__________ Itapema, suas histórias... __________

sábado, 12 de junho de 2010

O FORTE DE ITAPEMA

O FORTE DE ITAPEMA-SP EM MEADOS DOS ANOS 70, AINDA EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO.

O Forte de Itapema, já nomeado Fortaleza (Fortim/Forte) do Itapema, ou da Vera-Cruz, da Santa Cruz do Itapema e/ou Fortim do Pinhão de Vera Cruz, era importante "praça militar" e ponto estratégico de defesa, tendo sido a terceira fortificação a ser levantada na Capitania de Santo Amaro. O historiador Costa e Silva Sobrinho comenta, "que era chamado primeiramente de Forte do Pinhão da Vera Cruz, passando depois para Fortaleza da Vera- Cruz e posteriormente para da Santa Cruz. Mapa de João Albeinag, constante da Mapoteca do Itamarati, do século XVII, o assinala como Forte Vera Cruz. Um segundo mapa, da 'Capitania de São Vicente', feito por João Teixeira de Albernas no século XVII, o nomeia Forte da Cruz. 
MAPA DO SÉC. XVII INDICA O FORTE DE ITAPEMA NA ILHA DE SANTO AMARO.

FOTO DE 1902, O FORTE DE ITAPEMA/SP EMBANDEIRADO PARA FESTEJOS.

O Forte foi erguido provavelmente na metade do século XVI (1557),  em terras pertencentes a Jorge Ferreira, diz Francisco Martins dos Santos, na sua obra 'História de Santos':
"(...)na primeira fase do reinado dos Felipes, por iniciativa dos descendentes de Jorge Ferreira, genro de João Ramalho e Capitão- Mor várias vezes, primeiro senhor das terras onde ela (fortificação) se fez."
QUADRO DE BENEDITO CALIXTO RETRATANDO O FORTE DE ITAPEMA-SP, NO FINAL DO SÉCULO XIX.

Serviu para proteger a margem oriental do estuário e cruzava fogo com o Forte da Praça, ou de Nossa Senhora do Monte Serrat, na Vila de Santos. Mapas da época atestam sua existência antes de 1584. Existem muitas divergências quanto a data da construção. Alguns historiadores afirmam que foi construído no século XVI, mas o Capitão Anibal Amorim, no seu estudo sobre fortificações do sul, situa-o na primeira metade do século XVII.
Construíram-no à flor d'água (veja detalhe do mapa do séc. XVIII, à direita) sobre o pinhão rochoso, que designa em língua indígena o nome Itapema, feito com grandes blocos de pedra unidos por uma mistura de óleo de baleia e cal de sambaqui. Plantas do forte do século XVIII, mais precisamente o documento datado de 1714, indica o traçado da muralha, parapeito, ameias e caminho de acesso. No pátio interno possuía quartel de oficiais, casa de pólvora, quartel de soldados e uma cadeia subterrânea, que servia para prender civis,  soldados rebeldes e revoltosos. As duas guaritas ainda existentes foram construídas ao decorrer das reformas.
    PLANTA DE 1714, ONDE SE VÊ DISPOSTA AS INSTALAÇÕES DO FORTE DE ITAPEMA-SP (SEC. XVIII)

Francisco Martins dos Santos, historiador, menciona que o Forte de Vera Cruz de Itapema teve importante papel na defesa das Capitanias de Santo Amaro e São Vicente, protegendo contra ataques de corsários, piratas e invasores. Seu primeiro Comandante foi Francisco Nunes Cubas, sobrinho de Brás Cubas, sendo designado por D. João V.
No ano de 1670 promove-se a reconstrução do Forte por intermédio do Comandante Pedro Tacques de Almeida, é a partir desta data que certos historiadores consideram como marco de fundação. Substituído em 1680 pelo português Sargento-mor Gaspar Leite Costa. Tempos depois, no final de 1600, procedem-se outras reparações e forma-se nova Companhia para guarnecê-lo, além de reforço da Companhia do Terço do Rio de Janeiro. Ao término do século XVII foi comandado ainda pelo Capitão José Tavares de Siqueira, este avô materno de Frei Gaspar da Madre de Deus.
 O FORTE DE ITAPEMA/SP VISTO DA ANTIGA ENSEADA QUE MARGEAVA A FORTIFICAÇÃO, FOTO DE 1906.

Ao iniciar 1700 era seu Capitão, Domingos da Silva Monteiro. Em 1710 estava sob comando de José Monteiro de Matos. Informações esparsas nos dão idéia de sua atividade militar, relato de 1722 indica que sua cadeia estava abarrotada de presos.
Em Setembro de 1724, o Capitão-general Rodrigo César de Menezes recomenda numa carta-patente a promoção, ao posto de Sargento-mor, o português Torquato Teixeira de Carvalho, devido à sua experiência militar. O pesquisador J. Muniz Jr. transcreve em matéria publicada em Novembro de 1979, no jornal 'Cidade de Santos':
"(...)Torquato propôs ao governo português a reedificação daquela praça militar, além da sua guarnição total com peças de artilharia, tudo isso às suas próprias expensas. E como a obra estava orçada em 40.000 cruzados, ele pediu em remuneração o posto de Capitão, soldo e hábito de Cristo, além do comando para três vidas em seus descendentes..." - A reforma seria executada durante um período de 10 anos, estando este encarregado pessoalmente das obras.
 O FORTE DE ITAPEMA EM FOTO DE 1908, JÁ COM A TORRE E FAROL DE SINALIZAÇÃO MARÍTIMA.

