso.

          "(...)Do Pai-Cará sempre guardei lembrança,
          Os Backheuser: o velho Odil também,
          Reminiscências, tempo de criança,
          Barca a vapor, locomotiva, trem..."

[capa do livro do poeta Lydio Martins Corrêa]

Seu único livro publicado após sua morte (09/Janeiro/1983), 'VERSOS D'ALMA' reunindo 173 poemas do poeta itapemense, foi editado em Junho de 1984, em colaboração com a Câmara Municipal de Guarujá. A edição teve como revisora Maria Aparecida Gama Figueiredo. Enquanto a capa, criada por Everaldo Pires e Apresentação de Francisco Figueiredo.

VISTA AÉREA DO BAIRRO VILA BOCAINA, GRADATIVAMENTE EXPULSO DE SEU SÍTIO ORIGINAL - ITAPEMA/SP [ANOS DE 1940].

                                   VELHO ITAPEMA II

                    O Riacho e a Bocaina, eu lembro ainda,
                    Aquela boa gente, os pescadores,
                    Homens distintos, nobres, só valores
                    Desta história tão simples, porém linda.

                    Depois, Saco da Embira, a trilha infinda...
                    E os Morrinhos? Aí rebocadores
                    Foram construídos nesses arredores,
                    No estaleiro naval... eu lembro ainda,

                    Entretanto, lembrar o que adianta?!
                    O que passou é coisa sacrossanta
                    E revivê-la, às vezes, dá tristeza.

                    Vamos deixar em paz essas memórias,
                    Deixemos inumadas que são glórias
                    Do nosso povo, grande em singeleza!...

PÍER BANANEIRO - ITAPEMA/SP [DÉCADA DE 1920].

                                   VELHO ITAPEMA IV

                    Para falar de toda  esta baixada,
                    Velho Itapema de simplicidade,
                    Precisamos rever a realidade
                    Dos esconsos rincões, desta adorada

                    Terra da vargem grande, a cobiçada
                    Dos grandes plantadores, de verdade,
                    Da "Musa sapien tum", a qualidade
                    Que aqui logo encontrou sua morada.

                    E os bananais as áreas dominaram
                    De tal forma que, até mesmo, obstaram
                    Plantações de quaisquer outros produtos.

                    Desdobraram-se, aqui, esses eventos
                    Que deram a este solo os elementos
                    De ser inigualado nesses frutos...

REGIÃO DA OUTRORA 'VILLA PAE-CARÁ [ITAPEMA/SP].

                                   VELHO ITAPEMA III

                    Do Pai-Cará sempre guardei lembrança,
                    Os Backheuser: o velho Odil também,
                    Reminiscências, tempo de criança,
                    Barca a vapor, locomotiva, trem.

                    Aqui tudo era simples, que bonança!
                    As trilhas sinuosas iam além
                    Do matagal, do mangue, onde ninguém
                    Sentia algum temor ou insegurança.

                    Agora, já passados tantos anos,
                    É tudo diferente e desenganos
                    Assediam, de fato, todo o povo...

                    E o tempo vai passando e nunca volta,
                    O pensamento gera até revolta
                    Contra o passado, por não vir de novo!...

ITAPEMA/SP - ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].

                                   VELHO ITAPEMA I

                    Nas paragens alegres do Itapema,
                    Do Itapema vivido em outra era,
                    Havia poesia, oh! quem me dera!
                    Que voltasse esse tempo sem problema.

                    A vida era pacata, sem dilema,
                    Também sem poluição da atmosfera,
                    Era sempre uma eterna primavera,
                    Uma canção de amor, era um poema.

                    Mas tudo se transforma, é o progresso
                    Que se vai infiltrando, tem acesso
                    Na vida do seu povo, humilde gente,

                    Agora existe até dificuldade
                    Em quase tudo, sim, quanta saudade
                    Dos tempos bons da vida tão ridente!

A ESTUARINA ITAPEMA/SP [LITORAL PAULISTA].

