__________ Itapema, suas histórias... __________

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ALDEIA UNIVERSAL

Conversávamos sob o busto do poeta Vicente de Carvalho, eu e Foina, artista plástico velho conhecido. Ouvidos atentos aos ecos urbanos, a Thiago Ferreira naqueles dias de burburinho, muitas ofertas pelos alto-falantes. Pedestres apinhados no calçadão de olhos nas vitrines. Grupos em torno das mesas mastigando ávidos. Num consumo frenético de sacolas e estômagos.
Estamos sempre discutindo a relação da cidade com a Arte, a Cultura propriamente dita. Da necessidade que os cidadãos deveriam ter de também consumir o "alimento pra cabeça". Parece-nos que não se dá na mesma medida ou quantidade. E a Arte um desses artigos supérfluos. Que com o tipo de consumo supracitado as pessoas perdem longas horas defronte ao espelho, senão naquele infrutífero esforço no banheiro.

[no detalhe da imagem à direita a Av. Thiago Ferreira, próspero centro comercial de Vte. Carvalho - SP]
"- Dizem que as más resoluções são próprias desta cidade..." - Concluí mencionando esta sentença irônica de Aristófanes sobre Atenas. Pois eu considerava os transeuntes ocupados demais pela sobrevivência.
Ele mesmo se dizia decepcionado com o tratamento imposto à Arte nos grandes centros. A ditadura do subjetivo gosto pessoal em detrimento da genuína expressão artística. Me contou de uma determinada ocasião que saiu às galerias apresentando seus trabalhos...
O marchand olhou daqui, admirou-se dali algum tempo boquiaberto. Nenhum o satisfazia. Ora intrigante demais, muito intelectual... Pouco vendável. Eis que pousou o olhar clínico numas folhas com grandes borrões psicodélicos. Sua aprovação foi geral, entusiasmada.
- Você me desculpe, mas estas folhas são onde limpo os meus pincéis. E as utilizei para embrulhar os desenhos. - Interrompeu Foina bastante constrangido.
Enfim fez negócio precisava comer. Sendo as manchas do acaso justamente aquilo que o especialista entendia como arte comercial.

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