É a história do Forte de Itapema permeada de dificuldades, constantes abandonos e consecutivas reformas. Relegado ao descaso já em 1726, o historiador Nelson Omegna analisa este contexto:
"(...)As Fortalezas e Casas Fortes do litoral, vazias de soldados, arruinado-se em abandono completo, são também o marco de outra superação política e social, ainda que cheguem, às vezes, a inculcar a impressão de retrocesso."
Conforme os 'Apontamentos Históricos da Província de São Paulo', do Major Manoel Eufrázio de Azevedo Marques, no primeiro quartel do século XVIII, a Fortaleza de Vera Cruz estava numa situação precária, encontrava-se até sem artilharia.
O rei D. João V preocupado com o estado da fortificação enviou carta ao Conde Sarzedas, Governador e Capitão-general da Capitania de São Paulo relatando num trecho:
"(...)outro fortim mais acima da Fortaleza da Barra Grande meia legoa distante da V. a da parte do norte chamado Itapema em admirável citio p. a defença da barra, mas q'este alem de ser pequeno estava demolido, e incapaz de poder servir sem hu reparo e que o Armazém da pólvora e Armas estaba cuberto somente de telha vãa e em terra devendo ao menos ser por sima forrado de madras e por baixo ladrilhado de tijolo..."
OS ARREDORES DO FORTE DE ITAPEMA-SP, EM 1909.

Numa carta de 1738 ao General Luiz Antonio de Sá Queiroga, tratava o Brigadeiro José da Silva Pais da Fortaleza do Itapema e suas necessidades. Conforme trato feito com Torquato Teixeira de Carvalho veio sendo esta reedificada e aparelhada com artilharia de grosso calibre. Dispunha de 06 peças de artilharia, embora desmontadas. Neste mesmo ano, 24 de Setembro de1738, o Sargento-mor teve a confirmação da patente de Capitão-comandante, através de decisão do rei de Portugal. A 'Cronologia Paulista', de José Jacinto Ribeiro, esclarece que, segundo o Alvará Real, o posto de Capitão-comandante da Fortaleza do Itapema foi concedido a Torquato Teixeira de Carvalho, em recompensa dos serviços prestados na reconstrução daquela praça forte, às suas custas, e por estarem satisfeitas as condições da dita obra.
Depois do falecimento de Torquato, em meados do século XVIII, o Forte de Itapema foi comandado pelo seu filho, o Capitão João Teixeira de Carvalho, que posteriormente cedeu lugar ao sobrinho Capitão Francisco Olinto de Carvalho, que por sua vez deixou o comando para o filho, o Capitão João Olinto de Carvalho.
O FORTE DE ITAPEMA BANHADO PELAS ÁGUAS DE "GUARAPIÇUMÃ", NOME DADO PELOS INDÍGENAS AO  NOSSO ESTUÁRIO [DÉCADA DE 1910].

Alexandre Luís de Souza Menezes menciona as dificuldades de conseguir-se um Engenheiro Militar para reparo das fortificações em carta ao Marquês de Pombal, datada de 24 de Setembro de 1765:
"(...)à vista do que vou continuando sem fazer trabalhar segundo a minha limitada curiosidade me ensina, tendo toda a possível cautela para não gastar os dinheiros de Sua Majestade que Deus guarda, nem mal gastos nem inutilmente, porque me canso tanto na direção da obra como no ajuste dos preços dela..."
Em 1770, o Governador D. Luiz Antonio de Souza Botelho Morão Morgado de Mateus dizia num ofício à metrópole, que o Forte era guarnecido com quatro peças de artilharia calibre 12, mais quatro com calibre 8.
COM A TORRE E O HOLOFOTE DE SINALIZAÇÃO, O FORTE GANHOU TAMBÉM A DENOMINAÇÃO DE FAROL DO ITAPEMA/SP [ANOS 60].

Relatório transcrito do Marechal Arouche sobre as fortificações da costa marítima da Capitania de São Paulo, quando da sua inspeção às fortalezas, escrito provavelmente entre 1797 e 1815 e publicado por Azevedo Marques em 1915, na série 'Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo', Vol. 44, destaca as qualidades da fortificação, além dos reparos a serem feitos:
"(...)A Fortaleza de Itapema se acha com seis peças, todas desmontadas, porem boa artilharia apezar de não ter tido quem lhe preste o mínimo benefício. Esta fortaleza, pela situação em que se acha, tem grandes vantagens pelo grande damno que pode fazer aos navios, apezar de lhe apresentar pouco fogo; porem, como o canal é muito próximo á fortaleza, pode esta pelo menos cortar toda a enxárcia e fazel-os desarvorar com plaquetas, balas fixas e encadeadas, e pelo ângulo que forma o canal offerecerem os navios a pôpa ao flanco, de cuja vantagem se podem aproveitar os da fortaleza, mettendo-lhes balas de coxias, e arrazar-lhes as obras mortas, fazendo-lhes ao mesmo tempo grande mortandade. Nessa fortaleza há logar para se fazer um telheiro em que se possa recolher quatro peças, com seus reparos, e o quartel precisa de grande conserto..." - E avalia o conserto de todas as fortalezas em um conto de réis.
  FOTO DE FEVEREIRO DE 1981, A PARTIR DESTA DÉCADA O FORTE DE ITAPEMA/SP ENTRA NUM FRANCO PROCESSO DE DEGRADAÇÃO.