                                   VELHO ITAPEMA VI

                    És, Itapema, a flâmula querida
                    A tremular ao vento do progresso
                    És terra nobre, a todos dás acesso
                    És, para todos, mãe estremecida.

                    Vivem a procurar-te, nesta vida,
                    Como lugar quieto isto eu confesso,
                    E embora recatado, no recesso,
                    Não negas para o povo esta acolhida.

                    Encontrarás um dia a tua glória,
                    Serás reconhecido pela história
                    Ó terra sã de gente varonil,

                    Porque daqui sairá, um palinuro
                    A comandar com fé, muito seguro,
                    Esta nau, pedacinho do Brasil.

A ESTRADA DE FERRO SP-2066 PASSAVA AO LARGO DO SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].

                                   VELHO ITAPEMA V

                    Conceiçãozinha... imensos bananais
                    Dilatavam-se em todas direções,
                    Terras planas, talvez de aluviões,
                    Cobertas de xaxins e capinzais.

                    Terrenos muito férteis que jamais
                    Alguém deixou ficar sem plantações
                    E a isso bem atestam os chatões
                    Para os embarques nos navios, no cais.

                    Há pouco tempo alguns agricultores
                    Lotearam suas terras, teus valores,
                    Quem sabe por questões de economia

                    Hoje estão as indústrias já plantadas
                    Nessas áreas, e algumas dilatadas, 
                    Mostrando do progresso a euforia!

O ASPECTO DO BAIRRO VILA BOCAINA E SEUS MORADORES [ITAPEMA/SP].

                                   NOSTALGIA

                    O que tu sentes, Celso, é nostalgia
                    Da Bocaina saudosa, sempre calma,
                    O tempo, ali, parava e dava à alma,
                    Motivo de beleza e de alegria,

                    Tudo acabou, jamais vais vê-la um dia;
                    Isso que tens na mente ardente e incalma
                    Vai, aos poucos, cedendo e alcança a palma
                    Junto do teu lirismo e da poesia.

                    Hoje não mais existe aquele encanto
                    A enlouquecer idéias sonhadoras,
                    Essas que amam, mesmo, de verdade.

                    Vives distante, agora e, no entanto,
                    Desconheces as causas portadoras
                    Desta aflição, da dor desta saudade.

ANTIGOS MORADORES DO SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].

                              OS BAMBUS DE CONCEIÇÃOZINHA

                    Nesta simples estrada quase oculta
                    Pelos bambus que ensombram seus contornos,
                    Nela se encontra, nestes dias mornos,
                    O encantamento da floresta inculta.

                    E quando o sol no abismo se sepulta
                    Projetando, no céu, belos adornos,
                    Aos pássaros que voltam, só transtornos
                    De toda esta beleza, então resulta.

                    A pipilar os pássaros com medo
                    Da tarde que, aos poucos, enlanguesce,
                    Das ramagens se escondem no sombredo,

                    Dentro de fofos ninhos há queixumes,
                    Concentra-se a penumbra, a noite desce,
                    Mas cintilam no escuro os vagalumes.

VISTA AÉREA PARCIAL DE ITAPEMA/SP À MARGEM ESQUERDA DO ESTUÁRIO - LITORAL PAULISTA [1939].

                              JUNTO À ESTRADA (CROMO)

                    Um chalé, u'a morada
                    Juntinho do bambual
                    Que fica naquela estrada
                    Rumando para o canal,

                    Onde se assiste a chegada
                    De toda frota naval,
                    Sempre benvinda e esperada
                    Para o porto e a capital.

                    Ali, naquela casinha
                    Bem modesta e simplezinha
                    Dando ar de abandonada,

                    Vive a pessoa querida,
                    Caprichosa e dedicada,
                    Cheia de amor, muito amada.

ANTIGOS MORADORES DO BAIRRO VILA BOCAINA [ITAPEMA/SP].

