O CLONE DO FORTE

Tendo o 'Homem de Dez Mil Anos' partido do Itapema notou que cruzara por baixo de um pórtico. Que lhe lembrou aquele belo farol, onde havia estado na noite da tempestade. Semelhante à aquarela que vira numa moldura no tal bar '&ociedade @lternativa'. Absorto  no seu profundo silêncio ficou-lhe ainda uma derradeira impressão... [na foto acima a réplica inspirada no Forte de Itapema - entrada do Distrito de Vte. Carvalho/SP]

"Deixam ruir o original para venerar a réplica..." - Sorriu entre dentes, mirando aquela beleza arremedada.

Nas suas andanças via muitas coisas deste tipo. Destruíam a natureza pra desfrutá-la no jardim do quintal. Possuir a recordação num quadro de parede pela memória viva do ser concreto. Assassinavam homens de carne e osso para fazê-los heróis  de bronze em praça pública.

Cada vez menos entendia o raciocínio das pessoas. A humanidade já não existe. Suas emoções estão contidas nas telas dos cinemas. Sua história, delírios insanos nas mentes dos artistas. O Homem há de substituir-se a si mesmo por um clone, que viva suas aflições e conflitos.

Não sabia estar certo. A certeza para ele quanto as coisas jamais durava além de alguns minutos... Segundos! E que havendo o sol se erguido este fatalmente declinaria naquele abismo do horizonte.