Ao final da primeira década de 1800 assume como Comandante, o Coronel José Antonio de Carvalho. Permaneceu durante 23 anos, deixou o posto em 1833.
Por volta de 1817, de acordo com uma Portaria datada de 22 de Maio e que trazia a assinatura do então Governador e Capitão-general Francisco de Assis Mascarenhas, o Conde de Palma, designa o Segundo-tenente de Engenharia Rufino José Felizardo com a finalidade de dirigir os consertos das fortalezas locais, inclusive da praça do Forte do Itapema:
"(...)Havendo-me representado o Sargento-mor Bento Alberto da Gama e etc... Gov.or da Praça de Santos a percisão que tinha de concertos a Fortaleza da Bertioga, os Quartos da Palamentada de Itapema, e Trincheira, os carretoens da Artilharia, e reparos, e tendo outro sim determinado a Junta da Real Fazenda ao Almoxarife daquella Praça desse logo princípios aos ditos cocertos; Mas convindo para que fiquem mais bem feitos, que elles sejam derigidos por um Official de Engenharia. Ordeno ao 2º Ten.e de Engenheiros Rufino José Felizardo, que sem demora passe a Praça de Santos, e depois de se apresentar com esta Portaria ao Sargento-mor Governador da Sobredita Praça examine os concertos preciosos nas mencionadas Obras debaixo da sua inspecção faça continuar os que já se mandarão fazer, e achar que se necessitão outros, além dos determinados me dê promptamente parte com o seu competente orçamento, para eu determinar o que convier..."
FORTE DE ITAPEMA/SP, INÍCIO DO SÉCULO XXI, CONSUMIDO PELO TEMPO À ESPERA DE RESTAURAÇÃO.

Em 1830 o Marechal Daniel Pedro Muller, no seu 'Ensaio Estatístico da Província de São Paulo' relata que o Forte de Itapema em tempo de guerra apresentava uma guarnição de 01 oficial, 02 inferiores, 08 artilheiros, 24 serventes-artilheiros e 20 soldados de infantaria. Informa ser o Forte um dos poucos da região que poderia aproveitar-se como obras permanentes necessitando "somente pequenas reparações no que respeitava a construção". O Marechal José Olinto de Carvalho (que também exercia o comando) foi encarregado no ano de 1836, pelo Governador da Província, da inspeção do Forte.
VISTA AÉREA DO FORTE DE ITAPEMA/SP, ASSENTADO SOBRE O PINHÃO ROCHOSO QUE DÁ NOME AO LUGAR.

Daniel P. Kidder registra em visita à margem nordeste da Ilha, em Janeiro de 1839 no seu livro 'Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil':
"(...)Logo adiante, do lado oposto surgiu o Forte de Itapema, velha fortificação, já bastante decaída e cuja guarnição se resumia em uma única família..."
Do ano de 1850 é o derradeiro registro dos últimos canhões sobre sua muralha. Nove anos mais tarde passa a função de depósito de pólvora. Um violento incêndio em 1883, quase o destrói totalmente relegando-o ao estado de mais um abandono, enquanto perde sua utilidade como fortaleza.
O FORTE DE ITAPEMA-SP (ANOS 90).

No começo do século XX (1908) erguem Torre no pátio com cerca de 14 metros, sobre as ameias do Forte e instalam holofote elétrico (rebatizam-no então, Farol de Itapema), destinado a orientação naval e prevenção ao contrabando. Ganha a condição de Posto Fiscal da Alfândega e Guardamoria do Porto, através do Aviso de 9 de Setembro de 1905, da Intendência Geral da Guerra.
Durante todo o período da II Grande Guerra Mundial esteve permanentemente mobilizado pelas autoridades brasileiras.
Novo incêndio assola as suas instalações em Dezembro de 1975. Somente no ano de 1981 é tombado pelo CONDEPHAAT. A partir dessa década o Forte entra num franco processo de degradação à espera do restauro. 
Por anos a Historiadora Ruth Passos reivindicou junto as autoridades a restauração do Forte de Itapema. Participou inclusive de um grupo de estudos para o projeto de restauro e escreveu o livro 'Forte do Itapema - Patrimônio Histórico Nacional de Vicente de Carvalho'. Infelizmente morreu em 2001 sem ver concluído o projeto.

2 comentários:

  1. Gostei de tanta riqueza de detalhes históricos! Mais um motivo para eu prestar mais atenção ao nosso Forte do Itapema :)

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  2. Muito interessante o relato desta pesquisa. Parabéns!

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