                                   SÍTIO ESCONSO

                    Era cinzento-claro o chalezinho;
                    Poucos vizinhos, um lugar ameno,
                    Fora construído à beira do caminho
                    Que era plano e bem seco esse terreno.

                    Nada era imenso, tudo era pequeno
                    Mas existia, ali, muito carinho,
                    Parecia, isto é certo, um quente ninho
                    Cheio de paz, isento de veneno.

                    Em frente havia, em forma de pomar,
                    Algumas plantas, dava p'rá contar
                    Os pés de fruta agreste; que beleza!...

                    Já não existe mais esse pedaço
                    De terra humilde e linda como um laço
                    Que prende os seres bons à natureza.

BANHISTAS NA LAGOA DA 'GAMBOA DO JUCA' - SÍTIO CONCEIÇÃOZINHA [ITAPEMA/SP].

                                   RECORDAÇÕES

                    Lembras, querida, em Conceiçãozinha,
                    Junto à avenida, a praia, a ponte, o bar?
                    Lembras também daquele nosso lar,
                    Nos fundos do terreno?... Que casinha!

                    Quanta graça e encanto aquilo tinha,
                    Sempre os evoco, como é bom lembrar...
                    O jardim, as fruteiras, até o mar,
                    E aquela aragem que dele nos vinha.

                    A tardinha o chilreio... Aves benditas,
                    Pareciam medrosas e aflitas
                    À procura de abrigo no bambual,

                    Enquanto nós juntinhos, docemente
                    Erguíamos castelo em nossa mente,
                    Na emulação sublime do real!

A ESTUARINA ITAPEMA/SP ÀS MARGENS DA ILHA DE SANTO AMARO [LITORAL PAULISTA].

                                   VERDADE

                    É um tosco matagal que me fascina
                    E que me prende em tal contemplação
                    Bucólica paisagem, tela fina
                    Que é poesia, beleza e sedução.

                    Este mar calmo, o céu, esta neblina
                    Que se desfaz, bem cedo, à viração,
                    É um quadro natural que, inda, me ensina
                    A me prostrar em plena adoração.

                    Ah! Como é bela toda a natureza!
                    Estas cousas me falam com franqueza
                    De tudo que é real em nossa vida.

                    Mas como é triste ouvir lá na cidade
                    Falar sobre política e maldade
                    Abatendo a moral já tão corroída.

CHALÉS AO LONGO DA AV. THIAGO FERREIRA [ITAPEMA/SP] 1963.

                              RECORDANDO PRISCAS ERAS

                    Quantas vezes relembro este Itapema
                    Dos tempos idos, barca a dois tostões,
                    Daqueles priscos tempos dos balões,
                    Da vida boa, sem nenhum problema.

                    Mas o progresso trouxe novo esquema
                    P'rá melhorar, com boas intenções,
                    Mas tal esquema, fruto de ilusões,
                    Criou, para este povo, outro dilema.

                    Continuou aos trancos e barrancos,
                    Prejudicando os homens bons e brancos,
                    E fez deste distrito tão pacato

                    Um centro só de vício e malandragem,
                    De furtos e de saques, de pilhagem,
                    Envergonhando um povo intimorato.

CENTRO COMERCIAL DE ITAPEMA/SP - AV. THIAGO FERREIRA [LITORAL PAULISTA].

                              O ITAPEMA FOI BAZAR DE VOTOS

                    O Itapema é terra onde eu vivi
                    Quase toda extensão da minha vida;
                    Adoro este lugar pois foi, aqui,
                    A terra que me deu toda acolhida.

                    É um solo humilde, mas sempre senti
                    Que ele me deu a mais bela guarida,
                    Nele criei meus filhos e sorri
                    E sorrindo venci a dura lida.

                    Este pedaço do Brasil, outrora,
                    Assediado por oportunistas
                    Era mina de votos a granel,

                    Mas hoje já raiou a nova aurora
                    E o povo bom, daqui, abriu as vistas
                    Mudando da política o painel.


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