Que meus baços versos façam-te justiça
Pois tudo, "Poeta do Mar", quanto eu bendiga
Dita o coração servil à pena amiga,
Sendo tua lírica minha vã cobiça.
E aqueles que te fizeram injustiça
Por mal conhecer tão fecunda cantiga,
Embotados pela cegueira inimiga,
Agora para a glória teu nome iça.
Na lama infesta do mangue maculado
Cuja outorga ofusca sublime Arte,
A nódoa ignara da lavra arrevelia.
Que rubricou um muito torpe deputado
Para então, mal investido deslustrar-te
Brilho raro de primorosa Poesia.
BRASÃO DE ITAPEMA/SP [DISTRITO DE VICENTE DE CARVALHO].
Quando nesta terra, outrora Itapema,
Noroeste dessas paragens de Guaibê;
Entre os jundus onde espreita o saruê,
Várzeas nas quais emerge vivo poema.
Sob Decreto oficial que abaixo se lê:
"De acordo com a letra da Lei suprema
Vigora selada por ordem extrema..."
Timbre imprimem conforme acima se vê.
Denomina nossa encharcada planície
Provedor da paz, Distrito artífice;
Alça este seu inerme povo boralho.
E ao trigésimo dia de Dezembro dá fé,
Século XX vigente da Santa Sé,
Ano 53: Vicente de Carvalho.
POSTAL RETRATANDO ITAPEMA/SP - DÉCADA DE 1920.
Chão fértil onde brejaúvas madurecem;
Pendido o guambê pelo matagal entrama;
Engordam fartos os caranguejos na lama;
Viçosos manacás multicores florescem;
As imbaúbas vergas ao vento estremecem.
Se baixa-maré farta robalo na trama;
Siri sob o lodo do estreito esparrama;
Garças pousadas na serutinga adormecem.
Charco esplêndido!... És berço de Itapema.
"Musa Sapiem Tum", nosso dístico emblema
Cujo vate a "lidimar" assim proferiu.
Este é, Poeta, teu desterro... Tua casa.
Que a minha febril imaginação deu asa
E a ti representar a glosa viva incumbiu.
A GENTE BATALHADORA DO DISTRITO DE VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMA/SP].
Quinze rebentos seus trouxe à vida,
Ainda alguns errantes fá-los herdeiros;
Ao santista rejeitam acolhida,
Ele tendo sido um dos pioneiros.
Mas, estimar é coisa escolhida
Tem que arder no peito como braseiro,
Seja um escritor de importante lida
O batismo é que vale primeiro.
Vosso mar o caiçara desconhece,
Mais lascivo que estas águas escuras
Nas quais rede lança no estuário.
O nordestino, este jamais esquece
Nos passos do seu longo itinerário.
VICENTE DE CARVALHO POETA QUE DÁ NOME AO DISTRITO NA ILHA DE SANTO AMARO.
Dos bravios Guaianás tal Augusto descende,
Cedo prova o gládio do destino injusto.
A vida igualmente às rosas tem seu custo,
Guarda espinhos além do aroma que rescende.
Quando vil acidente prega-lhe um susto
Entretanto, com o duro golpe ele aprende,
Honra sua nativa estirpe jamais se rende
E vê antecipar-se a paródia do busto.
Altivo supera a tragédia pesqueira
Sem fisgá-lo ao passado de águas revoltas,
Sai sem um braço, contudo a alma inteira.
Porquanto, o pior duma nefasta existência
É recolher as tristonhas páginas soltas,
Queixar transido uma terrível consequência.
Hábil ourives seria da palavra,
Burila ornato em parcos corações.
Promessa com as musas apalavra -
Tornar fiel suas poéticas emoções.
Fez 'Relicário' de 'Poemas e Canções';
Longe, 'Versos da Mocidade' lavra;
'Ardentias' prima latentes aptidões
Resiste às épocas não azinhavra.
Almeja a grã quimera literária;
Ministro correto, jurisconsulto
Labora de forma extraordinária.
Imortaliza verve excelsa em obra
Daquilo que exerceu não há insulto,
Título de Poeta é qual lhe sobra.
Teu Parnaso fica entre a Thiago Ferreira
Sito à oblíqua esquina da Rua Bahia;
Voltas à praça abrigo da Democracia,
Teu quilombo urbano da causa negreira.
Assistes o povo escravo gozar forria
Vomitando aos teus pés a bebedeira,
Mutilado em busto escapa da sujeira
No findo transcurso medíocre do dia.
Então resta ouvir o trovador da esquina,
Um bronco consumido de paixão voraz -
No ar há lirismo soprado pelo vento!
Deste ébrio noturnal que desafina.
Testemunha a sucessividade fugaz
Ato à paralisia do tormento.
Eu sou heterônimo da tua pessoa
À sombra outonal da aroeira recito.
Transpõe minha estrofe o interior num grito,
Tal qual o teu, meu canto no mar ecoa.
"Viver às claras..." - Teu ideário coroa.
Cessa a musa estranja de ditar o rito,
O Lugar-comum que aos Poetas tem dito;
Tua escrita alma brasilis apregoa.
São tolos aqueles que tem dó do mundo.
Maquilam grotescamente dor deveras,
Quão raso imergem ao sentirem profundo.
Quanto paira sobre mim este anátema,
Esta pretensão de palavras sinceras;
Ser dócil poeta num bairro de Itapema:
E lamenta o oceano com vaga voz,
Enquanto traga a luz do crepúsculo,
Meu clamor na língua em pedúnculo
Pelas sugestões duma esperança atroz.
Crespas cingem as ondas a "Ilha do Sol"...
Escapa à boca rancoroso sarro.
Deste amaro sal cuspo o escarro
A tingir de guaches nuances o arrebol.
São tormentos desta procela frágua,
Cujas vagas de solidão deságua
Salmoura até hostis profundezas.
Entardece neste belo retrato...
Brame minha alma de matiz ingrato,
Embalde distingue sutis belezas.
Verão 2003/04.
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